Recensão Eleitoral

A hora dos capitães

two black cats looking outside a glass window

por Tiago Franco // Janeiro 18, 2022


Categoria: Opinião

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Quando, no fim do debate de ontem, entre todos os partidos com assento parlamentar, a opinião, mais ou menos unânime, de que o Carlos Daniel tinha sido o vencedor, ficamos elucidados sobre aquela hora que jamais recuperaremos.

Começo pelo fim. Pelo momento em que todos se juntaram em amena cavaqueira ainda com as câmaras da RTP3 ligadas. Costa e Ventura. Rui Tavares, Rio, Chico e Catarina Martins. Gosto da civilidade depois do calor do debate. Mas gosto ainda mais da realidade. Pessoas que representam um papel, defendem uma ideologia, demonizam o parceiro do lado. Mas no fim, tal como qualquer um de nós, estão apenas a fazer uma entrevista de trabalho. Neste caso em directo.

Costa levou pancada de todos os lados e aguentou. Meteu-se a jeito com a sua versão de “a história me julgará” e Cotrim aproveitou. Foram dele os momentos mais inteligentes na noite do Capitólio. Para além da habitual venda de unicórnios, aproveitou os poucos minutos disponíveis para atacar António Costa, a falta de clareza na política de alianças e claro, o sempre miserável crescimento económico.

João Oliveira sabe que não está na lista de preferidos, mas explicou, para quem ainda não tinha percebido, como é que se evitou um novo mandato de Passos Coelho. E deixou claro que o PCP voltará a dizer presente.

Já no campo oposto, e sobre este tema, Francisco do mundo rural usou a palavra “bolchevique” e, só por isso, conseguiu mais 7 votos na Quinta da Marinha.

Rio voltou às conversas de café. Calmo, bem-disposto, prático na essência de dizer que se junta com todos. Até com o PS. Sem a chama que nunca teve, portanto, coerente.

Foi Cotrim quem, de facto, fez as despesas da direita no ataque ao governo e à geringonça. O Chico estava entretido com o cheque-farmácia, o Ventura com os que não fazem nada e a Inês fazia contas para perceber onde ficava o centro.

Rio assistia ao espectáculo, pensando, ora aqui está um bom ministro da Economia.

Valeu a António Costa que Rui Tavares estava lá e, ao contrário de mim, ainda acordado. Foi ele que interrompeu a venda no bazar liberal das ilusões sobre o SNS, trocando por miúdos o que significava o exemplo holandês na saúde e como, de repente, poderíamos acabar no caso búlgaro. A chamada roleta da saúde.

Foi também o líder do Livre que tomou as rédeas da esquerda para ripostar.

Os generais descansaram à sombra da azinheira, cansados e com a fita gasta, deixando campo aberto para que os capitães marcassem o seu espaço.

E estes, bem, aproveitaram.

Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


Terceiro episódio da Recensão Eleitoral (18/01/2022) – A hora dos capitães


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