Começou este mês. Recebo no dia 1 de Maio, o primeiro comunicado de imprensa da Direcção-Geral da Saúde (DGS) sobre os casos positivos da “varíola dos macacos” – ou monkeypox – uma doença endémica em certas regiões do continente africano, mas rara na Europa. A doença, sabe-se, é de difícil transmissão e, por regra benigna. Está longe de ser um problema premente de saúde pública.
Porém, a DGS – provavelmente já para testar a nossa participação no projecto-piloto da Organização de Saúde no âmbito do Universal Health and Preparedness Review (UHPR) – tem estado a transformar este evento numa operação de criação de alarme, alimentando a imprensa com “actualizações” diárias. O objectivo é claro: fornecer “combustível” para criar pânico.
Só esta semana, a DGS enviou para a imprensa cinco comunicados sobre o monkeypox.
Sobre outro qualquer assunto de Saúde Pública, nada.
Nada sobre as consequências dos atrasos nos rastreios de cancros.
Nada sobre os ataques cardíacos.
Nada sobre os casos de AVC.
Nada sobre a tuberculose.
Nada sobre as infecções do aparelho respiratório não-covid e, muito menos, sobre uma infindável quantidade de doenças infecciosas e parasitárias com letalidade superior à causada pelo SARS-CoV-2.
Nada sobre os doentes que não conseguem ter médico de família.
Nada sobre o facto de não se conseguir já marcações online de consultas.
Nada mais. Deve chegar hoje ainda, ao final da tarde, um novo update sobre a covid-19, mas de resto, esta semana só saiu monkeypox do gabinete de imprensa da senhora directora-geral Graça Freitas.
E o que são esses comunicados sobre o monkeypox?
Bem, o de segunda-feira passada dizia que havia 37 casos, mais 14 do que três dias antes.
O de terça-feira apontava 39 casos, mais 2 do que no dia anterior.
Quarta-feira seguia nos 49 casos, mais 10 do que no dia anterior.
Quinta-feira lá estávamos nos 58 casos, mais 9 do que no dia anterior.
E, por fim, hoje, 74 casos, mais 16 do que no dia anterior.
Tudo isto, assim, para uma doença que não matou sequer alguém. Em média, garanto-vos, há mais casos detectados de tuberculose, que felizmente é doença bem mais rara do que no passado, mas ainda bastante mortal.
Enquanto andamos nisto, e após um excedente de mortalidade de cerca de 20% nos últimos dois anos, a doutora Graça Freitas, mais a doutora Marta Temido, e mais ainda o doutor António Costa, nada dizem sobre a actual situação de Saúde Pública em Portugal. Em Maio (até ao dia 25), a mortalidade por todas as causas está em níveis absurdos: 14% acima do período homólogo de 2020-2021 e 18% acima da média do período homólogo dos cinco anos anteriores à pandemia (2015-2019).
Sobre isto nem um piu se ouve da DGS ou do Ministério da Saúde ou do Governo. E da imprensa mainstream, que anda há muito anestesiada.
Como já não têm cara para culpar a pandemia – afinal como podemos estar a falhar se “nós já ganhámos a este vírus”, como nos afiançou o putativo candidato a Belém, o almirante Gouveia e Melo, em Setembro passado –, inventam agora uma manobra de diversão.
Entretêm-nos com “macacadas”, enquanto a “casa arde”.