Recensão: O delírio nazi: os académicos de Himmler e o Holocausto

A construção e edificação da raça ariana

por Ana Luísa Pereira // Março 16, 2022


Categoria: Cultura

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Título

O delírio nazi: os académicos de Himmler e o Holocausto

Autora

HEATHER PRINGLE (tradução: Isabel Pedrome)

Editora

Casa das Letras (Fevereiro de 2022)

Cotação

18/20

Recensão

Heather Pringle, jornalista e escritora canadiana é uma conceituada autora, com várias obras publicadas, entre as quais se destacam The mummy congress e In the search of ancient North America. Também é editora emérita da revista de divulgação científica Hakai, e publicou vários artigos na National Geographic, para a qual trabalhou vários anos coimo freelancer

Antes de se dedicar à escrita, Heather Pringle foi investigadora num museu e trabalhou como editora. A sua formação e gosto pela arqueologia tem sido o mote para as suas pesquisas pelos meandros da História e dos mortos.

Vencedora de dois prémios de jornalismo científico, Heather também ganhou o prémio de não-ficção Hubert Evans com a obra, agora, publicada pela Casa das Letras, e já traduzida para sete idiomas.

Começando com a vida e ambição de Heinrich Himmler – o segundo homem mais poderoso da Alemanha nazi –, a autora descreve as fases e respectivos intervenientes do processo de edificação do Instituto Ahnenerbe. O grande objectivo desta instituição era demonstrar a existência e a origem de uma raça humana mais digna de admiração, e até de submissão.

Todas as pessoas, directa ou indirectamente, associadas ao Instituto foram escrupulosamente pesquisadas e documentadas. Através desta investigação minuciosa, a autora constrói uma linha condutora de todo o processo inerente às pesquisas desta instituição que, no final, terão contribuído para alcançar aquilo que Himmler mais desejava: demonstrar a existência de uma raça superior.

Note-se, porém, que Hitler se opunha a muitos dos empreendimentos de Himmler. Na opinião do primeiro, era conveniente que se ultrapassasse a superstição e misticismo. Foi precisamente, esse, o grande esforço de Himmler, o de encontrar e fundamentar cientificamente a origem e existência de uma raça humana superior: a raça ariana.

Aquilo que mais impressiona nesta obra é o detalhe e a profundidade. De uma forma meticulosa, Heather Pringle descreve, como quem conta uma história repleta de pormenores articulados, as vidas de cada uma das personagens, a fundação e evolução dos trabalhos do Instituto Ahnenerbe sob a alçada de Heinrich Himmler.

O controlo do Estado foi visível na ascensão de Himmler e do nazismo, o que se viria a repercutir nas próprias universidades. Na verdade, as SS estenderam os seus tentáculos aos mais diversos sectores da vida alemã, criando aquilo os historiadores viriam a designar de “Estado dentro do Estado”. A Ciência ao serviço do Estado, a Ciência ao serviço do nazismo.

Himmler planeava “controlar tudo o que seria ensinado nas salas de aula da universidade. Desta forma, as versões nazis da história, da pré-história, da genética e da biologia acabariam por substituir a verdadeira investigação académica” (pp. 138).

Esta obra de 2006, recentemente traduzida para português e publicada pela Casa da Letras, é, sem dúvida, um convite à reflexão, não apenas sobre o Holocausto, mas igualmente sobre as guerras da contemporaneidade. Em particular, sobre a construção das narrativas que tentam justificar as guerras, pela parte de quem detém o poder.

Podemos, pois, afirmar ser obra de leitura obrigatória para quem se preocupa com a busca da verdade e pela missão da Ciência. Afinal, porque, para compreender o presente e intervir para um futuro com esperança, é fundamental conhecer e compreender o passado.

Seremos nós capazes de aprender com a História? 

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