Recensão Eleitoral

Reflectir em voz alta

two black cats looking outside a glass window

por Tiago Franco // Janeiro 28, 2022


Categoria: Opinião

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Uma vez que o dia se presta a tal, resolvi reflectir. Coincidentemente coloquei essas reflexões numa folha de papel e espero, com esse gesto, não ferir susceptibilidades ou sequer incorrer em ilegalidades. A justiça é fulminante em Portugal, nem pensar em meter-me em tais alhadas.

A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que, afinal, corri o risco de ter votado quase em branco. Não sendo eu um eleitor do centrão (eu sei, ninguém adivinhava) e podendo o namoro entre Costa e Rio dar casamento, ficam os pequenos partidos numa situação de quarta roda num sidecar. Ali a roçar a inutilidade.

Alguns saudosos da AD falarão em estabilidade, outros, lembrando-se da bazuca, percebem que este cenário deixa a raposa a tomar conta do galinheiro. Ou, explicando de uma forma mais visual, os boys a distribuírem o dinheiro pelas sequiosas clientelas.

O facto de nem Costa, nem Rio, atormentados pelas sondagens, fecharem a porta a um entendimento entre eles, deixa-me algo inquieto. Os líderes de PS e PSD chegaram ao último dia de campanha sem fecharem a porta a qualquer entendimento, à esquerda, ao centro e à direita. Confesso que, numas eleições com a particularidade destas, esperava entrar no dia de reflexão sabendo os cenários possíveis. Assim, votamos todos sem saber bem em quê.

Outra nota de destaque em dia de reflexão vai para o cordão sanitário estabelecido por António Costa na direcção do Chega, pela mão cheia de nada de Rui Rio sobre uma eventual coligação e, pior, pela tentativa algo ridícula dos comentadores da CNN, ontem, fazerem uma operação Javisol, lava mais branco, no partido de André Ventura.

Rui Rio assumiu que não levará o Chega para o Governo mas que poderá negociar um acordo. Ventura já disse que só valida um governo do PSD se for ministro. O que faz todo o sentido, num partido unipessoal que serve, essencialmente, a ambição de Ventura, independentemente da ideologia necessária. Se para a semana as redes sociais se indignarem com pokemons, Ventura cavalgará na onda do Pikachu, se isso lhe valer mais alguns votos. O homem quer ser ministro de qualquer coisa, não quer defender ideias. Até porque não as tem.

Na CNN compara-se esta teimosia (de deixar o Chega fora de acordos de governação) com a geringonça entre PS, PCP e BE. Dizia um rapaz por lá, cujo nome não me lembro, por que razão não pode Rio negociar com a extrema-direita, mas Costa pode fazê-lo com a extrema-esquerda? Bom, a resposta a isto é relativamente simples. Primeiro porque não existe extrema-esquerda no parlamento. Existe esquerda.

Depois porque PCP e BE, por mais divergências que tenham em temas económicos, europeus ou de Estado Social, não são partidos xenófobos, racistas e contra a Constituição da República. No fundo, a realidade é que, por mais lixívia que se passe na bandeira do Chega, não há maneira de tirar aquele mofo da década de 30 do século passado. E deixá-los longe de qualquer centro de decisão era o mínimo que um democrata deveria querer.

Por fim, lembrei-me das próprias sondagens que saíram ontem, a habitual tracking poll da CNN e a da SIC/Expresso, com resultados ligeiramente diferentes, que deixam no ar a extinção do CDS, com zero deputados, tal como Livre e a redução do PAN para apenas um.

Pergunto-me, num país onde habitualmente metade da população não vota, seja porque é dia de praia ou por puro desinteresse, que fiabilidade devemos colocar nestas sondagens? Por outro lado, que influência terão os 10% da população que, em casa, estão confinados por causa do covid? Quantos votarão?
Veremos domingo.

Engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


Décimo terceiro episódio da Recensão Eleitoral (28/01/2022) – Reflectir em voz alta


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