Chegar ao topo das carreiras é o objectivo da maioria dos portugueses.
Pretensão que seria legítima, e de elogiar, se acreditássemos que tal exigiria empenho, talento e muito trabalho.
Só que, também neste campo, o nosso país é diferente.
Em Portugal as promoções raramente se fazem por mérito e, no que toca a funcionários do Estado, nunca esse critério é o essencial sendo substituído pela “antiguidade”.
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As promoções são, na imensa maioria das vezes, automáticas e baseadas nesse único preceito.
Um funcionário com 10 anos de carreira, por mais calão, incompetente e acéfalo que seja, atingirá primeiro um lugar de chefia do que um outro com oito anos “de casa” e que seja responsável, qualificado e inteligente.
Vejamos, por exemplo, as nossas Forças Armadas.
Uma tropa fandanga com 27.741 efectivos.
Destes, 49% (13.593) são “Praças” sendo que os restantes 51% (14.148) são Sargentos ou Oficiais.
Os últimos dados, conhecidos, do Ministério da Defesa revelam que estão em efetividade de funções 106 generais, assim distribuídos: cinco almirantes/ generais (quatro estrelas), 20 vice-almirantes/ tenente-generais (três estrelas), 47 contra-almirantes/ major-generais (duas estrelas) e 34 comodoros/ brigadeiro-generais (uma estrela).
![crowd walking at sunset](https://paginaum.pt/wp-content/uploads/2022/10/hu3nnge_kj4-1024x683.jpg)
Mais, que aos 106 generais em efetividade de funções, acrescem 114 na reserva, dos quais 40 estão na efetividade de serviço. Ou seja, exercem funções.
Outros países, obviamente menos preocupados com a defesa dos seus territórios, contentam-se com números inferiores. Muito inferiores, alguns deles.
Vejamos: a Espanha tem 28 generais, a França tem 55, o Brasil tem 100 e a Alemanha, 189.
O que me deixou boquiaberto foi o número de generais nos Estados Unidos da América: 31!
Como é que umas Forças Armadas, com 1.390.000 militares, pode ser eficiente com, somente, 31 generais?
A média é de um general para cada 44.838 militares.
O mais certo é que nenhum desses generais se venha a cruzar, ao longo da sua carreira, com a maioria dos militares que comanda!
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Já as Forças Militares Portuguesas, com os seus 27.741 efectivos, funcionam como uma família.
Um general comanda 261 militares. Deve saber o nome de todos.
Se seguíssemos o péssimo exemplo dos Estados Unidos nem um general poderíamos ter.
Os nossos 27.000 militares seriam comandados, na melhor das hipóteses, por um major.
Tentei perceber a lógica da opção dos Estados Unidos.
A primeira ideia foi a falta de verba para pagar a generais.
Sei que são caros porque os portugueses custam, ao Estado, mais de 14 milhões de euros anualmente.
Fui ver o Orçamento que os americanos têm para as suas Forças Armadas: 706 mil milhões de dólares para o ano de 2022.
Sinceramente, nem sei o que isso significa.
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Mas acredito que não seja por falta de dinheiro que não aumentam o número de generais.
Ser militar nos Estados Unidos deve ser deprimente!
Mas não se pense que é só nesta área que tal acontece.
Se estivermos atentos veremos que, por exemplo, qualquer quartel de bombeiros tem mais comandantes, segundos comandantes, chefes e sub-chefes do que bombeiros.
Nas empresas não é diferente.
A TAP tem 11 administradores – e não 79 como espalharam pelas redes sociais – e 94 aviões.
A média não está má, pensaríamos, até sabermos que a Lufthansa tem 6 administradores e 763 aviões.
![white and red passenger plane on airport during daytime](https://paginaum.pt/wp-content/uploads/2022/10/9zwjq5wfo4a-1024x683.jpg)
Como toda a gente sabe, os germânicos, com a mania de quererem ser superiores, são capazes de trabalhar oito horas por dia sem uma distração, ou uma pausa para o café, e nem sequer compreendem o que é passar pelas brasas depois de um “almoço de negócios” com um uísque velho, para brindar, no final.
Continuam a trabalhar como se estivessem no século XIX.
Mesmo as nossas micro e pequenas empresas, como diz o “partido das classes trabalhadoras”, são exemplares no modo como tratam os seus funcionários.
Uma empresa “unipessoal” tem a dirigi-la um “sócio-gerente”.
Se tiver um funcionário, ele será o “director de vendas”.
Se tiver dois, o segundo será o “director de compras”.
Um terceiro ocupará o cargo de “director de recursos humanos”.
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Não poder ter um título para poder exibir no cartão de visita é, em Portugal, só por si, motivo para não aceitar um qualquer cargo.
Eu mesmo estou a pensar, seriamente. em exigir, dada a qualidade das minhas crónicas, o cargo de Director-Adjunto do Página Um (dado o respeito que tenho pelo actual Director não pretendo o seu lugar… ainda).
Se estão à espera que passem dez anos para chegar a sub-chefe de redacção, estão muito enganados…
Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso
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