Crónicas de um ofício santo

Não por ser mulher, mas por ser boa

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Posso sentir-me tentado a afirmar que as crianças de hoje vivem num mundo mais justo. Um mundo onde as oportunidades tendem a ser igualmente distribuídas e desprovidas de preconceitos. Porém, esta afirmação exige uma leitura atenta, esclarecida, porque tende a ser verdade em poucas partes do planeta. Infelizmente.

Acredito que a simpatia, e a atenção, que tenho merecido por parte de quem lê, é sem dúvida um reflexo do profundo respeito que tenho por quem me lê – mas também pela Humanidade. Leio os comentários, as opiniões, os contributos… é justo que gaste tempo a fazê-lo. Estou grato.

woman in black jacket sitting beside woman in white blazer

Sublinho que não escrevo para ganhar prémios ou para agradar a uma classe, muito menos almejo qualquer retribuição que não seja a edificação de um mundo mais iluminado, mais esclarecido e assim mais tolerante. Por isso, no que toca a direitos e deveres defendo a igualdade.

Defender a igualdade não significa o esvaziamento ou a redução da pessoa à ideia plástica de que somos todos iguais – até porque a ideia de igualdade não se esgota na tentativa de reduzir os elementos de possível comparação à ausência de diferenças. Igualdade é indiscutivelmente muito mais do que isso.

Assusta-me que alguns oportunistas sobrevivam ao lado da defesa dos direitos humanos.

Aterroriza-me que haja quem ouse evocar a questão da igualdade para alcançar aquilo que por mérito não alcançou.

Chega a ser contraditório. Passo a explicar.

woman holding white mug while standing

Recentemente, ouvi uma mulher defender a sua candidatura para um determinado lugar de liderança, justificando-se com o facto de ser mulher: “Chegou a hora de ser uma mulher a tomar a dianteira” – afirmou, impiedosa.

Não. Não chegou.

Chegou, sim, o momento de os bons tomarem a dianteira – homens ou mulheres. O desejo mais oportuno é pelo tempo dos bons, dos competentes.

Então, sendo intrinsecamente boa, que nenhuma mulher seja impedida de ocupar um lugar de liderança. Aqui reside, sem dúvida, o direito à igualdade.

Na mente daqueles que, em primeiro lugar, desejaram a igualdade, estava implícita a diferença entre os estratos sociais – o título, o apelido, o estatuto social – que marcavam as oportunidades de cada um.

woman sitting in front of desk with computer monitor and keyboard on top

Somos todos diferentes, sempre fomos. Uns são melhores do que os outros – e isso é assustador. Ora quando ficamos assustados, jogamos ao ataque, destruímos, assumimos o preconceito e esquecemos o quanto é bom sermos todos diferentes.

Aliás, talvez seja essa uma das grandes oportunidades de não sermos confundidos, pois quando dizemos que alguém marcou a diferença, fazemo-lo no intuito de distinguir o que é positivo. Por isso, parece oportuno mudar o discurso na forma e no conteúdo para que cada mulher possa, de facto, ser diferente e destacar-se pela diferença.

Chegará o dia em que a luta será pelo direito à diferença – até lá viva a igualdade. Mesmo sabendo que uns serão sempre mais iguais do que outros.

O jornalismo independente DEPENDE dos leitores

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