Das listas negras secretas à interferência do FBI

#TwitterFiles: ‘As pessoas normais não sabem o quanto fazemos’. Twitter confessa antigas práticas de censura, incluindo a Trump

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por Elisabete Tavares // Dezembro 10, 2022


Categoria: Imprensa

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Novas revelações do “Twitter Files” — sobre as práticas de censura implementadas pelos antigos executivos do Twitter — mostram que a rede social criou “listas negras secretas” e aplicou ferramentas de censura à conta do antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que acabou mesmo por ser banido em Janeiro de 2021. As contas de utilizadores incluídas nas “listas negras” eram sujeitas a mecanismos que limitavam a sua visibilidade e alcance. O Twitter também impedia que certos tweets se tornassem populares — ou numa tendência, como é designada a popularidade na rede social — e limitava a visibilidade de determinados tópicos, incluindo temas relacionados com a pandemia de covid-19. Um grupo secreto de responsáveis do Twitter, ao mais alto nível, escrutinava as contas consideradas mais sensíveis. A investigação e divulgação destas informações está a ser feita por um grupo de jornalistas independentes, aos quais Elon Musk, novo dono do Twitter, deu acesso a documentos internos da rede social.


Antigos executivos do Twitter criaram “listas negras secretas” para censurar contas e conteúdos e mantiveram reuniões regulares com o FBI e agências secretas dos Estados Unidos enquanto decidiam o que censurar na rede social.

Nas mais recentes revelações da investigação denominada “Twitter Files”, também foi exposta a forma como executivos do Twitter usaram ferramentas de censura na conta de Donald Trump, quando ainda era presidente dos Estados Unidos, nos meses que antecederam as últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos, em 2020, as quais deram a vitória ao actual presidente norte-americano, Joe Biden.

Antes de banir Trump no dia 6 de Janeiro de 2021 (J6), executivos do Twitter já aplicavam ferramentas que limitavam a visibilidade e alcance da conta do antigo presidente do Estados Unidos.

Trump acabou mesmo por ser banido do Twitter a 8 de Janeiro de 2021, dois dias após a invasão do Capitólio. A investigação encontrou documentos internos que mostram que, nos meses anteriores à decisão de banir Trump, existia já um padrão de comportamento instalado, com uma deterioração das políticas da empresa, e os executivos do Twitter já violavam as regras enquanto reuniam com agências federais.

Estas são as principais revelações da segunda parte e terceira parte de divulgação de informações produzidas por uma investigação conhecida como “Twitter Files”, conduzida por jornalistas independentes, com destaque para Matt Taibbi e Bari Weiss. A investigação é baseada em documentos que foram disponibilizados por Elon Musk, novo dono do Twitter, e também entrevistas a funcionários da rede social. As mais recentes revelações foram feitas entre quinta-feira e este Sábado.

As próximas revelações, que serão feitas durante o fim-de-semana, vão debruçar-se sobre os momentos e dias que se seguiram à expulsão do antigo presidente norte-americano do Twitter.

Twitter assume que houve política de censura sobre Donald Trump

Segundo Weiss, a publicação de novas informações, em primeira mão, é sempre feita através do Twitter e essa foi a única condição acordada com Musk, tendo os jornalistas acesso livre a toda a documentação.

Na segunda parte dos “Twitter Files” foi revelado como os executivos da rede social criaram “listas negras secretas”. Uma das contas que foi colocada em listas negras foi a de Jay Bhattacharya. Este reputado professor da Universidade norte-americana de Stanford, onde ocupa o cargo de director do Centro de Demografia e Economia de Stanford para a Saúde e Envelhecimento, foi uma das primeiras vozes a mostrarem-se contra a estratégia de confinamento, alertando que os lockdowns seriam muito prejudiciais para as crianças. Bhattacharya foi um dos três especialistas que escreveu a Great Barrington Declaration, a qual reuniu assinaturas de cientistas e médicos de topo em defesa de uma estratégia de combate à pandemia “focada na protecção”, mas que viria a ser censurada pela generalidade da imprensa mainstream, incluindo a portuguesa.

Na primeira parte da divulgação de informação das antigas práticas do Twitter, revelado pelo jornalista independente Matt Taibbi, ficou exposto como antigos funcionários do Twitter executaram indicações da campanha presidencial de Joe Biden, para censurar informação sobre o caso polémico em torno do portátil de Hunter Biden, filho do actual presidente dos Estados Unidos.

Documentos internos do Twitter revelaram como os executivos da rede social começaram a deixar para trás algumas regras da empresa e a implementar as medidas que desejavam.

Entretanto, Bari Weiss ficou encarregue da divulgação dos “Twitter Files 2”, o que fez através da sua conta no Twitter e também via The Fress Press (A Imprensa Livre, em tradução livre), um órgão de comunicação social fundado por esta jornalista que foi editora no The Wall Street Journal e do The New York Times.

No primeiro tweet de uma série de 30 tweets sobre o tema, Bari Weiss escreveu: “Uma nova investigação #TwitterFiles revela que equipas de funcionários do Twitter construíram listas negras, impediram que os tweets não apreciados se tornassem uma tendência e limitaram ativamente a visibilidade de contas inteiras ou mesmo tópicos de tendência — tudo em segredo, sem informar os utilizadores”.

No caso do professor de Stanford Jay Bhattacharya, o primeiro exemplo que Weiss dá, “o Twitter colocou-o secretamente numa “Lista Negra das Tendências”, o que impediu que os seus tweets se tornassem uma tendência”.

A jornalista dá outro exemplo como o da conta do apresentador de um popular talk show com uma orientação política de direita, Dan Bongino que foi incluído na “Lista Negra de Pesquisa”. Em outro exemplo, o activista conservador Charlie Kirk foi colocado numa lista negra de contas com ordem para não amplificar a sua visibilidade.

Mas, destaca Weiss, o Twitter assumira sempre que jamais fizesse “estas coisas”, ou seja, que a política desta rede social nunca discriminaria ninguém. E a jornalista recorda mesmo que, em 2018, Vijaya Gadde, então responsável de Política Legal e Confiança do Twitter, e Kayvon Beykpour, director de Produto, garantiram que “não fazemos shadow ban (acto de reduzir visibilidade de contas e conteúdos)”. E reforçaram: “E certamente não fazemos shadow ban baseada em pontos de vista políticos ou ideologias.”

A investigação da Bari Weiss apurou ainda que aquilo a que “muitas pessoas chamam de shadow ban, executivos e funcionários do Twitter chamam de Filtragem de Visibilidade ou VF [nas iniciais em inglês]”, aditando que “várias fontes de alto nível confirmaram o seu significado” aos jornalistas dos “Twitter Files”.

A rede social, antes da entrada de Elon Musk na empresa, usou assim a VF para “bloquear pesquisas de utilizadores individuais; limitar o âmbito de descoberta de um determinado tweet; bloquear publicações selecionadas de utilizadores de alguma vez aparecerem na página tendências; e da inclusão em pesquisas de hashtag [tópicos começados com o símbolo #]”.

Dois funcionários da rede social garantiram ainda aos jornalistas dos Twitter Files que controlavam “bastante a visibilidade e amplificação do seu conteúdo”, acrescentando que “as pessoas normais não sabem o quanto fazemos”.

Para a prossecução destas práticas, o Twitter tinha um grupo que decidia quais as contas cujo alcance e visibilidade seriam limitados, baptizada de “Equipa de Resposta Estratégica” (Global Escalation Team, em inglês, ou SRT-GET). Este grupo “lidava frequentemente com até 200 casos por dia”, relatou Weiss.

Mas existia ainda um segundo nível de decisão, além dos moderadores que seguiam a política da empresa que estava estabelecida “no papel”. Este segundo nível era conhecido como “Política de Integridade do Site, Suporte à Escalada de Políticas”, ou “SIP-PES”, nas iniciais em inglês. Este grupo secreto “incluía Vijaya Gadde, Yoel Roth, responsável Global de Confiança e Segurança, os presidentes-executivos subsequentes Jack Dorsey e Parag Agrawal, entre outros”.

Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

Uma das contas escrutinada ao nível deste grupo secreto foi a Libs of TikTok — uma conta que estava na “Lista Negra das Tendências” e foi designada como “não tome medidas sobre o utilizador sem consultar com o SIP-PES”. Aquela conta — “que Chaya Raichik [a quem a conta é atribuída] começou em Novembro de 2020 e tem agora mais de 1,4 milhões de seguidores — foi alvo de seis suspensões só em 2022″. Em cada suspensão, a conta ficado impedida de publicar por uma semana.

A autora da conta foi sendo informada de que a suspensão se devia a conduta de ódio, mas a investigação de Bari Weiss encontrou uma nota do grupo secreto “SIP-PES”, de Outubro de 2022, após a sétima suspensão, admitindo que a conta “não adoptou diretamente nenhum comportamento que violasse a política de Conduta de Ódio”.

Weiss revelou também que o grupo justificou internamente as suspensões, alegando que os tweets da Libs of TikTok encorajavam o assédio online de “hospitais e prestadores médicos” ao insinuar que “os cuidados de saúde de afirmação de género equivalem a abuso ou aliciamento infantil”. Mas quando a morada e uma foto da residência de Raichik foram divulgados, o Twitter considerou que nenhuma regra tinha sido violada e permitiu que o conteúdo permanecesse online.

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Entretanto, soube-se ao longo desta semana que a divulgação da segunda parte dos “Twitter Files” sofreu um adiamento depois de se ter descoberto que James Baker, um antigo advogado do FBI (Federal Bureau of Investigation), contratado pela anterior administração do Twitter em 2020, esteve envolvido no processo de selecção de documentos a serem fornecidos aos jornalistas que estavam a trabalhar nos “Twitter Files”.

Segundo revelou Matt Taibbi, o advogado James Baker “é uma figura controversa”, é uma “espécie de Zelig de controvérsias do FBI, que remontam a 2016, desde o Dossier Steele até à confusão do Alfa-Server”. Taibbi lembrou ainda que Baker saiu do FBI em 2018, após uma investigação sobre fugas de informação para a imprensa.

Musk acabou por demitir Baker e garantiu que iria divulgar toda a informação que encontrasse sobre as práticas de censura praticadas pelo Twitter no passado, admitindo que parte dos dados pudessem já ter sido apagados.

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A divulgação das antigas práticas de censura do Twitter está a incomodar certos meios políticos, sobretudo do Partido Democrata, nos Estados Unidos, e também está a causar desconforto entre os media tradicionais, os quais se viram completamente postos de lado nesta investigação. Musk, que também lidera a Tesla, tem frequentemente criticado a actuação da generalidade dos media mainstream, os quais, em geral, têm recusado publicar notícias sobre os “Twitter Files”, com algumas excepções.

Até agora, a documentação interna do Twitter já revelada mostra uma maior inclinação de antigos responsáveis e funcionários da rede social para censurar e perseguir contas e conteúdos de ideologia mais conservadora. Elon Musk veio recentemente já levantar a forte suspeita de que as práticas antigas do Twitter poderão ter favorecido a esquerda nas eleições no Brasil, embora até agora não tenha apresentado provas.

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