PLANANDO NA TERRA REDONDA

A caminho do Árctico: dia 2, em Svalbard, a cidade do fim do Mundo

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A paisagem é bela, como esperava. Parece que estamos em outro planeta. A chegada ao Árctico emocionou-me. E este segundo dia da viagem, que me levou a um dos meus destinos de sonho, terminou com um avistamento inesperado.


Duas horas de voo separam Oslo e Tromsø – a capital das Auroras Boreais. O meu voo partia muito cedo e encontrei um aeroporto com um pouco mais de movimento do que no dia em que aterrei na capital norueguesa – Oslo – vinda de Lisboa. Uma distração minha na ida para a porta de embarque, “desviou-me” para uma loja de brinquedos e recordações. A compra de última hora de um urso polar ‘Papá’ para o meu filho quase me custou o voo. Ainda consegui embarcar – depois de ouvir a última chamada para os passageiros atrasados para o embarque.

Nesta altura do ano nunca fica escuro em Tromsø. Ao sair do avião temos de para mostrar o passaporte. (Para entrar na Noruega o cartão de cidadão é suficiente mas para entrar em Svalbard é preciso ter o passaporte com a habitual validade de seis meses). Pedi ao agente se era possível juntar um carimbo à coleção que já tenho no passaporte. Riu-se: “vou ver o que posso fazer desde que não o venda”.

Embarquei então para mais duas horas de voo para o meu destino final. Quando o comandante anunciou a descida para a aterragem, olhei pela janela e vi Árctico e Svalbard. Não contive uma lágrima perante a beleza da paisagem dramática do Árctico. Senti que tinha chegado a outro planeta.

Svalbard, é a cidade do “fim do Mundo”. Depois daqui, não há mais nada a não ser glaciares e gelo. Aqui acaba a civilização (e é também onde talvez um dia possa recomeçar, mas sobre isto falarei no dia em que visitarei o Banco de Sementes Global).

Na chegada ao aeroporto, somos “recebidos” por um “urso polar”, o símbolo do Árctico (o que considerei ser um sinal auspicioso para o meu sonho maior de ver ursos polares no seu habitat – irei precisar de muita sorte para que aconteça).

Um autocarro leva os passageiros ao centro onde estão os alojamentos. Na minha Guest House (número 102), o dormitório é compartilhado por quatro pessoas. A minha única experiência do género foi, por engano, no Vietname, onde éramos 12. Não é o ideal, mas é a opção mais económica para quem viaja sozinho. As pessoas que optam por este tipo de estadia são muito simpáticas, civilizadas, e de todas as idades. Conheci o Peter, um sexagenário holandês, o Mike, um americano na casa dos trinta, e a Martha, de Israel, que é um pouco mais velha do que eu.

Depois de me acomodar, era só aguardar pelo guia que me iria levar na primeira tour. Na sala de espera, havia café, chá e chocolate à discrição. Do lado de fora das janelas, o que se vê é uma paisagem bonita: montanhas e, na base, casas de madeira coloridas.

Chegou o Nick, um holandês a viver em Svalbard há pouco mais de três anos. Seria o guia da tour de trenó puxado por cães. Comigo iriam também um casal holandês e os seus dois filhos e um casal de americanos que visitam Svalbard pela terceira vez. (Fiquei feliz por não ser a única a repetir viagens para os lugares de que gosto).

O grupo participou na colocação dos cães no trenó, que pareciam estar contentes. Aparentemente, gostam do passeio (sabem que vão ter três paragens para comida e bebida).

A paisagem é surrealista e as cores de outro mundo. Com o Ártico a perder de vista, senti a energia especial do Grande Norte.

Depois de uma hora ao longo da costa, entre deserto e lagoas, fomos conhecer o complexo onde vivem os cães. É grande e cuidado. Todos os cães têm nome e estão sempre prontos para os passeios. Há um abrigo de madeira, uma pequena casa muito quentinha, onde comemos waffles acompanhado por um chocolate quente. Tudo o que precisava para me ajudar a habituar aos três graus de temperatura.

A conversa debruçou-se sobre a vida em Svalbard, sobretudo no Inverno, a altura mais difícil, pois é noite 24 horas por dia, durante seis meses. Os guias dormem metade do tempo na cidade, metade no complexo dos cães. Há também duas famílias com crianças e o complexo tem um parque infantil. Mas não têm água para banhos. Têm uma parceria com um ginásio onde tomam banho. (Imagino os Invernos e a preguiça de saírem de casa para ir tomar banho).

Vivem em Svalbard pessoas de 64 nacionalidades, por isso, parece de todos e de ninguém. Talvez seja um dos encantos para quem escolhe viver neste lugar remoto.

De regresso aos alojamentos, optei por jantar uns noodles na Guest House. Liguei ao meu filho e mostrei-lhe o vídeo do passeio de trenó: “mamã, também quero andar com os cães”.

Um hóspede correu até à sala e perguntou: “queres ver uma raposa do Árctico?”. Da janela do seu quarto avistava-se o animal, que já tinha mudado o pelo para o Inverno. Descia a montanha curioso.

O tempo voo e era altura de repor as energias. Esperava-me um longo dia com muita aventura e alguns desafios.

Raquel Rodrigues é gestora, viajante e criadora da página R.R. Around the World no Facebook e no Instagram.

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