Título
Lisboa: indo e vindo
Autora
FILOMENA MARONA BEJA
Editora (Edição)
Parsifal (Abril de 2022)
Cotação
18/20
Recensão
Não tendo a pretensão de se tornar um guia e muito menos um livro técnico, Lisboa: indo e vindo consegue levar-nos a passear pela cidade e a ensina-nos Arquitectura, História e Arte sem que, para isso, sejam necessários conhecimentos prévios. Podia até ser mais uma no meio de tantas outras obras sobre a capital portuguesa, mas o ritmo, o tom e o estilo convidam a experimentar uma outra forma de conhecer a cidade dos alfacinhas.
A escritora Filomena Marona Beja, num roteiro bem organizado e num estilo peculiar, junta memórias da capital portuguesa à História. No conjunto, revelam-se verdadeiros tesouros de curiosidades. Quem conhece a cidade, facilmente se recordará dos espaços descritos neste livro, e quem ainda não a conhece virá certamente a querer visitá-la.
Como acontece em qualquer lugar habitado pelo Homem, também as cidades sofrem mudanças diárias. Os ritmos de vida, a evolução e o crescimento obrigam à construção de novos prédios, à inauguração de novas ruas e à demolição de edifícios. Por isso, não é tarefa fácil conhecer a génese dos espaços e das gentes, assim como não é fácil acertar no essencial da vida da comunidade, na vida quotidiana.
Para o conseguir isso é preciso viver, gastar tempo, passar pela experiência da cidade. Filomena Beja faz tudo isto com competência e simplicidade. Contrariando outras obras menos credíveis, quiçá mais mercantilistas, desperta os sentidos do leitor e descreve cada lugar de forma expressiva, cristalina. Conta histórias, revela particularidades honestamente sustentadas.
Neste conjunto de escritos a autora foge ao seu estilo habitual. Dedica-se a falar do Poço do Bispo, do Tejo, do Hospital de São José, do Jardim Zoológico, dos cafés lisboetas... Mas, porque estamos a falar de uma cidade tão vasta e tão rica, podemos perguntar: onde estão os outros lugares icónicos como o Campo Pequeno, o Jardim da Estrela, a Feira Popular ou tantos outros espaços que compõem e harmonizam o ritmo da cidade? Sabemos a resposta. Não estão. Não podiam estar. Não tinham que estar. Ainda que tenham feito parte dos 78 anos de vida da autora – e fizeram certamente – contribuir com demasiada informação seria correr o risco de transformar a obra num livro pesado, maçador.
Livros como este são úteis. Neles se guardam memórias pessoais e coletivas. Fixam-se histórias.
Por isso, a crónica, estilo que Filomena Beja adoptou, foi uma excelente opção para deixar saudade a uns, matar a curiosidade de outros e despertar a vontade de passear pela cidade aos demais. São cento e quarenta páginas de equilíbrio e sobriedade. De Lisboa.