Silenciar pelo ostracismo, através da censura popular, e não pela opressão policial, é o sonho húmido do autoritarismo.
Eric Clapton lançou há três meses uma música de protesto sobre a gestão da pandemia: “This Has Gotta Stop” foi, porém, ostracizada, e rapidamente se quis desenterrar supostos males e defeitos do músico britânico. A generalidade dos músicos – receosos de perder os benefícios do marketing num mundo que se tornou agora politicamente correcto e sem questionar o poder – não me surpreendeu.
Por exemplo, em Portugal a dependência de músicos e outros artistas dos subsídios e contratos com o Estado e autarquias é medonha.
Não admira assim que, perante a “mensagem oficial” e o ambiente de um “unanimismo artificial”, e imposto pela imprensa mainstream, uma parte se auto-silencie, enquanto a outra se auto-eleva ao estatuto de “fariseus dos costumes”, ou “de samaritanos da hipocrisia”, dando bordoada pública (porque em público vale a dobrar) em quem ergue a cabeça para dizer nem que seja um “mas…”.
Todos estes “nogueiras de pacotilha” conseguiram, durante a pandemia, manter os seus “financiamentos” para fazer “coltura da TV, da rádio e da cassete-pirata”, e ainda receberem medalhas de bom comportamento cívico.
Os muitos poucos que dizem “mas…”, e os raros que agora clamam por mais do que “mas…”, têm pedras por caminho.
Mas a estratégia de “silenciar” os músicos rebeldes ou incómodos mostra que, afinal, o poder tem muito receio das suas consequências. A mensagem de uma canção entra sem filtros, matraqueia, faz pensar.
Isto a pretexto de “Jornalixo”, do rapper Estraca, que, com uma mensagem sibilina mas muito directa, dá “murros” ao jornalismo, ao poder, e a nós todos.
Em quatro dias conta já com 130 mil visualizações e está em 4o. lugar nas tendências musicais do YouTube em Portugal.
Claro que a imprensa mainstream vai ignorá-lo, e é isso mesmo que fará a sua mensagem passar, e começar a fazer mais pessoas pensarem por elas.