O nosso planeta – a Terra Mãe – atingiu um estado irreversível.
Falhámos como sociedade e, como se não bastasse, permitimos a mentira, aceitamos que nos escondam verdades e envolvemo-nos conscientemente em orquestrações prejudiciais, das quais nos tornamos cúmplices.
Possuir parece ser razão de prazer que justifica a luta de uma vida inteira – possuir terra, casas, carros, árvores, empresas, dinheiro, roupa, pessoas.
Ao deter o olhar no passado, facilmente percebemos que não fomos capazes de viver ao sabor do natural, perfeitamente integrados na Natureza, razão pela qual acabámos por moldar tudo o que nos rodeia à nossa medida. Em nome da prosperidade, do progresso, da evolução, das ideias e ideais que prometiam a edificação de um mundo melhor, destruímos e transformámos a Terra num lugar pior.
Fomos e somos descarados.
Pode ser que se viva, hoje, melhor do que noutros tempos: habitam-se casas mais confortáveis, vive-se em espaços mais limpos, tem-se mais medicamentos disponíveis, tem-se cada vez mais tempo. Mas, estas evidências nunca estiveram ao alcance de todos.
Hoje, nesta Era Global, tudo tem impacto à escala mundial e, por essa razão, lutamos por direitos universais, viajamos e conhecemos todos os cantos da Terra, chegamos a todo o lado, estamos em toda a parte. Sentimo-nos omnipresentes, omniscientes e omnipotentes. Todavia, estamos conscientes de que trouxemos o nosso planeta a um estado de exaustão inqualificável.
A nossa Mãe Natureza, que tudo nos deu – até a inteligência –, esperava certamente mais de nós, muito mais. Mais amor, mais respeito, mais dedicação.
Estamos a prostituí-la, estamos a violá-la até às entranhas. As inundações a que assistimos são fruto das suas lágrimas de dor. As tempestades e os terramotos são gritos e espasmos amargurados de tanto sofrimento. As altas temperaturas e os incêndios nada mais são do que a cólera de um corpo quente, suado, saturado e doente, inflamado, vilipendiado…
Chegámos ao fim de um mundo. Estamos prestes a acabar. Por tua culpa. Por minha culpa. Por nossa culpa. Chegámos ao aparente fracasso das religiões, das filosofias, da política, da educação. Este podia ser o momento de ressurgir, mas não queremos.
Peço, por isso, desculpa aos meus filhos e a todas as crianças que jamais conhecerão aquilo que um dia eu conheci. Se o ser humano é capaz do melhor e do pior, resta-nos acreditar nas crianças, acreditar que sejam capazes de fazer bem melhor do que nós.
No entanto, para a nova geração, deixou de existir o direito à liberdade de cuidar ou não do nosso planeta. Ficou o dever, por isso temo que tão cedo ninguém volte a ser livre.