RUI ARAÚJO: CADERNO DOS MUNDOS

O veneno nosso de cada dia

shallow focus photography of strawberries on person's palm

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A segurança alimentar é uma preocupação actual e legítima. As substâncias químicas invadiram a nossa alimentação e estão na origem de muitas das doenças mais comuns dos dias de hoje. A comida que consumimos contém inúmeros ingredientes perigosos para a saúde.

Em 2011, Rui Araújo e a sua equipa de reportagem da TVI foram ver o que se passa com os alimentos, nas hortas à beira das estradas, na agricultura intensiva, nas mercearias de bairro e nos hipermercados.

Mandaram analisar dezenas de produtos alimentares e os resultados são surpreendentes.


O cenário é bucólico, mas, lá ao fundo, do outro lado do prado verdejante, está o IC-19, uma das vias mais movimentadas da Europa. Liga Sintra a Lisboa.

À beira da estrada, as hortas ilegais ocupam os taludes. Os remediados e os pobres do império — os mesmos de sempre — cultivam, aqui, tudo e mais alguma coisa.

Tenho couve, tenho ervilha, tenho um bocadinho de cebola, tenho… — diz Manuel Semedo, horticultor improvisado.

A prioridade é satisfazer as necessidades primárias.

É bom para comer. É muito bom para comer. É… Isto é uma ajuda importante porque em vez de a gente andar a comprar e tendo no campo, dá para comer. Dá para o consumo da casa…

Para muitos a sociedade de consumo é, no fim de contas, mais uma miragem do que outra coisa. As hortas de estrada contrastam com a aparência de prosperidade e de abundância generalizadas.

 — Uns, é para comer, que as reformas são poucas. Outros, é para vender. E outros são os que vêm roubar aquilo que os outros estão a cultivar. É isso que se passa, mas não é de agora. É de há muito tempo… — explica-me Álvaro Campos, morador, aqui, da área.

Mas o engenho acarreta perigos. As couves galegas do IC-19, mas também as da Segunda Circular, da A-1 e da A-8 são perigosas para a saúde. Contêm teores elevados de chumbo e de cádmio..

Os metais pesados — um dos principais problemas de poluição ambiental na cidade de Lisboa — são inalados e entram, por outro lado, na cadeia alimentar já que são absorvidos pelas plantas através das folhas e das raízes.

A situação de metais pesados nas hortas urbanas é preocupante. Verificámos teores nos solos de metais como o crómio e o níquel, chumbo e cádmio elevados e prejudiciais para a saúde pública. — considera Hugo Silva, investigador do ISEL.

O Instituto Superior de Engenharia de Lisboa monitoriza desde 1998 a presença de metais pesados em cinco pontos da capital.

O choupo, uma árvore de folha caduca particularmente resistente, foi o primeiro bio-indicador da poluição na capital.

Em 2006 achámos interessante estender este estudo a folhas de couve de hortas de beira de estrada. Posso dizer, em termos concretos, que determinámos teores de chumbo entre quatro a 10 vezes superiores àqueles previstos nas recomendações legais. — afirma Nelson Silva, investigador do ISEL.

Os resultados das análises do ISEL são assustadores. Os valores legais são largamente ultrapassados, designadamente no IC-19 com um excesso de chumbo de 390%. Na Segunda Circular, o panorama é ainda mais preocupante: 1.025% a mais.

A horta mais contaminada da capital é esta. Fica em Pedrouços, junto à Marginal e à bomba de gasolina. Os teores de chumbo e de outros metais pesados rebentam com as escalas.

Há então, que regular um bocadinho essa prática de hortas urbanas, garantindo que são realizadas em locais que não apresentam perigos para a população. Ou seja: que as pessoas possam cultivar aí os seus legumes, o que é uma prática sustentável e muito louvável, mas também os possam comer em segurança. Portanto, sem correrem riscos de saúde. — declara Manuel Matos, outro investigador do ISEL.

O problema é justamente esse. E as surpresas continuam à medida dos estudos. O ISEL comparou as couves galegas das hortas urbanas às da agricultura biológica vendidas nos supermercados. Os resultados das análises das couves biológicas do comércio são surpreendentes. Os metais pesados excedem em 153% os valores autorizados. Apenas garantem a ausência de pesticidas…

«Não evitam a presença de poluentes transportados atmosfericamente nem a absorção pelas plantas de poluentes presentes nos solos como é o caso dos metais pesados.»

As conclusões são do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa.

A indústria agro-alimentar e os grandes supermercados são, hoje, os principais responsáveis da comida contaminada que ingerimos. A variedade e a profusão actuais deixaram de significar qualidade. E muito menos saúde e bem-estar. Mandámos analisar dezenas de alimentos, aqueles que consumimos diariamente. As conclusões do laboratório são melindrosas, mas já lá iremos.

Nós passámos de hábitos alimentares, que eram determinados sobretudo por aquilo que são os ciclos da natureza. Havia a época do tomate, a época da ervilha, a época de cada fruta, e isso condicionava e determinava as nossas escolhas alimentares. Hoje, não. Hoje, as crianças já não descascam ervilhas na casa dos avós. Hoje, as ervilhas é algo que se tira de um pacote do congelador e que se come. E, portanto, esta abundância de alimentos, esta disponibilidade o ano inteiro — alimentos de todas as partes do mundo —, fez com que o nosso padrão alimentar se alterasse. Nós temos acesso a todos os alimentos a preços cada vez mais acessíveis e isso, como é óbvio, não só modificou as nossas escolhas mas a forma de produzir esses alimentos. — diz o nutricionista Rodrigo Abreu.

Telheiras, Lisboa.

Mais uma sessão de esclarecimento no atelier de nutrição. O exercício proposto, aqui, é comporem uma refeição equilibrada e saborosa.

Rodrigo Abreu, nutricionista.

O que é que nós já estamos a ver? Que alimentos do mesmo grupo, vamos evitar misturar. Vamos evitar misturar o arroz com as batatas ou as batatas com a massa… O célebre bitoque com o ovo também vamos evitar misturar. O ideal seria nestes grupos escolhermos uma opção de cada… — aconselha o nutricionista.

A preocupação desta gente é justificada. Uma alimentação saudável e equilibrada é essencial — comer bem para viver melhor, mas não chega.

A resposta que se encontrou até agora, que a nossa civilização encontrou até agora, foi aquilo que chamamos os regimes intensivos, que recorrem a adubos, a químícos, mas também discute-se muito hoje a manipulação genética e outras formas de conseguir produzir mais alimento com menos recursos. Esse foi o caminho que nós seguimos até agora. Claro que chegados a este ponto e com muita da informação que nós temos acesso, hoje em dia, é legítimo questionarmos se este é um caminho a seguir, que outras alternativas é que há e que vias é que nós, enquanto consumidores, poderemos exigir quer à indústria, quer aos governos, quer à agricultura… — conclui o nutricionista Rodrigo Abreu.

A produção agro-alimentar e não só coloca questões sérias de saúde pública. No espaço de 20 anos o número de cancros em Portugal aumentou 735%. Os dados são do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os cancros estão a aumentar em todo o Mundo. Em Portugal também, é evidente. Nós temos várias razões. A primeira: aumentou muito a esperança de vida, isto é, as pessoas ficam cada vez mais velhas. O cancro, apesar de tudo, é uma doença das pessoas idosas. Melhorámos muito a nossa capacidade de diagnosticar cancros e, portanto, hoje em dia identificamos cancros que há aqui 15, 20 anos passavam desapercebidos. E depois, estamos convencidos que houve de facto uma modificação dos factores ambientais não genéticos. Isto é: nós, geneticamente somos o que éramos. Não mudámos nos últimos 50 anos. Houve factores ambientais que mudaram o Mundo. Mudou, por exemplo, a exposição ao Sol. E o Sol é muito bom, mas o cancro da pele aumentou extraordinariamente em todos os países desenvolvidos porque as pessoas se expõem mais ao Sol. Aumentou a obesidade e a obesidade é um factor associado à alimentação e, no fundo, a bebidas calóricas, etc. Aumentou porque nós, hoje, utilizamos muitos produtos quer na agricultura quer, por exemplo, nos cosméticos que são produtos que modificam as hormonas e que são, directa ou indirectamente, causadores de cancro. — considera o médico Manuel Sobrinho Simões.

Manuel Sobrinho Simões, médico.

A prevalência da pré-obesidade, do excesso de peso nas crianças portuguesas que atinge uma em cada três, é, hoje, uma das mais elevadas da Europa. A informação é da Plataforma Contra a Obesidade da Direcção-Geral da Saúde. Principais causas apontadas: níveis reduzidos de actividade física e padrões alimentares inadequados. A alimentação está na origem do desenvolvimento de muitas maleitas.  

A alimentação das mulheres grávidas é muito importante para a formação dos bebés, nomeadamente os embriões e os fetos, que são extraordinariamente frágeis, em que as estruturas se formam em determinadas idade-chave, e se a mãe ingerir certos químicos que passam através da barreira feto-placentária, sobretudo aqueles que têm efeitos semelhantes aos das hormonas, essas alterações podem-se tornar definitivas. Podem, inclusivamente, dar origem a cancros, podem dar origem a malformações sexuais, podem dar origem a obesidade, podem dar origem a diabetes, podem dar origem àquilo que agora está na moda, que são a hiperactividade e o défice de atenção das crianças… — acrescenta Maria José Janeiro, médica pediatra.

Os químicos também estão associados à diabetes, doença de Parkinson e de Charcot.

«E aqui está: às sementes seleccionadas se ficam a dever muitas das searas magníficas espalhadas por esta terra de Santa Maria, que constituem um regalo para os olhos, aumentam as colheitas dos agricultores e são bons produtos de abastança para o povo português.»  

In Documento cinematográfico do tempo de Salazar

A lavoura já não é o que era. E os agricultores são as primeiras vítimas.

Idalécia Ferreira era operária numa exploração de São Teotónio, Brejão. Era, porque foi obrigada a reformar-se aos 35 anos de idade por causa dos químicos. Foi em 1986.

Idalécia Ferreira

Trabalhei nos morangos, no tomate, no melão. Depois fiquei doente por motivos das químicas, que andaram com o helicóptero a dar as químicas por cima de nós. Eles diziam para nós fugirmos, mas quando diziam já não dava tempo porque o avião era mais rápido. E quando a gente sabia, já estávamos a ser atingidos. Depois começávamos com dores de cabeça fortes. Sentir mal. Tínhamos que acabar por ir lá para uma casinha que eles lá tinham, não é? Outras vezes para o hospital. E pronto. A partir daí nunca mais tive um dia de saúde. Tive que ir para Lisboa. Fiz vários exames em Lisboa. Foi-me detectado que era das químicas. Só respiro de um pulmão. E também tenho problemas de fígado. — lamenta-se a mulher.

Idalécia Ferreira  não é um caso isolado. Há explorações que contaminam impunemente os solos e as águas e dão cabo da saúde das pessoas com fitofarmacêuticos, incluindo produtos químicos proibidos há décadas. E não estamos a falar de empresas de vão de escada. Uma multinacional aplicou em meados de 1997, pelo menos, um produto ilegal numa exploração de agricultura intensiva do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.  

Tive acesso aos documentos confidenciais do crime ecológico. E não só…

«Confirmamos a aplicação de formalina no nosso campo perto de Azenha do Mar. Semelhante produto é susceptível de provocar graves problemas para a saúde pública, bem como efeitos muito nocivos na qualidade das condições ambientais.»

Um autarca de Aljezur, que solicitou o anonimato, entregou-nos esta folha dactilografada. Denuncia crimes ecológicos, fraudes e compadrio, passados e actuais.

«UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS PROIBIDOS EM PORTUGAL PARA DESINFECÇÃO QUÍMICA DOS SOLOS.»

«COLAGEM DE RÓTULOS SOBRE OS RÓTULOS DE ORIGEM NAS EMBALAGENS DE PRODUTOS QUÍMICOS.»

«QUANDO ALGUMAS EMPRESAS SÃO FISCALIZADAS PELOS COMPRADORES ESTRANGEIROS HÁ PRODUTOS QUE ANTECIPADAMENTE SÃO DESLOCADOS PARA FORA DA ÁREA DA EMPRESA.»

«CRIAÇÃO DE EMPRESAS SÓ COM FUNCIONÁRIOS ADMINISTRATIVOS SÓ PARA OBTER FUNDOS COMUNITÁRIOS.»

Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. O lixo amontoado, os mamarrachos very-típicos e a agricultura intensiva poluem impunemente a paisagem e o resto. O novo plano do Parque é controverso.

Isto é um plano de eco-palpites. É um plano de eco-patetices. E, na verdade, é. O que se espera também de um plano do Parque Natural é que corrija alguns problemas ambientais que o próprio Parque tem: a agricultura intensiva. O relatório ambiental do plano do Parque diz que a agricultura intensiva é desastrosa para a protecção dos valores naturais. Curiosamente, este plano vem incentivar mais a agricultura intensiva. — afirma Manuel Marreiros, presidente da Assembleia Municipal de Aljezur.

As explorações agrícolas, aqui, proliferam à medida dos investimentos financeiros e do aumento da mão-de-obra escrava também ela de fora, mas o mais preocupante neste cenário terceiro-mundista em pleno Parque Natural é a saúde pública.

As pessoas, é assim, vão morrendo aos poucachinhos, que não notam. É a falta… aquela pressão que nos encontra dentro. Não é aquele ar que a gente respirava antes. Eu acho que é isto que nos sente. Nós sentimos o que não sentíamos antes: aquele ar que a gente tomava e que, hoje, não existe… — testemunha António Dias, um reformado da região.

Manuel Marreiros, presidente da Assembleia Municipal de Aljezur.

Estes documentos confidenciais do ministério português da agricultura ilustram a deriva da agro-pecuária, ontem como hoje.

Documento da Direcção Geral de Veterinária – Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas

«FOI REALIZADA UMA COLHEITA DE FÍGADO DE BOVINO NO MATADOURO XXX EM TOMAR.»

«OS MESMOS TÉCNICOS DESLOCARAM-SE AO MATADOURO XXX EM LEIRIA, ONDE RECOLHERAM A OUTRO BOVINO UMA AMOSTRA DE URINA PARA IDENTIFICAÇÃO.»

«AS AMOSTRAS REVELARAM RESULTADO POSITIVO A CLEMBUTEROL NA PESQUISA A RESÍDUOS DE AGOSNISTAS BETA-ADRENÉRGICOS.»

«A DETENÇÃO DE ANIMAIS PORTADORES DESSAS SUBSTÂNCIAS ESTÁ INTERDITA.»

O Clembuterol é um estimulante poderoso do crescimento muscular, dá mais carne, retém quantidades anómalas de água. Dá, portanto, mais rendimento. É proibido dar esta substância a animais para consumo humano. Tolerância Zero. E entende-se. É perigoso para as pessoas. Provoca taquicardia, dores de cabeça, náuseas, dores musculares e pode matar: tromboses, ataques do coração e cancro, sobretudo dos órgãos genitais.

Em Portugal, as primeiras intoxicações ocorreram em finais da década de 90, em Ourém.

Dez pessoas internadas por causa da carne de borrego.

Depois, foi em Aveiro. Uma família inteira intoxicada com fígado contaminado (com uma concentração de clembuterol “verdadeiramente preocupante) e mais tarde em Coimbra. Pai e filha deram entrada nos serviços de urgência dos Hospitais da Universidade. Tinham ingerido iscas de vitela com clembuterol.

O processo corre termos no Tribunal Judicial das Caldas da Rainha.

Mas há mais: O proprietário de uma exploração do concelho de Borba administra ilegalmente nitrofuranos – furaltadona aos coelhos que cria e engorda antes de os vender. Esta substância foi proibida na Europa já lá vão 10 anos!

A Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC) considera que é um agente potencialmente carcinogénico para humanos.

Punição: uma simples coima.

A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) descobre numa sociedade agrícola da Rexaldia (Torres Novas) bovinos com substâncias beta-agonistas ou, por outras palavras, com anabolizantes. É criminoso administrar anabolizantes a animais de exploração, incluindo para aumentar  a massa muscular e diminuir a gordura.

Mas nos químicos é que está o ganho. Mais coimas em perspectiva…

Uma inspectora (médica veterinária) da Direcção-Geral de Veterinária identifica num matadouro da Trofa porcos acabados de chegar de Montemor-o-Novo com anabolizantes, obviamente proibidos.

Em causa, um crime contra a saúde pública, um crime doloso contra economia e ainda um crime de fraude sobre mercadorias.

Mais uma coima…

A ameaça é real. Mesmo assim, o consumo de carne de suíno continua a aumentar, em detrimento da de bovino, mais cara. A ausência de escrúpulos e o sentimento de impunidade caracterizam a produção de carne em Portugal. A ausência de maturidade e de sentido crítico dos consumidores agravam a dimensão do problema.

A Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto efectua há mais de três décadas trabalhos de investigação na área alimentar.

Para analisar a composição de 15 alheiras de caça comercializadas o laboratório recorreu à PCR — a reacção em cadeia da polimerase —, uma técnica revolucionária de biologia que permite replicar segmentos específicos de ADN. Os resultados são peremptórios: 100% de adulterações.

A Faculdade de Farmácia do Porto não descobriu uma única alheira de caça com um rótulo correcto e uma nem sequer rótulo tem.

Duas etiquetas indicam alheiras com faisão. É falso.

Um rótulo refere a presença de lebre. É mentira.

Cinco mencionam a presença de perdiz, mas isso só é verdade num caso.

Sete rótulos referem a existência de pato, mas em três pato nem cheirá-lo. Em contrapartida, todas as alheiras de caça têm carne de porco, mas nem todas o referem.

Fomos, portanto, às compras. Ver para crer…

Escolhemos um cabaz com parte daquilo que os portugueses consomem diariamente.

É o primeiro retrato jamais realizado no país da exposição alimentar às substâncias químicas.

Mandámos analisar a presença de metais pesados, de pesticidas e de micotoxinas no pão, queijo, arroz, atum, salmão, alface, tomate, alhos, pimentos, nabos, maçãs, peras, morangos e azeite num laboratório acreditado pelo Instituto Português de Acreditação (IPAC), que usa tecnologia de ponta.

Os resultados dos ensaios — dois tipos de cada produto — revelam que um pão de cereais e maçãs da Grande Distribuição ultrapassam os limites impostos pela lei. A sua venda é proibida. Os pesticidas abundam.

Estes compostos —Cimoxanil, Ciproconazol, Ciprodinil, Ciromazina, Clofentezina, Clorfenvinfos, Clorpirifos, Clorpirifos-metilo, Clortolurão, Diazinão, Diclorvos, Difenoconazol, Diflufenicão, Dimetoato, Dimetomorfe, Diurão, Epoxiconazol, Espinosade, Espirodiclofena, Fluquinconazol, Flusilazol, Fonofos, Fosalona, Fosfamidão, Fosmete, Heptenofos, Hexaconazol, Hexitiazox, Imazalil, Imidaclopride, Indoxacarbe, Iprodiona, Iprovalicarbe, Isoproturão, Linurão, Malatião, Mecarbame, Mepanipirime, Metacrifos, Metalaxil-M, Metamidofos,… — são desreguladores endócrinos e nefrotóxicos. Atacam os rins e provocam cancro…

Mas vamos por partes.

Os teores de Pirimifos – Metilo são, portanto, 500% superiores ao limite legal permitido para as sementes de linho.

É ilegal vender este pão.

Estas maçãs de origem nacional que comprámos no mesmo hipermercado contêm metais pesados, insecticidas, fungicidas e sobretudo Carbendazime.

CARBENDAZIME NAS MAÇÃS:

0,30 mg/Kg — ultrapassa em 150% o limite máximo permitido por lei.

É ilegal vender esta fruta.

O ATUM:

O SALMÃO:

O salmão contém quatro metais pesados e apresenta vestígios de DDT, um pesticida proibido em Portugal desde 1988. Pode provocar cancro!

DDE (um derivado cancerígeno do DDT), Terbutilazina (um herbicida) e HCB (um fungicida).

Não procurámos PCB e dioxinas, mas este estudo da rede internacional Health and Environment Alliance, divulgado há escassos meses confirma a sua presença no salmão.

A lista dá para pensar…

ARROZ BASMATI:

No arroz basmati encontrámos Micotoxinas e Triciclazol — um fungicida proibido em Portugal e no resto da União Europeia.

AZEITE:

Nas duas garrafas de azeite de marcas diferentes detectámos Oxifluorfena, um herbicida.

PERAS:

MORANGOS:

Aquilo que está aqui em causa não é a quantidade de químicos na cadeia alimentar (metais pesados, pesticidas, herbicidas, dioxinas, fungicidas e aditivos como o antioxidante BHA ou os corantes desnecessários), sem contar com os outros contaminantes (PCV, Bisfenol A —BPA —, compostos PVDF, PVC, Micotoxinas, etc.).

O perigo é o cocktail de moléculas, o impacto da exposição permanente a substâncias quase indetectáveis de diversas origens.

É a combinação insidiosa de venenos, mesmo em doses homeopáticas. A toxicidade aumenta com a interacção.

É inevitável ingerir venenos, mas podemos resolver o problema. Dar uma volta e variar a nossa alimentação. E assim variamos os venenos e damos tempo ao nosso organismo de se libertar deles. Outra situação: muitas vezes não é necessário grande poder económico. É usar os peixes da nossa costa: sardinha, carapau, cavala. Os estudos feitos na nossa faculdade indicam-nos que é um produto que não está contaminado com metais pesados. Também não tem indicadores de contaminação como os PAH (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos) e são um tipo de alimento económico e agradável e saudável por causa das gorduras Omega 3. — sugere Beatriz Oliveira, investigadora da Universidade do Porto.

Diversificar os alimentos para reduzir os perigos sanitários é a solução para quem pode. Compete ao Estado emitir recomendações, designadamente, para proteger os mais vulneráveis e incitar, por outro lado, os produtores a alterarem radicalmente as suas práticas. Viver mata, mas é possível reduzir os riscos em matéria de alimentação. Pelo menos, podemos tentar…

(As fotos que ilustram esta reportagem foram obtidas por captura a partir de imagem de Rui Pereira/TVI – 2011)


Reportagem originalmente emitida no programa “Repórter TVI” a 12 de Setembro de 2011.

Imagem de Rui Pereira e montagem de Carlos Lopes.

Nota: Os dois links que a TVI disponibiliza com esta reportagem não permitem o seu visionamento, aparecendo, em vez da reportagem que passou na TVI, uma mensagem de erro em ambos os links.


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