Não pode, ou não deveria pelo menos, o Diário de Notícias, ou a sua directora Rosália Amorim, invocar a independência deste centenário jornal, e depois expor uma vassalagens pornográfica ao poder político e empresarial no dia do aniversário.
Está lá tudo na reportagem da efeméride: o Diário de Notícias “homenageou Carlos Moedas”, “distinguiu o vice-almirante Gouveia e Melo”, “agraciou Joe Biden” (o homem deve estar fora de si de contente), e houve ainda “mensagens do Presidente da República” e de um ministro de um Governo de gestão.
O conceito de independência ao poder é aqui similar à evocação da castidade como estilo de vida pelos clientes num bar de alterne.
E, ó deuses do sétimo céu, independência com uma festa de aniversário onde nem faltaram os patrocínios da Altice, Fidelidade e Santander? Terão os cheques sido entregues por administradores vestidos de Melchior, Gaspar e Baltazar?
Talvez. Não sei. Não confirmo. Nas fotografias da festança não deu para identificar muita gente, por graça do patrocínio da empresa Portuguese Mask, que já agora tem à venda um Winter Pack bem catita para a época natalícia…
Não sei bem se as festas do Diário de Notícias no tempo do Salazar tiveram tanta subserviência ao poder político e tanta bajulação ao capital.
Dúvidas também possuo sobre se as gentes e os dirigentes editoriais da Global Media estão apenas em dissonância cognitiva, ou se afinal estão apenas a tentar mudar o conceito de independência, transmutando o real sentido do termo para o oposto –como muitos fizeram, por exemplo, com palavra “despoletar”, que significando retirar a espoleta de uma granada, afinal nada desencadeia, porque sem espoleta não há explosão.