Levámos com um guardanapo encharcado na cara atirado pelo presidente francês Macron. Diz ele que afinal já não precisa de um gasoduto português para nada.
Temos recebido de braços abertos os franceses reformados e ricos, que não pagam cheta de impostos em Portugal. Que compram todas as casas do Bairro Azul e dos outros sítios chiques, e voilà.
De troco, Macron não considera prioritário um gasoduto com origem em Portugal, que receba os navios gigantescos de gás no porto de Sines.
Macron risca também Espanha, que tem 33% da capacidade de armazenagem de gás da Europa. E está ligada à Argélia, um dos maiores produtores mundiais.
O senhor Macron prefere reactivar 27 centrais nucleares francesas, há muito fora de uso.
Ele quer uma França imperial, ao estilo de Napoleão – que foi precursor de Hitler, que até fez um pacto germânico-soviético.
Em 2022, sem a Grã-Bretanha, este é afinal o caldo da actual Europa.
A atitude do presidente francês é uma enorme asneirada estratégica. É um retrocesso político estúpido. Pior, só à política da alemã Merkel, que pôs a Europa totalmente dependente da energia de Putin, durante os últimos 16 anos. Até parece de propósito.
Esta decisão de Macron é também uma forte machadada na intelectualidade portuguesa, ainda muito magoada com as três invasões dos exércitos napoleónicos. Nunca esquecidas, e que foram autênticos pilha-galinhas, em roubos escandalosos e arrasos.
Nem sequer deixaram de pé quem lhes perguntou pelo país-paraíso da “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
Já se percebeu há muito que a nossa salvação energética está do outro lado do Mediterrâneo, na Europa Romana. Onde poderia reinar o progresso e a harmonia, sem tantos afogados que inundam a nossa consciência.
Que raio de Europa é esta, que se diz cristã?
Que deixa morrer milhares de homens, mulheres e crianças no nosso querido Mediterrâneo…
Será que a França ainda não digeriu os “pieds-noir” e continua com a mania dos impérios?
Ó senhor Macron, a história do Rei-Sol teve um final infeliz. Não aprendeu na escola?
José Ramos e Ramos é jornalista (CP 214)
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