Recensão Eleitoral

As contas de dia 31

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por Tiago Franco // Janeiro 21, 2022


Categoria: Opinião

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Sempre que se fala em sondagens ouvimos dois chavões, um clássico e outro mais recente, consoante os interlocutores. “Sondagens são apenas sondagens”, diz quem normalmente vai atrás. Ou “lembrem-se do Moedas!”, quando queremos prevenir um falhanço catastrófico das empresas que fazem os estudos.
Ainda assim, com o PS a descer nas intenções de voto e o PSD a subir, será interessante olharmos para o mapa parlamentar que se vai formando.

Segundo a última sondagem (CESOP para a Universidade Católica e Público em 20/1/2022), o PS pode aspirar a um máximo de 110 deputados, sendo que Livre e PAN não ultrapassarão, em conjunto, o número de quatro deputados. Isto quer dizer que António Costa não terá a maioria absoluta sem se entender com PCP ou BE.

É curioso verificar que, apesar do desaparecimento do líder (Jerónimo de Sousa) e da estratégia utilizada pelo PS para atingir a maioria absoluta (diabolizar os companheiros da geringonça), o PCP, segundo esta sondagem, não é muito castigado. No melhor cenário perderá apenas três deputados.

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Pessoalmente, acho que a entrada de João Oliveira na campanha foi uma lufada de ar fresco positiva para o partido. Por outro lado, já se sabe que o eleitorado do PCP é fiel e não se dá a grandes indecisões. Já o BE, mesmo com a votação máxima prevista, perderá pelo menos 11 deputados. Uma pequena hecatombe. Ainda assim serão decisivos para uma maioria de esquerda.

À direita o cenário é ligeiramente mais complicado. Segundo os dados recolhidos, o PSD pode chegar aos 100 deputados, IL aos seis e o CDS aos dois. Mesmo contando com a boa vontade do PAN, Rui Rio não alcançará a maioria sem o Chega. É aqui que a democracia treme um bocadinho e o populismo e as ideias do século XIX ganham um novo fôlego.

Desde Junho de 2021 que o Chega tem vindo a descer nas intenções de voto (de 9% para 7%, dados Marktest), ainda assim, mesmo depois das prestações deprimentes de André Ventura nos debates, apresenta-se a poucos dias do acto eleitoral em boa posição para ser a terceira força.

A boa notícia é que nenhuma sondagem atribui uma maioria absoluta ao PS. A pior coisa que poderíamos ter na nossa, sempre frágil e dada a desvios, democracia, era vermos os boys instalados e sem controlo, na distribuição dos dinheiros da bazuca.

A má nova é que, a História ensinou-nos, a sede de poder do PSD pode levar a uma segunda parte do acordo dos Açores e, de repente, termos um governo com pastas ministeriais distribuídas por um partido unipessoal, racista e xenófobo.

Rio não fechou essa porta, apenas a IL e o CDS a encerraram à direita.

Já António Costa, que partiu para isto com algum excesso de confiança, deve ter percebido entretanto que o apelo à maioria com a narrativa de que os parceiros de geringonça seriam os culpados por algo que todo o parlamento votou, também já caiu por terra.

Hábil como é, vai obviamente entender-se com o PCP. João Oliveira abriu essa porta no último debate e, se há dançarino que não perde um tango, é António Costa.

Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


Sexto episódio da Recensão Eleitoral (21/01/2022) – As contas de dia 31


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