Correio Trivial

Disparem que é governante!

black and white abstract painting

por Vítor Ilharco // Janeiro 17, 2023


Categoria: Opinião

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Abriu a caça ao Governante no Poder.

As Oposições, é sabido, tentam mostrar as fragilidades de quem governa no intuito de fazer com que os eleitores, num próximo acto eleitoral, mudem o seu voto e lhes dêem o poder.

Tarefa sempre complicada e quase impossível quando se enfrenta uma maioria absoluta.

Então, há que aproveitar todos os falhanços, ampliá-los e discuti-los à saciedade.

Em Portugal vive-se um desses momentos.

city landscape photography during daytime

A Oposição não dá tréguas e raro é o dia em que não apareça com um novo escândalo.

Há que reconhecer que o Governo se tem posto a jeito, com erros que roçam o ridículo, mas a verdade é que é preciso algum atrevimento para se apontarem falhas a adversários políticos, quando rodeados de companheiros conhecidos pelos mesmíssimos erros e falcatruas.

Ouvir, por exemplo, Luís Montenegro criticar o Primeiro-Ministro António Costa por não escolher os membros das suas equipas com critério, minutos depois de tentar explicar a demissão do Vice-Presidente da bancada parlamentar do PSD, uma das suas poucas escolhas, num caso que, inclusivamente levou à prisão preventiva de dois implicados, é bem demonstrativo da desfaçatez de alguns políticos.

Mas esse desplante é generalizado e não há Partido que lhe escape.

No Bloco de Esquerda houve a perseguição a Ricardo Robles, por causa de especulação imobiliária.

No PCP, acusações ao genro de Jerónimo Sousa que seria beneficiado pela Câmara de Loures presidida pelo comunista Bernardino Soares.

No CDS ninguém esquece nem os submarinos de Paulo Portas nem os sobreiros de Nobre Guedes e Telmo Correia.

person holding black binoculars

No PSD há uma infinidade de nomes de ministros e deputados, com as acusações mais diversas, e de gravidade diferenciada, que vão desde uma cunha bem paga a homicídio, passando por desvio de milhares de milhões de euros da Banca e fuga a impostos.

No PS, de autarcas a actuais e ex-membros do Governo, há uma quantidade de gente implicada em processos judiciais.

Percebe-se que a Oposição tente fazer cair um Governo em descrédito.

O objectivo é substituí-los no Poder, repete-se, mas estranha-se que não entendam que também os substituirão no papel de alvos de quem tem, como hobby, ou mesmo como profissão, destruir quem tem autoridade para mandar, mesmo que apoiado em eleições livres e democráticas.

O mais grave em tudo isto é que, quando alguém é denunciado publicamente, com o apoio da comunicação social, passa imediatamente à situação de culpado “sem margem para dúvidas”.

São conhecidas as “certezas” do nosso Povo de que “não há fumo sem fogo” e de que “se é acusado alguma coisa terá feito”.

black and silver dslr camera on brown dried leaves

Há que acreditar, cegamente, na Justiça e só criticar quando se considerar que as penas são “brandas” (desde que não toque nos seus, obviamente).

Mas será assim?

Os números da Direcção-Geral da Política da Justiça dizem o contrário e de modo aterrador:

“As percentagens de absolvição por “carência de prova”, em processos-crime findos em julgamento de primeira instância em Portugal, oscilam entre 40,4 e 48% do total de arguidos não condenados – estes, na sua maioria, por desistência de queixas em crimes semipúblicos ou particulares, segundo os últimos números oficiais disponíveis.”   

Como exemplo indicava-se que, em sete anos, foram absolvidos 154.569 cidadãos, o que dá uma média de 65 por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. De salientar que o máximo admitido por peritos europeus para o total de arguidos não condenados é de 12%.

O mais certo é que muitos dos que hoje são arrastados pela lama virão a ser, amanhã, absolvidos.

Lembram-se de perseguição ignóbil ao ex-Ministro da Defesa (que se viu obrigado a pedir a demissão) Azeredo Lopes? Resultado do seu processo: absolvição.

brown wooden stand with black background

Recordam Fátima Felgueiras que se viu forçada a fugir para o Brasil para não ficar presa preventivamente? Resultado do seu processo: absolvição.

Claro que haverá quem culpe a ineficácia da Justiça que, no entender de muitos, falha sempre que absolve ou condena com pena “pequenas”.

O grande problema do nosso País é que, para além de se adjectivarem os políticos como corruptos, lhes paga como funcionários de segunda.

Resultado: os Governos, e o Parlamento, têm muitos dos seus lugares preenchidos por gente incapaz, imatura, populista, vaidosa e incompetente.

Com os resultados que se conhecem.

Se pelo menos “disparássemos” (*) sobre esses…

(*) Sentido figurado, claro. Fica o alerta para quem é alérgico à ironia.

Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


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