Houve tempos em que os senhores metiam o seu automóvel numa garagem semelhante a um quarto, na Rua da Junqueira, em Lisboa, num palacete há anos em ruínas.
Dançava-se então foxtrot e os miúdos dançariam depois yé-yé para mostrar o popó às amigas.
O eléctrico passava à porta, mas era para o povo.
O consumo e, mais tarde, a Liberdade, deram ao povo dinheiro e o povo também comprou popós.
E os senhores? Abalaram nos seus popós para sítios cada vez mais longe do povo-com-popós.
E povo? Foi morar para longe, porque assim podia ter casa e popó.
E agora? Agora há popós por todo o lado e muitas casas abandonadas em Lisboa.
E o foxtrot? Tornou-se nome de bar, onde às vezes também se dança tango. Mas os senhores já não dançam.
Já não estão… ficou a belíssima casa… em ruínas.
José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)
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