NOVIDADES LITERÁRIAS

Estante P1: Fevereiro de 2022

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por Pedro Almeida Vieira // Março 6, 2022


Categoria: Cultura

Temas: Estante P1

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Título

Conta-me como foi

Autor

Rui Cardoso

Editora

Casa das Letras

Sinopse

Na História de Portugal, encontramos mitos para todos os gostos. Desde a escola náutica de Sagres que nunca existiu, ao pioneiro Viriato, que, em boa verdade, andou mais pela Andaluzia do que pela Serra da Estrela. Já para não falar da padeira de Aljubarrota, tão façanhuda como insubstancial.

As inverdades e mentiras na nossa História são, elas próprias, uma história sem fim, que se estende até tempos bem mais recentes. Ainda hoje há quem acredite que, em 1975, Portugal esteve à beira de uma guerra civil e que só a vitória das forças democráticas no golpe militar de 25 de Novembro desse ano reconduziu o pais ao bom caminho.

Só que esta tese é tão historicamente informada como dizer que Portugal começou com um filho a bater na mãe… Viajemos, pois, ao encontro dos mitos da Historia de Portugal.

Título

Um amor incondicional

Autor

Francine Rivers

Editora

ASA

Sinopse

Califórnia, 1850. Um lugar e uma época impiedosos em que os homens vendem a alma por um punhado de ouro e as mulheres vendem o corpo por um lugar para dormir.

Angel era apenas uma criança quando foi vendida como prostituta. Rapidamente aprendeu a não esperar nada de ninguém… apenas traição. Ao longo dos anos, o único sentimento que a tem alimentado é o ódio por todos os que lhe roubaram a inocência e a deixaram com um irreparável vazio interior.

Um dia, porém, conhece um homem diferente de todos os outros. Michael Hosea busca o divino em todas as coisas e vê em Angel algo que nem ela própria se permite ver. Michael ama-a incondicionalmente e, aos poucos, vai conquistando um lugar cada vez maior no seu coração.

Mas com a chegada inesperada desse amor, Angel é tomada por sentimentos incontroláveis de medo e desprezo por si mesma. Há muito que aceitara não haver salvação para a sua alma devastada. Resta-lhe fugir de volta para a escuridão do mundo em que cresceu.

Título

Um cão deitado à fossa

Autor

Carla Pais

Editora

Porto Editora

Sinopse

Uma serração. Dois irmãos. Dois pesos e duas medidas. A um deles, o mais frágil, o pai tudo dá. Ao outro, reserva toda a sua indiferença e despeito. E entre o barulho da serra, que não para nunca, e o silêncio do pai, cresce Urbano, atrás da sombra da mãe, que se verga, submissa, ao marido.

O homem e a mulher. O macho e a fêmea. O pai e a mãe. O papel de cada um nesta «ruralidade fechada nos seus próprios fantasmas» a que Carla Pais empresta a voz, num romance que, em última análise, lança uma luz sobre a incapacidade de se ser feliz. 

Título

A América e os americanos

Autor

John Steinbeck

Editora

Porto Editora

Sinopse

John Steinbeck foi um escritor comprometido com o seu tempo, atento à política, às mudanças sociais, ao mundo à sua volta. Durante trinta anos, a par dos seus famosos romances, escreveu vários trabalhos curtos de não ficção, que foram sendo publicados em jornais e revistas no seu país e no estrangeiro, e através deles construiu um singular registo de uma era.

A presente antologia reúne mais de cinquenta destes textos, desde artigos que serviram de inspiração para o célebre romance As Vinhas da Ira até ao último livro que publicou, A América e os Americanos, de 1966. 

Nestas páginas preciosas encontra-se o olhar do jornalista, cobrindo a Grande Depressão norte-americana, a Segunda Guerra Mundial, o Vietname; o testemunho do cidadão, preocupado com o ambiente, com a pobreza, com o racismo; as confidências de um homem, refletindo sobre os lugares onde viveu e recordando os amigos queridos.

A América e os Americanos e Outros Textos é um retrato essencial de John Steinbeck e um documento inestimável para melhor compreender o seu país.

Título

Doce amargura

Autor

Paul Lapperre

Editora

Casa das Letras

Recensão

Doce Amargura: Vida e morte do império açucareiro Hornung na Zambézia (1888-1988) é a história da Sena Sugar Estates e da aliança anglo-portuguesa entre John Peter Hornung (Pitt) e Laura de Paiva Raposo que lhe deu origem.

John Peter Hornung, um ousado jovem inglês de origem húngara, introduziu, no final do século XIX, o cultivo comercial da cana-de-açúcar no Baixo Delta do Rio Zambeze, numa aventura pioneira de criação de várias plantações de açúcar, que se pautou pela introdução de maquinaria industrial, novas técnicas, investigação e modernização das práticas agrícolas, lançando as bases para aquela que acabou por se tornar não apenas na maior empresa açucareira de Moçambique, mas também numa das maiores do mundo.

Numa história que cobre 100 anos da história de África e da Europa, a Sena Sugar Estates evoluiu ao longo de décadas alcançando vitórias e sofrendo contrariedades; e convivendo com as políticas económicas e sociais de Portugal e Moçambique que mediaram os finais do século XIX e a I Guerra Mundial; com o Estado Novo e as políticas mercantilistas e coloniais desenvolvidas por António de Oliveira Salazar; a Grande Depressão; a Segunda Guerra Mundial; a Guerra Colonial e o alvorecer da liberdade na África Portuguesa; e o conflito RENAMO-FRELIMO, até à destruição do sonho de Pitt Hornung.

Título

Strindberg – neste Mundo fui apenas um convidado

Autor

Cristina Carvalho

Editora

Relógio d'Água

Recensão

Strindberg: neste Mundo fui apenas um convidado é o novo romance biográfico de Cristina Carvalho, desta feita sobre o escritor sueco August Strindberg, autor de peças como Menina Júlia e de romances como O Salão Vermelho.

Título

Pirilampos

Autor

Ricardo Gil Soeiro

Editora

Assírio & Alvim

Sinopse

Um pirilampo e uma mão humana: o gesto luminoso e o ato de criação. Será a carcaça do inseto que se metamorfoseia, ou o corpo do ser que se transhumaniza? Pirilampos é a estreia poética de Ricardo Gil Soeiro na Assírio & Alvim, um livro que tenta responder à questão fundamental: "Quem foi que deixou os pirilampos acesos?"

Título

Pensamento Branco

Autor

Lilian Thuram

Editora

Tinta da China

Sinopse

Este livro conta a história do pensamento branco, da sua origem e do seu funcionamento, da forma como cria divisões e se espalhou pelo mundo até se tornar universal, ao ponto de contaminar o próprio ar que respiramos.

O pensamento branco é, há séculos, uma norma, uma fossilização de hierarquias, de esquemas de dominação, de hábitos que nos são impostos. Diz aos brancos e aos não‑brancos o que devem ser, qual o lugar que ocupam.

Tal como o longo domínio dos homens sobre as mulheres, o pensamento branco está profundamente enraizado nas nossas mentalidades e manifesta‑se quotidianamente. É fundamental que o questionemos se queremos avançar para outro paradigma.

Não se trata de culpabilizar ou de acusar, mas sim de compreender os mecanismos do pensamento branco, de estarmos conscientes e construirmos novas formas de solidariedade. Não estará na hora de alargarmos os nossos pontos de vista para nos considerarmos todos, finalmente, seres humanos?

Título

Bons sonhos

Autor

Anders Roslund

Editora

Porto Editora

Sinopse

Um banco habitualmente vazio, num cemitério… Ewert Grens, o solitário polícia, costuma ali sentar-se sempre que a vertigem da realidade se torna demasiado alucinante até para um velho e duro superintendente da polícia aguentar.

Porém, numa dessas ocasiões, uma mulher senta-se junto dele. Está ali por causa de uma criança, enterrada numa campa sem nome.

Uma campa vazia.

Grens sente-se chamado a investigar não só este misterioso desaparecimento como um outro, ocorrido no mesmo dia. Ambas as meninas tinham apenas quatro anos. E a segunda está prestes a ser declarada oficialmente morta.

Tentando perceber como é que os dois casos estão relacionados, Grens implora, uma vez mais, auxílio a Piet Hoffmann, que se recusa terminantemente a sair da reforma – até que um detalhe importante o desvia das suas melhores intenções.

Forçados pelas circunstâncias a trabalharem de novo juntos, Grens e Hoffmann penetram no mais sombrio e abjeto reduto da criminalidade, naquele que constituirá um teste radical às suas capacidades profissionais – e à sua humanidade.

Título

O Delírio Nazi

Autor

Heather Pringle

Editora

Casa das Letras

Sinopse

Heinrich Himmler, o segundo homem mais poderoso da Alemanha nazi, estava convencido de que a ciência ignorava os feitos heroicos de uma raça primordial: os arianos.

A convicção do líder das SS, povoada por homens e mulheres louros e de olhos azuis, não passava de pura fantasia – mas era inabalável.

Em 1935, Himmler fundou um instituto de investigação no âmbito das SS destinado a produzir alegadas provas arqueológicas dessa e de outras ficções do III Reich: o Ahnenerbe.

Para alcançar o objetivo, que mais não era do que reescrever a história da Humanidade, o arquiteto da Solução Final recrutou uma mistura bizarra de aventureiros, místicos e, também, mais de uma centena de respeitáveis cientistas e académicos alemães.

 As finalidades de tão excêntrica missão, que passaria por expedições a lugares como o Tibete, o Iraque ou a Finlândia, eram decididamente políticas – e, como não tardaria a verificar-se, teriam efeitos criminosos a uma escala até então impossível de conceber.

Título

Teorias da Conspiração

Autor

Fernando Neves

Editora

Oficina do Livro

Sinopse

As histórias mais inacreditáveis, os seus protagonistas e as suas origens. Neste livro vamos tentar encontrar explicações sobre o que são, quem são os seus protagonistas e, sobretudo, como se propagam estas Teorias da Conspiração, feitas de histórias mais ou menos fantasiosas que são passadas de boca em boca e que têm atravessado gerações, marcando a nossa forma de ver o mundo.

Atribuir a origem de um determinado problema a uma entidade externa, a um ser inatingível, invisível aos nossos olhos, é muitas vezes uma solução, na falta de outras explicações mais simples. Procurar alguém em quem colocar as culpas de tudo o que de mau acontece à nossa volta é altamente tentador.

A explicação mais simples é sempre a mais provável, como dizia a escritora Agatha Christie, mas nem sempre uma explicação é satisfatória ou vai ao encontro do nosso imaginário, podendo mesmo não contemplar uma resposta que permita compreender ou solucionar o dilema, o que leva à criação de teorias mais e menos imaginativas.

Título

Mortal e rosa

Autor

Francisco Umbral

Editora

Tinta da China

Sinopse

Em Mortal e Rosa, uma surpreendente e terna elegia à infância, Francisco Umbral evoca a morte de seu filho. Desde a inóspita revelação da perda, o escritor constrói um longo monólogo em que a morte do filho converte o seu pesadelo humano numa força catártica e libertadora.

Umbral procura o reencontro na evocação e cada sensação narrada é um superar da existência inerte, cada objecto uma desculpa para a reflexão: “…cadeiras de verga infantil, espreguiçadeiras graves, cavalos de crina celeste perguntam por ti…”.

Com “…esta corporalidade mortal e rosa onde o amor inventa o seu infinito” – verso de Pedro Salinas que preludia este texto – o escritor aborda uma cantata de beleza e originalidade máxima, que transborda todos os rancores, porque, como assinala numa frase que bem poderia glosar a obra: “O filho é um relâmpago de futuro que nos deslumbra por um instante. Por ele, pelo meu filho, vi mais além, mais fundo e mais longe, e talvez, aí, isso me baste”.

Título

Quando o tempo parou

Autor

Ariana Neumann

Editora

Penguin Random House

Sinopse

Quando era criança, Ariana Neumann gostava de brincar aos detectives. Na ausência de mistérios verdadeiros para resolver, começou a observar secretamente o pai, Hans Neumann, um brilhante industrial e filantropo que acordava à noite a gritar numa língua desconhecida.

Numa caixa que o pai lhe deixa depois de morrer, Ariana encontra um documento de identidade com a fotografia dele quando jovem, mas com o nome de outra pessoa.

Essa é a primeira pista sobre um homem que nunca falou do seu passado. Ariana decide ir à procura das suas raízes, descobrindo a origem judaica do pai e as memórias chocantes que ele escreveu quarenta anos depois de fugir de uma Praga ocupada para se esconder, sob uma identidade falsa, no epicentro do poder nazi: Berlim.

Abrangendo quase noventa anos e dois continentes, este é um livro inesquecível sobre resiliência, esperança e amor no meio da tragédia.

Título

A Cláusula Familiar

Autor

Jonas Hassen Khemiri

Editora

Penguin Random House

Sinopse

Duas vezes por ano, um "pai que também é avô" regressa à Suécia para cuidar dos seus interesses e visitar a filha e o filho, que abandonou. Este avô é uma pessoa difícil, ocasionalmente preconceituosa, constantemente crítica, e a sua visita parece ser mais motivada por questões práticas do que por afeto: um acordo tácito vincula o filho a ocupar-se dele a cada regresso e a manter um apartamento em seu nome, para assim ele poder escapar-se aos impostos no seu país de origem.

 Mas agora que este filho se tornou também pai, debatendo-se com o cansaço de uma licença de paternidade, a sua vontade é libertar-se dessa cláusula familiar. Também a irmã, já mãe e novamente grávida, está a contas com a vida. Serão dez conturbados dias de visita que obrigarão cada um dos membros desta família a enfrentar os fantasmas do passado e as tensões do presente.

Escrito com humor e um olhar atento, A Cláusula Familiar é o retrato divertido, doloroso e verdadeiro das relações familiares nas nossas sociedades modernas e multiétnicas, nas quais um forte desejo de individualismo se conjuga com os valores ancestrais de identidade e pertença.

Título

História de uma fraude

Autor

E. Lockhart

Editora

ASA

Sinopse

Imogen é herdeira de uma fortuna, uma cozinheira talentosa e uma hábil impostora.

 Jule é atleta, uma lutadora e um fascinante camaleão social.
Entre elas, há uma amizade intensa. Quase obsessiva. O verão que passam juntas é feito de revelações e mistérios.

Mas isso foi antes… Agora, alguém desapareceu. Algo de fundamental mudou. E uma rapariga brilhante vive em segredo o seu Sonho Americano.

A autora do inesquecível Quando éramos mentirosos brinda-nos agora com um romance de suspense psicológico – a história de uma jovem que se recusa a ser quem em tempos foi.

Título

Breve História do Afeganistão de A a Z

Autor

Ricardo Alexandre

Editora

Oficina do Livro

Sinopse

Com uma linguagem simples e directa, o jornalista Ricardo Alexandre explica-nos o complexo puzzle afegão num livro que resulta de uma pesquisa intensa, de diversas entrevistas e do trabalho do autor enquanto repórter no terreno.

Recuando a tempos imemoriais, mas focando-se essencialmente no tumulto constante das décadas mais recentes - desde o golpe que derrubou a monarquia de Cabul em 1973 ao regresso dos Talibãs já em 2021, passando pela ocupação soviética e o consequente advento dos mujahedin nos anos 80 - Breve História do Afeganistão é um documento elucidativo que nos ajuda a compreender um país fascinante, profundamente marcado pela guerra e com uma importância estratégica fundamental.

Título

A última curva do caminho

Autor

Manuel Jorge Marmelo

Editora

Porto Editora

Sinopse

Retirado do fragor apressado da capital e das obrigações mundanas, um velho professor jubilado prepara-se para morrer. Olhando a ruína da casa dos avós a partir da última curva do caminho que ali conduz, recorda o garoto que foi e tudo o que lhe sucedeu depois: o triciclo que teve em África, a primeira bicicleta, o charco dos girinos, os livros que escreveu e as mulheres que amou.

Partindo de uma pícara lenda familiar e do lento mergulho nas coisas do passado, o catedrático Nicolau Coelho constrói uma narrativa íntima e nostálgica, durante a qual não deixa de ponderar, com certa ironia, sobre a intolerável velocidade das coisas do presente, como a da chamada inteligência artificial.

Mais do que um romance, A Última Curva do Caminho constitui um acto de resistência e um manifesto em defesa da lentidão, da liberdade individual e do direito à eutanásia, com um enredo marcado pelo processo de envelhecimento, pela doença, pela solidão e pela perplexidade diante da inevitabilidade da morte.

Título

Festa pública | Orlando em tríptico e aventuras | Rainhas cláudias ao domingo

Autor

Virgílio Martinho

Editora

Companhia das Ilhas

Sinopse

O singular percurso literário de Virgílio Martinho ficou marcado pela relação próxima que teve com Mário Cesariny e com o “movimento surrealista” do Café Gelo nas décadas de 50 e 60 do século XX (Alexandre O’Neill, António José Forte, António Maria Lisboa, Cruzeiro Seixas, Herberto Helder e Mário-Henrique Leiria outros).

Em 1958, publicou a novela, de pendor fantástico, Festa Pública, na colecção “A Antologia em 1958”, dirigida por Cesariny Mário Cesariny. O apodo de “surrealista”, que ainda hoje muitos teimam em lhe colar, tem aqui um momento marcante. Na mesma linha, seguiram-se os contos de Orlando em Tríptico e Aventuras (1961), e, noutro registo, Rainhas Cláudias ao Domingo (1972) – três títulos que se reúnem neste volume com que a Companhia das Ilhas inicia a publicação das obras de Virgílio Martinho.

Em 1970, deu início a uma vertente que se tornará dominante na sua obra, o teatro, com a publicação da peça Filopópulus, na revista Grifo (texto encenado por J. Benite em 1973), seguiram-se dezenas de outros no Grupo de Teatro de Campolide, actualmente Companhia de Teatro de Almada.

Virgílio Martinho resistiu, com uma bonomia desconcertante, a modas, escolas e movimentos. Quem conviveu com ele lembrar-se-á sempre do seu riso casquinado, cerveja numa mão e cigarro noutra. É isso. Agora, deitamos novas luzes sobre os seus textos. Palcos novos para uma obra que será sempre livre.

Título

Almanaque dos espelhos | Os segredos da Jacinta | Brinquedo electrónico essencial

Autor

Manuel João Gomes

Editora

Companhia das Ilhas

Sinopse

É, pois, muito natural que no caleidoscópico Almanaque dos espelhos publicado em 1980 - e que inaugura este presente volume - esteja muito presente todo esse lastro anterior, bem como as marcas inconfundíveis de uma erudição esclarecida que convoca a inspiração de autores aparentemente díspares para os colocar em diálogo. Entre si e com o próprio, a pretexto de umas variações narcísicas.

Os Segredos da Jacinta traz-nos tudo isso, e mais alguma coisa: porventura um acentuado tom de paródia. Esta sátira do nosso sátiro é publicada em 1982, o ano em que o Papa veio a Fátima (sem revelar o terceiro segredo) em missão de agradecimento por haver sobrevivido a um atentado cometido no ano anterior, em Roma, por um extremista turco - para sobreviver a novo atentado em solo português, desta vez cometido por um padre extremista espanhol. E também o ano em que o porta-contentores Tollan, naufragado em pleno Tejo em Fevereiro de 1980, continua de quilha voltada para o céu mesmo em frente ao Terreiro do Paço, agora já volvido em inédita atracção turística e em parque de estacionamento para gaivotas. Não admira assim que a Jacinta encontre por ali o Peixomem, como o leitor verá.

Curiosamente foi entre a publicação de um e outro volume, mais exactamente em 10 de Junho de 1981, que ocorreu a tragédia do pequeno Alfredo Rampi. Um caso inolvidável. A RAI esteve em directo durante 18 horas consecutivas, com audiências recorde, o presidente italiano deslocou-se ao local, sucederam-se os voluntários e as tentativas de resgate, mas a cada nova tentativa o pequeno Alfredo apenas caía mais e mais. E aí temos o mote do Brinquedo electrónico essencial (abreviatura de um título consideravelmente mais extenso, como se descobrirá na ocasião) que foi publicado em 1985 e remata este tríptico com glosas, e até personagens, dos volumes anteriores, por entre esquiroletas, serpentelos e sapombas.

Título

A liberdade dos futuros – ecorrepublicanismo para o século XXI

Autor

Jorge Pinto

Editora

Tinta da China

Sinopse

Outrora sinónimo exclusivo de emancipação, a ideia de liberdade tem sido corrompida por uma visão que a concebe apenas como não-frustração e não-limitação — uma concepção egoísta que deve ser contestada.

Este livro recupera, à luz dos desafios do século XXI, a ideia republicana de liberdade enquanto não-dominação. E propõe uma política ecorrepublicana que promova o florescimento humano através da construção de uma república não dominadora e ecologicamente sustentável.

Título

Beber pela garrafa

Autor

Cláudia Lucas Chéu

Editora

Companhia das Ilhas

Recensão

Beber pela garrafa é o quinto livro de poesia de Cláudia Lucas Chéu. Encontra-se dividido em duas partes: Consanguinidade e Bastardia.

A primeira parte, é composta por narrativas poéticas de temática familiar; e a segunda, por poemas de amor e desgosto, na ambiência da metrópole e do subúrbio.

Título

Poemas em prosa

Autor

Stéphane Mallarmé

Editora

Assírio & Alvim

Sinopse

Os textos que aqui se traduzem configuram a primeira parte de Divagações, livro publicado em 1897.

Nestes escritos a que o autor gostava de chamar "poemas críticos", ou "anedotas", a linguagem, ritmo e prosódia de cada palavra comunicam entre si.

Partindo da narração de episódios tão poéticos quanto prosaicos – um passeio de coche em direcção a uma feira, o som de uma palavra e suas sombrias analogias –, Mallarmé, nunca nomeando directamente o objecto da sua reflexão, mas aludindo aos seus matizes e atmosfera, coloca o papel activo de decifrar as imagens de cada historieta no próprio leitor.

Caberá a ele fruir das longas frases que invertem a sua ordem natural e se desdobram numa lógica sinuosa, absorvendo lentamente a música e o sentido desta poesia.

Título

O caminho do burro

Autor

Paulo Moreiras

Editora

Visgarolho

Sinopse

O Caminho do Burro é uma antologia dos melhores contos escritos por Paulo Moreiras, entre 1996 e 2017, que andavam dispersos por diversas publicações, algumas hoje esquecidas ou de difícil acesso.

Contos onde o picaresco e a malícia do povo português andam de braço dado com as invejas e as cobiças de gente ruim e sem escrúpulos. Uns à procura de uma vida melhor, do amor, da amizade e outros a engendrar estratagemas a fim de estragar os bons planos do vizinho.

Um retrato irónico, mordaz e cheio de humor sobre as grandezas e misérias de ser português, com os seus toques de malandro, pinga-amor e desenrascado. Tudo embrulhado pela riqueza vocabular a que Paulo Moreiras já nos habituou. Contos para comer, beber e rir por mais, que assim se dizem as verdades.

Título

A afirmação negra e a questão colonial

Autor

Mário Domingues (coord. José Luís Garcia)

Editora

Tinta da China

Recensão

Foi em 1919, há mais de um século, que Mário Domingues publicou num jornal o seu primeiro texto em defesa dos negros, intitulado "Colonização".

Jornalista, cronista, escritor, nascido em S. Tomé e Príncipe, atento ao activismo do movimento negro por todo o mundo, foi construindo a partir daí, e até 1928, uma precursora obra de «rebeldia negra» na imprensa em Portugal.

Este livro recupera a maioria dos textos de Mário Domingues, injustamente esquecidos, onde este escreve, muito à frente do seu tempo, sobre a condição dos negros, o racismo e a colonização, denunciando de forma arrojada preconceitos e discriminações, e expondo corajosamente a violência do colonialismo e de todas as formas de subjugação.

Além disso, José Luís Garcia, que reuniu estas crónicas, apresenta-nos um ensaio introdutório sobre a obra, a vida e o contexto de Mário Domingues, "um dos maiores símbolos da passagem do negro de uma condição de subalternidade na sociedade portuguesa para autor da sua vida", e um verdadeiro "antecessor da afirmação negra".

Título

Vidas seguintes

Autor

Abdulrazak Gurnah

Editora

Cavalo de Ferro

Sinopse

Após fugir da aldeia onde nasceu, numa região fustigada pela pobreza, pela fome e pela doença, o jovem Ilyas chega a uma pequena cidade costeira onde assiste a um desfile da Schutztruppe, a feroz tropa de protecção da África Oriental Alemã.

Anos mais tarde, perante a iminência de uma grande guerra entre Britânicos e Alemães, que estalaria em Tanga, em 1914, Ilyas decide juntar-se a esse mesmo exército de mercenários africanos, prometendo à sua irmã mais nova voltar muito em breve.

A promessa fica por cumprir, e o paradeiro desconhecido do irmão ensombra a vida de Afiya até que ela conhece Hamza, um desertor generoso e sonhador que conseguiu escapar aos horrores da guerra. Entre ambos nascerá uma história de amor improvável que ligará as duas famílias, e os continentes africano e europeu.

Entrelaçando história e ficção, Vidas seguintes é um romance lúcido e trágico sobre África, o legado colonial e as atrocidades da guerra, bem como as infinitas contradições da natureza humana.

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