Ao intervalo do jogo com Marrocos, o meu filho dizia-me que ia chorar se não conseguíssemos marcar, pelo menos, um golo àquele conjunto acantonado de 11 defesas.
Para mal dos meus pecados, o puto chorou, e bem.
Fernando Santos deu meia parte de avanço com uma embrulhada de ideias que ninguém percebeu.
Se antecipou uma ultradefensiva formação marroquina com saídas rápidas, qual foi o sentido de jogar com Ruben Neves como único médio defensivo? Foi sempre ultrapassado em velocidade, e não é, nunca foi, um médio de combate que equilibrasse o meio-campo. Para ter apenas um trinco em campo, William ou Palhinha seriam as opções naturais.
Diogo Costa comprometeu com uma saída à Ricardo e os defesas passaram 45 minutos a lançar a bola, em profundidade, nas costas dos defesas. Tantas vezes insistiram nesta jogada que deduzo que fosse estratégia. Nunca tinha visto bombardeamentos para as costas de uma defesa que está toda fechada, com 10 homens em 30 metros. É uma inovação tática, certamente.
Ao intervalo, Fernando Santos tentou corrigir e mexer na equipa. As entradas de Cancelo, Ronaldo e Leão foram positivas, mas não chegaram.
Portugal voltou ao ritmo que nos habituou na era de Fernando Santos. Passes para o lado e para trás, lentidão, previsibilidade. Poucos cruzamentos bem tirados e aqueles que lá chegaram foram desperdiçados pelos jogadores.
Bruno Fernandes, em frente à baliza, preferiu atirar-se para o chão do que tentar rematar. Lembro-me de duas defesas do guarda-redes marroquino, a primeira aos 82 minutos. Os últimos 30 minutos foram passados com 50 passes entre os centrais e o Bernardo Silva, até que a bola chegasse inevitavelmente à área adversária sem grande perigo.
Marrocos fez o que sabe fazer bem: defender e perder tempo. Os árbitros, argentinos, mostraram pouca qualidade (vou ser simpático) para um jogo de quartos-de-final de um Mundial. Ótavio parece-me puxado na área e o constante anti-jogo marroquino foi largamente premiado.
Mas não foi pelo árbitro que Portugal perdeu. Foi pela mediocridade do seu jogo que, à excepção do confronto com a Suíça, foi sempre aquilo a que as equipas de Fernando Santos nos habituaram: deprimente.
Quando Portugal apanha equipas que jogam em bloco baixo, é sempre o cabo dos trabalhos, porque defender 90 minutos e jogar para o pontinho é o nosso ADN há anos. Quando é preciso triturar o adversário, a equipa não tem rotinas para tal.
O meu filho queria que este fosse o Mundial de consagração de Ronaldo. Para ele, Ronaldo representa o orgulho de uma Nação e seria mais do que justo sair de Doha com a taça nas mãos. Estava inconsolável.
E sem saber, tinha mesmo razão. Este era o Mundial onde, pela primeira vez, apenas uma equipa melhor do que a nossa estava em prova. Podíamos ter sonhado com algo mais.
Espero que Santos nos faça agora um favor; ou dois: que pague os impostos e que dê lugar a quem não tenha medo de ganhar.
Entretanto, no França vs. Inglaterra não houve surpresa. Com uma arbitragem ainda pior do que a do nosso jogo, protagonizada por um fraquíssimo árbitro brasileiro, Mbappé e Giroud marcaram a diferença no ataque francês. Os ingleses aumentaram o tamanho do fantasma dos penalties e o troféu insiste em não voltar a casa.
Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)
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