Actualmente, parece que nem de foguetão se chega a tempo do que se vai passando. Com a qualidade do cálculo matemático deste século, até se aponta para que algo se despenhe na nossa cabeça, e a senhora Miquinhas, a molhar as paredes de casa em Pombal para se prevenir dos incêndios, ainda olha para cima a pensar que vem aí mais um “meteorito” chinês. Por entre as nuvens de fumo, se por enquanto não é outro vírus, pensa a Miquinhas que só lhe faltava mais esta, e que os seguros nem cobrem quedas de aeronaves.
E de repente até cai um no Índico. Coisas que os títulos não prevêem.
![A space satellite hovering above the coastline](https://paginaum.pt/wp-content/uploads/2022/08/vbnb52j8trk-1024x683.jpg)
Bem vistas as coisas, começa a aparentar ser uma apropriação cultural. Isto tudo das tragédias ao virar da esquina é coisa de querer encarnar os filmes apocalípticos de Hollywood, tragédias que cabem em hora e meia de sala e pipocas doces.
Pena a realidade não caber em hora e meia, guerras que duram meses… até enjoa e tira a vontade de tocar os sinos, ainda mais com ondas de calor a derreterem ferro (toma lá Hollywood!, nesta não pensaste tu!) Mas com jeitinho os Balcãs já tocaram os seus, os falcões a esvoaçarem pelo eixo são uma visão histórica muito interessante para os próximos dias, quiçá meses.
Curioso esta coisa agora da apropriação cultural. Pelos vistos é a colonização dos genius loci, absolutamente proibido. Tranças no cabelo? Ofensivo. Rastas? Ofensivo. Macramé? Ofensivo. Queimar livros? Isso pode ser, desde que sejam ofensivos segundo os parâmetros de entidades superiores e benevolentes que nos poupam ao fardo da interpretação.
Nem o Tintim escapa! Esse branquela com a mania de passear pelo mundo a revelar conspirações. Essa bandeira do privilégio! O melhor mesmo é fazer uma fogueira, com fins simbólicos claro, até porque o Canadá pela sua latitude tem de simular umas ondas de calor. Acabamos com essa apropriação de uma só vez que a cultura não pode ser detida!
![brown sand with shadow of person](https://paginaum.pt/wp-content/uploads/2022/08/yrog3nazfs-1024x683.jpg)
Entretanto, as máquinas tentam ganhar consciência, para nos salvar a todos, ou transformar em pilhas, ou ir atrás de um autocrata a leste de outra linha imaginária… mas uma até se abespinhou com um miúdo a jogar xadrez, por isso claramente também não podemos depositar muita fé na inteligência artificial. Isto, quando falta o processo químico de sintetização e excreção, podem bem desistir da etérea ideia da alma. Nenhuma alma se aguenta neste plano de idiossincrasia sem desfrutar do prazer de bolinhos de bacalhau e a sua inevitável digestão.
Mas o que me preocupa nem é isso.
O que me preocupa é a facilidade com que por entre todo este barulho não nos ouvimos pensar. Muito menos ouvimos o pensamento dos outros. Muito menos sabemos qual importa na verdade.
Trocando por miúdos, perdemos a noção do valor da vida e da morte. O valor da memória que nos dá a todos a vida além morte. As pessoas caem-nos dos braços e morrem e ninguém pára tudo. Ninguém fala incessantemente nisto pelas ruas, pelas avenidas, pelas pontes! Por todo o lado, o implícito encolher de ombros desanimado de pombos com as mãos cruzadas atrás das costas e uma perna gangrenada pela cloaca de vida que lhes sobra, de bico afilado atrás da migalha e um xuto no rabo se se demorar muito nas pernas dos gigantes.
![photo of girl laying left hand on white digital robot](https://paginaum.pt/wp-content/uploads/2022/08/0e_vhmvql9g-1024x683.jpg)
Bem, há quem fale, na verdade. Há quem até diga que há males que vêm por bem. Há quem diga sem pestanejar, sem encher a boca de algodão para as escaras que nos vomita em cima, que isto é o equilíbrio perfeito rumo ao fim das alterações climáticas e do ferro a derreter a 40º. Rumo à Utopia! Se um problema nos incomoda o ideal mesmo é mudarmos as variáveis, as componentes, que diabo!, até mudamos a operação e de certeza que o problema quase se resolve sozinho.
E isso não tem de significar que interesses obscenos e supra terrenos, paranormais e secretos desejam ferramentas para nos fechar a todos em gaiolas até falecermos de fome. É só o copo meio cheio. Só isso.
Mas eu vou, à cautela, comprar um square foot de verdejante solo escocês e tornar-me Laird a ver se safo a família da purga da ralé, sugestão da rede.
Mariana Santos Martins é arquitecta
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