ENTREVISTA HOJE A RUI FONSECA E CASTRO

Um editorial que não deveria ter de existir

Editorial

por Pedro Almeida Vieira // Agosto 31, 2022


Categoria: Opinião

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Hoje, pelas 19:30 horas, o PÁGINA UM publicará uma entrevista em exclusivo a Rui Fonseca e Castro, actual advogado e antigo juiz (expulso por decisão unânime do Conselho Superior da Magistratura), conduzida pelo jornalista Nuno André.

Anunciar-se esta entrevista com antecipação não é acto que, num ambiente normal e num país de liberdade de expressão, devesse ocupar o espaço de um editorial, mesmo se estivesse em causa entrevistar quer o mais santo ser humano à face da Terra quer o mais facinoroso humanóide.

Rui Fonseca e Castro

Numa situação normal, um qualquer órgão de comunicação social publica as notícias dentro das suas capacidades e linha editorial, e sobretudo apresenta as entrevistas a pessoas que aceitam ser entrevistadas e que considera relevantes para os seus leitores.

Até há algum tempo, existia um claro entendimento que uma entrevista ou um artigo de opinião de um colunista não emparelhava um órgão de comunicação social, embora até fosse aceitável, e por vezes assumido do ponto de vista editorial, uma influência ideológica.

Isso mudou desde a pandemia. E prolongou-se com a guerra da Ucrânia.

Hoje, o politicamente correcto, o wokismo, o jornalismo missionário – aquele tipo onde o pivot de um telejornal se vê no direito de dar raspanetes aos espectadores e de censurar hipotéticos comportamentos – inundaram a imprensa. Segue-se uma narrativa, cria-se um unanimismo, nada se faz que possa sequer abalar os alicerces das “convicções” jornalísticas. Não se arrisca, não se colocam geralmente ideias em confronto, e nas raras vezes que sucede é para meter uma das parte no pelourinho. Secam-se opiniões discordantes. Os resistentes são apelidados de extremistas, porque se eliminou pela ameaça e o medo as vozes moderadas e razoáveis. O resistentes moderados são ostracizados, perseguidos.

three newspapers

O PÁGINA UM sofreu – embora ripostando sempre – desde o seu nascimento com este novo estilo de “fazer informação”.

Esse labéu que nos tentaram colar – e que advém, em grande medida, das minhas posições desde 2020 – não tem, neste “novo mundo” da informação qualquer antídoto. Os ataques sobre o PÁGINA UM da própria Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas são um exemplo paradigmático. A falta de solidariedade da classe contra os ataques da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, idem.

Os rótulos são, aliás, confortáveis para quem os coloca, porque não precisam de ser justificados. Colam-se e já está. O PÁGINA UM sabe disso. E o PÁGINA UM também sabe que continuará a ser – apesar das acusações explícitas e implícitas, na praça pública ou nos bastidores; e apesar da sua (ainda) pequena dimensão – o único órgão de comunicação social a pressionar o Ministério da Saúde e as entidades por si tuteladas a divulgarem informação sobre a pandemia e o estado caótico do SNS, e as promiscuidades de certos médicos com as farmacêuticas.

Rui Fonseca e Castro entrevistado pelo jornalista Nuno André

Tem sido o PÁGINA UM o paladino da luta por uma maior transparência da Administração Pública, desde o Conselho Superior da Magistratura até ao Banco de Portugal, passando pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Mas, apesar de tudo, o labéu mantém-se e manter-se-á. O sectarismo enraizou-se na sociedade, ainda mais na comunicação social. E não tenho, como director do PÁGINA UM, quaisquer dúvidas de que a entrevista que hoje publicaremos de Rui Fonseca e Castro constituirá, para os detractores do jornalismo independente, mais uma “prova indelével” para justificar rótulos.

Por isso, de pouco valerá dizer que, pessoalmente, há muitas mais coisas que me afastam de Rui Fonseca e Castro do que aquelas que me aproximam, mas isso não é relevante. Relevante sim é ler (ou ver) a entrevista.

Na verdade, este editorial nem deveria existir.

O jornalismo independente DEPENDE dos leitores

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