Correio Trivial

As promoções em Portugal 

black and white abstract painting

por Vítor Ilharco // Outubro 18, 2022


Categoria: Opinião

minuto/s restantes


Chegar ao topo das carreiras é o objectivo da maioria dos portugueses.

Pretensão que seria legítima, e de elogiar, se acreditássemos que tal exigiria empenho, talento e muito trabalho.

Só que, também neste campo, o nosso país é diferente.

Em Portugal as promoções raramente se fazem por mérito e, no que toca a funcionários do Estado, nunca esse critério é o essencial sendo substituído pela “antiguidade”.

person standing near the stairs

As promoções são, na imensa maioria das vezes, automáticas e baseadas nesse único preceito.

Um funcionário com 10 anos de carreira, por mais calão, incompetente e acéfalo que seja, atingirá primeiro um lugar de chefia do que um outro com oito anos “de casa” e que seja responsável, qualificado e inteligente.

Vejamos, por exemplo, as nossas Forças Armadas.

Uma tropa fandanga com 27.741 efectivos.

Destes, 49% (13.593) são “Praças” sendo que os restantes 51% (14.148) são Sargentos ou Oficiais.

Os últimos dados, conhecidos, do Ministério da Defesa revelam que estão em efetividade de funções 106 generais, assim distribuídos: cinco almirantes/ generais (quatro estrelas), 20 vice-almirantes/ tenente-generais (três estrelas), 47 contra-almirantes/ major-generais (duas estrelas) e 34 comodoros/ brigadeiro-generais (uma estrela).

crowd walking at sunset

Mais, que aos 106 generais em efetividade de funções, acrescem 114 na reserva, dos quais 40 estão na efetividade de serviço. Ou seja, exercem funções.

Outros países, obviamente menos preocupados com a defesa dos seus territórios, contentam-se com números inferiores. Muito inferiores, alguns deles.

Vejamos: a Espanha tem 28 generais, a França tem 55, o Brasil tem 100 e a Alemanha, 189.

O que me deixou boquiaberto foi o número de generais nos Estados Unidos da América: 31!

Como é que umas Forças Armadas, com 1.390.000 militares, pode ser eficiente com, somente, 31 generais?

A média é de um general para cada 44.838 militares.

O mais certo é que nenhum desses generais se venha a cruzar, ao longo da sua carreira, com a maioria dos militares que comanda!

soldiers in truck

Já as Forças Militares Portuguesas, com os seus 27.741 efectivos, funcionam como uma família.

Um general comanda 261 militares. Deve saber o nome de todos.

Se seguíssemos o péssimo exemplo dos Estados Unidos nem um general poderíamos ter.

Os nossos 27.000 militares seriam comandados, na melhor das hipóteses, por um major.

Tentei perceber a lógica da opção dos Estados Unidos.

A primeira ideia foi a falta de verba para pagar a generais.

Sei que são caros porque os portugueses custam, ao Estado, mais de 14 milhões de euros anualmente.

Fui ver o Orçamento que os americanos têm para as suas Forças Armadas: 706 mil milhões de dólares para o ano de 2022.

Sinceramente, nem sei o que isso significa.

black and gray canon near body of water during daytime

Mas acredito que não seja por falta de dinheiro que não aumentam o número de generais.

Ser militar nos Estados Unidos deve ser deprimente!

Mas não se pense que é só nesta área que tal acontece.

Se estivermos atentos veremos que, por exemplo, qualquer quartel de bombeiros tem mais comandantes, segundos comandantes, chefes e sub-chefes do que bombeiros.

Nas empresas não é diferente.

A TAP tem 11 administradores – e não 79 como espalharam pelas redes sociais – e 94 aviões.

A média não está má, pensaríamos, até sabermos que a Lufthansa tem 6 administradores e 763 aviões.

white and red passenger plane on airport during daytime

Como toda a gente sabe, os germânicos, com a mania de quererem ser superiores, são capazes de trabalhar oito horas por dia sem uma distração, ou uma pausa para o café, e nem sequer compreendem o que é passar pelas brasas depois de um “almoço de negócios” com um uísque velho, para brindar, no final. 

Continuam a trabalhar como se estivessem no século XIX.

Mesmo as nossas micro e pequenas empresas, como diz o “partido das classes trabalhadoras”, são exemplares no modo como tratam os seus funcionários.

Uma empresa “unipessoal” tem a dirigi-la um “sócio-gerente”.

Se tiver um funcionário, ele será o “director de vendas”.

Se tiver dois, o segundo será o “director de compras”.

Um terceiro ocupará o cargo de “director de recursos humanos”.

people sitting on chair in front of computer

Não poder ter um título para poder exibir no cartão de visita é, em Portugal, só por si, motivo para não aceitar um qualquer cargo.

Eu mesmo estou a pensar, seriamente. em exigir, dada a qualidade das minhas crónicas, o cargo de Director-Adjunto do Página Um (dado o respeito que tenho pelo actual Director não pretendo o seu lugar… ainda).

Se estão à espera que passem dez anos para chegar a sub-chefe de redacção, estão muito enganados…

Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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