Título
Romain Rolland: uma consciência livre
Autor
JORGE REIS
Editora (Edição)
Parsifal (Agosto de 2022)
Cotação
16/20
Recensão
Jorge Reis é o pseudónimo de Atilano de Reis Ambrósio, nascido em 1926, em Vila Franca de Xira, e falecido em 2005, em Paris. Alves Redol foi seu professor de Português, tendo sido, certamente, uma das pessoas a influenciar o seu percurso literário. Consta que dactilografou o romance póstumo de Redol, Os Reinegros, publicado três anos após a morte daquele escritor neo-realista.
Outras influências terá tido, como as de Aquilino Ribeiro, de quem saiu em defesa aquando da edição do romance “Quando os lobos uivam” – obra censurada pelo Estado Novo. Aliás, uma das obras premiadas de Jorge Reis – Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Autores – é o seu Aquilino em Paris, publicado em 1987.
Terá sido em Paris que se conheceram, cidade onde Jorge Reis se exilou, por ter sido obrigado à clandestinidade durante a ditadura. Em Paris, trabalhou no Centre Catholique Intellectuels Français e na RTF, onde era responsável e locutor de um programa para os emigrantes portugueses.
Além de escritor, ensaísta e ativista, Jorge Reis traduziu obras de Balzac, Rabelais, Maupassant e discursos do General De Gaulle. Não é de estranhar, portanto, que se tenha encantado com a exuberância, diríamos, de Romain Rolland, Prémio Nobel da Literatura em 1915. Com efeito, a leitura do monumental Jean-Christophe, romance em 10 volumes, foi uma referência para muitos jovens da sua época.
A publicação desta obra de Jorge Reis, sobre a vida de Romain Rolland, sucede por vontade da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, conforme afirma o seu director, António Mota Redol (filho de Alves Redol), no prefácio:
“Este é um livro que Jorge Reis – o único dos escritores vila-franquenses que ganhou o Prémio Camilo Castelo Branco da extinta, por Salazar, Sociedade Portuguesa de Escritores – deixou inédito, apesar das suas tentativas para o publicar”.
Uma consciência livre e inconveniente, para muitos da época, por isso dizíamos exuberante. Tanto mais que a liberdade, o princípio por que Romain Rolland pautou a sua vida, não era, não é, e provavelmente nunca será, o princípio de vida mais apreciado pelas classes políticas e económicas dominantes.
É sobre essa vida independente que o livro de Jorge Reis trata, uma obra deveras relevante para os leitores interessados pelos valores humanistas e pacifistas. Com efeito, Romain Rolland admirava profundamente Leon Tolstói e Mahatma Ghandi, grandes defensores da não-violência e dos valores pacifistas.
Muito escreveu sobre as razões e consequências da Primeira Grande Guerra e do quão desumanizadora é toda a acção bélica. O parágrafo que se segue data de 1914, mas poderia ter sido escrito hoje mesmo, o que mais uma vez nos mostra que os europeus e a Humanidade, em geral, não terão aprendido nada com a História:
“Sei que tais ideias têm hoje poucas probabilidades de serem ouvidas. A jovem Europa, que arde na febre do combate, sorrirá de desdém, mostrando os dentes de lobacho. Mas quando descer o acesso de febre, ver-se-á mortificada e, talvez, menos orgulhosa do seu heroísmo carnífice”.
A leitura do livro deste livro de Jorge Reis pode ser compreendida como um convite à reflexão e, sobretudo, a visitar ou revisitar a obra de Romain Rolland – na segunda parte do livro, encontramos excertos de alguns dos seus escritos –, para quem todos os seres vivos mereciam viver em liberdade e de forma digna e respeitada.
Romain Rolland, um dos maiores representantes do neo-realismo, foi um humanista que agora valerá a pena conhecer (ou recordar, ou invocar), numa época em que a liberdade, a dignidade e o respeito pela pessoa humana parecem estar em risco crescente.