Parece que todos os políticos portugueses estão sob suspeita. Basta ir a uma agência bancária – como eu fui, para abrir uma conta de condomínio – para constatar esse facto.
Aconteceu-me quando me perguntaram, entre muitas coisas, se exercia cargos políticos. E justificaram o interrogatório com a simples frase: somos obrigados a sabê-lo. E como não respondi, a conta do condomínio não foi aberta.
As perguntas feitas pelas entidades bancárias são intrusivas. Querem também saber o estado civil dos administradores do condomínio, se há filhos, qual a composição do agregado, a situação profissional, os rendimentos, as propriedades e por aí fora. Como se o dinheiro fosse deles.
Os Bancos ficam assim com uma base de dados, cujo objetivo não se descortina. Onde está afinal a Comissão Nacional de Proteção de Dados?
Um português é identificado plenamente com seu cartão de cidadão – que tem gravado os números do dito, da identificação fiscal e da Segurança Social e do Utente de Saúde. Ainda se quis juntar o número da carta de condução, mas isso foi chumbado. No limite poderia ter a indicação do tipo de sangue.
As perguntas que se fazem numa agência bancária não têm qualquer paralelo à identificação pedida por um juiz no início de um julgamento, seja ele qual for.
Esta fúria abusiva já se espalhou a simples consultórios médicos. Num deles queriam até saber a empresa onde eu trabalhava e o cargo que exercia.
A questão da abertura [de conta] leva cerca de duas horas como me foi dito. Por causa das perguntas, com confirmações e reconfirmações.
Fiquei cinco minutos, para me despedir do funcionário bancário e dos meus companheiros de administração do condomínio.
Em rigor, esta prática, para além de abusiva, é até absurda. Se tivermos em conta a escandaleira dos banqueiros que deram sumiço, nos últimos anos, a largas dezenas de milhões de euros.
Esses sim, andavam com a mão na massa dos portugueses.
Já agora quais foram as perguntas feitas a esses senhores?
José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)
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