Vértebras

O circo Ómicron: das variantes ao absurdo

Vértebras

por Pedro Almeida Vieira // Novembro 30, 2021


Categoria: Opinião

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De repente, uma nova linhagem (variante) do SARS-CoV-2 foi detectada, em 11 de Novembro, e o Mundo entrou em redobrada histeria. Com “nome científico” de B.1.1.529, rapidamente esta linhagem, originária da África do Sul e Botswana, lançou nova vaga de pânico, até nos mercados internacionais, justificando encerramento de fronteiras e maiores restrições.

Num ápice, a variante foi baptizada Ómicron pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – estatuto apenas reservado para linhagens consideradas perigosas e ou de preocupação –, pese embora não existam ainda estudos nem conclusões sobre se estamos perante um maior risco de transmissibilidade e de letalidade.

Na verdade, em declarações à BBC, a médica sul-africana Angelique Coetzee, a primeira pessoa a identificar as mutações da variante Ómicron, já referiu que os doentes apresentavam sintomas ligeiros.

Indiferente a este cenário, a África foi logo marcada como um berço de novas variantes – perigosas, claro –, apontando-se como causa a baixa taxa de vacinação naquele continente.

Curiosamente, na Europa, os Governos e a imprensa de muitos países têm estado a apontar as armas para os não-vacinados, classificando-os de “reservatórios potenciais” de mutações do SARS-CoV-2. Estão mesmo a ser implementadas maiores restrições aos não-vacinados (incluindo os recuperados), numa clara política de discriminação.

Mas, pretendo agora, de forma muito breve, desmistificar uma falsa ideia sobre as mutações do SARS-CoV-2. De facto, a comunicação social induz que as mutações são um fenómeno raro e relacionadas com factores como o processo de vacinação ou estados de desenvolvimento, e que as linhagens ou variantes são em número reduzido, pelo que quando aparece uma, então as coisas ficam mal.

Vamos a factos. A OMS apenas seleciona algumas variantes, nomeando-as por letras gregas. Muito poucas. Ou, diria mesmo, quase nenhumas. Por isso, somente conhecemos, umas mais do que outras, e além da agora famosa Ómicron, a Alpha (detectada no Reino Unido, em Fevereiro de 2020), a Beta (na África do Sul, em Março de 2020), a Delta (na Índia, em Maio de 2020), a Eta (de origem geográfica indefinida, em Março de 2020), a Gamma (no Brasil, em Janeiro de 2020), a Iota (em Nova Iorque, em Janeiro de 2020), a Lambda (no Peru, Chile, Estados Unidos e Alemanha, em Julho de 2020), a Mu (na Colômbia, em Outubro de 2020), a Theta (nas Filipinas, em Janeiro de 2021) e a Zeta (no Brasil, em Abril de 2020). Portanto, são apenas 11.

Mas são assim tão poucas as mutações e as linhagens? Claro que não. Segundo o sistema internacional de nomenclatura das linhagens do SARS-CoV-2, centralizado no site cov-lineages.org, foram já identificadas 1.794 linhagens distintas em todo o Mundo. Repita-se: 1.794 linhagens.

A Ómicron (B.1.1.529) é apenas a mais recente, mas com estranhas honras de pular para as parangonas da imprensa e da própria OMS. Com efeito, a variante Alpha demorou cerca de 10 meses desde a sua identificação até ser baptizada com a letra grega (sinal de preocupação), a Beta nove meses, a Delta 11 meses, a Gamma 12 meses e a Mu 10 meses. As variantes Eta, Iota, Theta e Zeta deixaram de constar na lista da OMS como de preocupação ou de interesse.

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E o que sucedeu com a variante Ómicron? Ora, decidiu-se logo dar-lhe um trampolim: em menos de duas semanas foi identificada e transformou-se num “ai Jesus”. Ainda nem sequer se conhece uma pessoa que tenha morrido com essa nova variante. É obra! Ao fim de se detectarem 1.794 variantes, há uma que, antes sequer de matar alguém, salta para a ribalta mundial, criando uma onda de pânico antes de constituir um perigo real.

Na verdade, a história das variantes – e as suas origens e causas, que são múltiplas e desconhecidas em toda a sua dimensão – mostram sobretudo como a opinião pública tem vindo a ser manipulada pelos Governos, auxiliados diligentemente pela Imprensa e por alguns “peritos” com agendas próprias, e acompanhados todos por uma indústria farmacêutica diligente, na sombra.

A mais recente moda de apontar ao continente africano a causa de novas variantes devido às baixas taxas de vacinação carece de justificação. Indicar que os países menos desenvolvidos possam ser “berços” de mutação, também carece de qualquer rigor científico. Efectivamente, sobre essa matéria, a Europa tem siso o berço de centenas de variantes. E, curiosamente, até mesmo em Portugal: de acordo com o registo internacional atrás referido, já foram identificadas 20 linhagens do SARS-CoV-2 com origem no nosso país, a saber: AJ.1; AM.1; AY.124; AY.22; AY.5.1; AY.5.2; B.1.91; B.1.135; B.1.1.88; B.1.1.394; B.1.1.401; B.1.1.410; B.1.1.421; B.1.177.32; B.1.177.72; B.1.177.85; B.23; B.44; C.16; e Y.1.

Portugal é um país de apenas 10 milhões de habitantes num planeta com mais de 7 mil milhões.
Mas isso não interessa nada, não é? O Circo Ómicron está montado. And the show must go on. Até quando?


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