Editorial de Pedro Almeida Vieira

Quo vadis, PÁGINA UM?

boy singing on microphone with pop filter

por Pedro Almeida Vieira // Novembro 28, 2024


Categoria: Opinião

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O PÁGINA UM caminha para o seu terceiro aniversário, no próximo dia 21 de Dezembro, atingindo este mês o seu período de maior impacte. Ainda faltando dois dias para o término do mês, e publicando agora a nossa edição quinzenal, ultrapassámos já, neste período de 28 dias, um total de mais de 550 mil visualizações.

Registámos uma notícia com mais de 305 mil leituras, um recorde que constitui um número impressionante mesmo na imprensa mainstream, e isto com uma notícia que teve impacte nulo nos outros órgãos de comunicação social, o que é revelador do estado da imprensa e do desvio do foco dos assuntos mediáticos. Temos conseguido consistentemente diversas notícias com impacte, como se verificou recentemente com o ‘furo’ conseguido pelo jornalista Frederico Duarte Carvalho, que fotografou o ministro da Defesa e o Almirante Gouveia e Melo a entrarem num bar num furtivo encontro nocturno.

Editorial

Mas essa é a parte visível do PÁGINA UM. Os ‘bastidores’ não são tão idílicos, porque, numa estrutura tão pequena, qualquer imponderável, qualquer investigação mais dificultosa, qualquer processo em tribunal – e ainda ontem tive de me deslocar ao DIAP para prestar declarações por um aditamento a uma queixa da actual ministra da Saúde, Ana Paula Martins (que tem á sua disposição uma das firmas de advogados mais caras do país, a Morais Leitão) –, qualquer tentativa soez de nos difamar, causa enormes dificuldades logísticas e financeiras.

Mesmo sem qualquer receio – orgulho-me de não ter jamais recusado abordar qualquer tema –, a pressão é, contudo, constante, pois numa redacção com recursos tão limitados, cada obstáculo tem o potencial de desviar o foco do essencial: investigar, informar e publicar com rigor e independência.

Cada deslocação, cada novo dado a verificar, cada exigência burocrática ou legal representa tempo e esforço que, numa grande redacção, poderiam ser diluídos por uma equipa alargada. Aqui, no entanto, não: tudo recai sobre um núcleo reduzido, onde cada jornalista acumula múltiplas funções e enfrenta desafios que vão muito além do mero trabalho editorial. Acresce ainda que, fruto do nosso trabalho, cada vez nos chegam mais denúncias, esperanças de que possamos abordar temas que os outros calam ou subvalorizam. Arrisco que a nossa incapacidade humana de dar resposta se confunda, aos olhos desses leitores, com indiferença. Não é: e por cada denúncia que não posso confirmar, há um lamento e uma certa frustração.

Caros leitores, a independência jornalística tem um custo – e esse custo não é apenas financeiro, é também humano, logístico e emocional. No PÁGINA UM, lutamos todos os dias para trazer a verdade até vós, enfrentando desafios que muitas vezes nos colocam à beira do impossível. Não temos grandes grupos económicos por trás, nem interesses políticos a ditar o que publicamos. Mas isso também significa que dependemos cada vez mais dos leitores, apenas dos leitores, do seu apoio, da sua confiança, para continuar a ser a voz livre que te informa com rigor e coragem.

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Hoje, mais do que nunca, a pergunta impõe-se: para onde vai o PÁGINA UM? Quo vadis? A resposta está nas suas mãos. Num mundo da comunicação que se desmorona e descredibiliza, se acredita na importância de um jornalismo independente, sem medo de questionar o poder, ajude-nos a resistir e a crescer. Temos conseguido até agora sobreviver – mas sobreviver não é viver nem é crescer, e para atingirmos objectivos não basta fazer ‘cócegas’, não se mostra produtivo entrar num desgaste cíclico. Por isso, cada vez mais, desafiamo-nos a crescer, mas isso apenas se alcança com o seu contributo, o único garante para que continuemos a investigar, a denunciar, a informar.

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