Tenho muita dificuldade em compreender como se endeusa uma equipa que passa 120 minutos a defender e faz um – apenas um – remate enquadrado com a baliza.
A Croácia de Modric joga como uma orquestra afinada sem alguns instrumentos. Conhecem as suas limitações e jogam com elas.
Apoiados num excelente guarda-redes com queda para os penáltis, com um Lovren em grande forma a comandar a defesa, um incansável Perisic na ala e um meio-campo pautado por Kovacic e o eterno Modric, a Croácia troca a bola e defende até à exaustão, fazendo acreditar que pensa nas grandes penalidades desde o apito inicial.
Tendo em conta que, em quatro desempates em campeonatos do mundo, venceram sempre, começo a pensar que talvez seja mesmo estratégia.
Este era o Mundial desenhado para Neymar aparecer. Com as habituais estrelas em fim de ciclo – excepto Mbappé –, esperava-se que Neymar, aos 30 anos, assumisse finalmente o papel de líder de uma geração. Tal como Romário em 94 ou Ronaldo em 2002, Neymar tinha que ser “o cara”. E não foi.
O Brasil tentou furar a bem organizada defesa croata que, ao contrário da Coreia, não defendeu com pouca gente e soube dar o favoritismo a quem o tinha. Sempre lento e com poucas ideias, o ataque brasileiro criou poucas oportunidades e quando apareceram na cara de Livakovic, o guardião croata defendeu tudo, deixando-me a pensar como é que ninguém o tirou ainda do Dinamo de Zagreb.
Foi de Neymar o lampejo que criou o golo brasileiro, mas estes croatas com sete vidas, conseguiram que Petkovic, um limitadíssimo avançado que tinha perdido todas as bolas até então, acertasse o único remate na direcção da baliza de Alisson.
Nos penáltis, os croatas fizeram o costume e não falharam. Neymar escondeu-se e não assumiu a quarta e decisiva grande penalidade.
Segue em bom ritmo a selecção croata que, de empate em empate, lá vai seguindo. Onde é que já vi fortuna desta? Ah, já sei! Na Grécia de 2004 e no Portugal de 2016.
A Croácia tem um estilo de jogo que adormece e que dificilmente seduz um adepto de futebol. Mas vão jogar as meias-finais de um Mundial pela segunda vez consecutiva.
Como dizia o meu avô, “essa é que é essa” (vá-se lá perceber o futebol).
Depois da surpresa inicial, imaginei que Holanda e Argentina proporcionassem um espectáculo interessante. São duas boas equipas que, nesta altura, jogam muito pouco e estão quase ao mesmo nível.
O jogo não teve grande história. Não me lembro de uma oportunidade de golo holandesa até aos 75 minutos e, de certa forma, a partida parecia resolvida com um passe de génio de Leonel Messi e um penálti perfeitamente escusado sobre Acuña. O desenho da assistência de Messi no primeiro golo devia fazer parte dos compêndios.
Contudo, Wout Weghorst, lançado aos 79 minutos, veio revolucionar a partida com dois golos, o segundo no último minuto de jogo, num autêntico golpe de teatro que levou tudo para mais um prolongamento e o drama dos penáltis.
A festa acabou por ser argentina, mantendo viva a hipótese da final de sonho.
O destaque do dia, para mim, foram Modric e Messi que, aos 37 e 35 anos respectivamente, são, de longe, os melhores jogadores das suas selecções. Jogam, fazem jogar, correm, ganham o lugar pelo rendimento. Não há justiça no desporto, há rendimento.
Vou lendo na imprensa portuguesa algumas cautelas com Marrocos, referências ao D. Sebastião e até a lição defensiva que a Croácia nos deu.
Meus amigos, a Croácia defende com 11 no meio-campo, Marrocos defende com 11 na grande área, saindo para o contra-ataque com um avançado que não teria lugar no Paços de Ferreira. Até ao momento, sofreram apenas um golo e passam os 90 minutos enfiados na baliza. Tudo certo.
Dito isto, o respeito pelos adversários é obrigatório. Agora, medo de encontrar Marrocos nos quartos de final de um Mundial, tenham lá paciência. A disparidade de talento nas duas equipas é abismal.
Saiu-nos o brinde, agora não tenham é medo de ganhar. E se começarem a tremer, chamem o Ronaldo. Que o rapaz nasceu para dias destes.
Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)
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