O PÁGINA UM está a nascer. Gostava assim, ao formalizar o lançamento oficial deste novo jornal, de agradecer a cada um de vós, simples leitores ou apoiantes, a possibilidade que me deram em desenvolver um projecto jornalístico em tempos tão desafiantes.
O PÁGINA UM tem todos os ingredientes para correr mal.
E muitos para correr bem.
Para correr mal, porque começa sem um forte investimento – geralmente de empresas, que garantem, por regra, um “nascimento” desafogado. E assume também o PÁGINA UM que não terá publicidade de qualquer género nem parcerias com empresas ou com entidades da Administração Pública. E ainda manifestando que os conteúdos são abertos. Tudo isto contribui para uma “morte prematura”.
Mas tem muito também para correr bem: os leitores. E a minha independência. A independência ao serviço dos leitores. Não tenho mais a quem devo satisfazer, e a quem dar satisfações. É isso que desejo. Será o paraíso do jornalismo íntegro.
O PÁGINA UM é e será sempre um projecto sui generis. Começa com uma equipa minúscula, e não quer crescer demasiado: na verdade, para já, apenas conta comigo, por agora, como jornalista sénior. Mais virão, prometo, se as condições, e os leitores, o permitirem. Pode parecer pouco como cartão de visita.
Mas não será. Os leitores terão a oportunidade de assim conferirem. E de irem vendo também crescer as secções ao longo das próximas semanas: entrevistas, cultura e ambiente. Aliás, a marca FORUM AMBIENTE, antigo título de boa memória (onde, por sinal, iniciei a minha actividade jornalística em redor de 1995), foi por mim agora adquirida, e será a denominação dessa secção.
O desejo do PÁGINA UM é crescer, mas não dar passos em direcção ao jornalismo actual. Dará pequenos, mas seguros passos, sim, tentando reabilitar a ligação de confiança entre leitores e imprensa, e mantendo a essência da independência; demonstrando que um jornalista só, ou um só jornalista, pode fazer a diferença, pode fazer muito. Sobretudo, esse pouco deve mostrar muito daquilo que é, e deve ser, a essência do jornalismo.
Não me sentindo o último dos moicanos – seria demasiado presunçoso –, tenho com o PÁGINA UM a oportunidade única de indagar os leitores, talvez a sociedade portuguesa, se é (ainda) possível a total independência do jornalismo. Por esse motivo, serei especialmente crítico ao modelo seguido pela imprensa generalista, e sobretudo à perda dos valores deontológicos de muitos jornalistas. Se me apresto para denunciar aquilo que está mal, como não denunciar jornalistas que não prestam? Não fazer isso seria uma atitude corporativista, a antecâmara de muitos vícios privados.
Um jornalismo independente dependente dos leitores: este será o slogan do PÁGINA UM. A pensar nos leitores.
A enorme vantagem da independência do PÁGINA UM é ter a capacidade de garantir, perante os leitores, uma absoluta liberdade na cobertura editorial. Limitada pela capacidade humana, mas não por interesses obscuros.
Porém, não se seja ingénuo: sei bem que em Portugal, pelo menos, haverá pouquíssimas excepções – se é que existe alguma – de projectos jornalísticos completamente independentes e com sustentabilidade financeira.
A sustentabilidade financeira do PÁGINA UM basear-se-á nos leitores – naqueles que já deram contributos, pontuais mas generosos, e de uma grande diversidade, desde finais de Outubro, e envolveu algumas centenas de pessoas.
Continuará, espero, nos próximos tempos, no futuro. Até sempre. Ou até os leitores julgarem que me desviei do propósito inicial, e de me deixarem de acompanharem, de apoiarem o PÁGINA UM.
Até lá, dêem-me oxigénio, e o PÁGINA UM continuará a respirar. A ser uma aragem, ou uma tempestade, aquilo que for necessário, para assim contribuir para uma sociedade mais decente. É essa, sempre foi essa, a função do jornalismo.