Twitter criou regras especiais para banir Trump

#TwitterFiles: Musk quer Fauci no banco dos réus

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por Maria Afonso Peixoto e Elisabete Tavares // Dezembro 11, 2022


Categoria: Imprensa

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No dia em que o Twitter admitiu ter criado regras exclusivas para banir o antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump da rede social, Elon Musk partiu para um ataque contra Anthony Fauci. Numa curta mensagem (tweet), o novo dono do Twitter escreveu de forma irónica: “Os meus pronomes são Processar/Fauci”. Antes, Musk publicara um tweet com uma imagem cómica (meme), tendo Fauci como alvo. O conselheiro-chefe para a saúde do presidente dos Estados Unidos tem sido o rosto de defesa de medidas rígidas, sobretudo durante a Administração Biden, como os confinamentos e o uso de máscaras, e também da toma obrigatória das várias doses de vacinas contra a covid-19. Musk, que lidera também a Tesla, tem estado a divulgar indirectamente documentos internos do Twitter que mostram como a rede social aplicava técnicas de censura a contas e conteúdos, incluindo de cientistas que criticavam a gestão da pandemia.


O Twitter admitiu hoje que criou uma política nova para poder banir da rede social o antigo presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Mas, enquanto continuam a ser divulgados os “Twitter Files”, com as antigas práticas de censura aplicadas pela rede social, o novo dono do Twitter, Elon Musk, atraiu as atenções com um ataque feroz que lançou contra Anthony Fauci, o epidemiologista que abandona no final deste mês, dias depois de completar 82 anos, a liderança do Instituto de Doenças Infecciosas do país (NIAID, na sigla em inglês), e que aconselhou a Casa Branca no combate à pandemia de covid-19.

O ataque de Musk a Fauci surge quando o Twitter está a divulgar as antigas práticas de censura aplicadas na rede social por ex-executivos, abrindo a especulação de que pode ter na manga informações sobre supressão de informação que tenha sido feita em torno do tema da pandemia de covid-19.

Anthony Fauci, conselheiro-chefe de Joe Biden para a saúde.

Musk, que é também co-fundador e líder da Tesla, fez na manhã deste domingo publicações provocadoras que visam Fauci, que se tornou no rosto das medidas drásticas e sem precedentes que têm sido aplicadas na pandemia de covid-19, como os confinamentos da população e a imposição de máscaras, bem como da toma das várias doses de vacinas, apesar de estas não impedirem nem a infecção nem o contágio. Fauci inspirou-se nas medidas implementadas na China no início de 2020.

Além de ter partilhado um “meme” sugestivo com as figuras de Fauci e Joe Biden, onde se lê “Just one more lockdown, my king…” [“Só mais um confinamento, meu rei…”], Musk acrescentou uma hora depois um novo tweet: “My pronouns are Prosecute/Fauci” [Os meus pronomes são Processar/Fauci].

Extremamente activo na sua rede social, Musk também escreveu que “o Twitter tem sido o Wormtongue para o Mundo”. Personagem (fictício) da obra do escritor J. R. R. Tolkien, O Senhor dos Anéis”, Wormtongue era o conselheiro-chefe do rei Théoden, representando alguém que não é de confiança.

O ataque de Musk a Fauci acontece numa altura em que foram divulgados mais detalhes das operações de censura que o Twitter aplicava de forma vasta e tendenciosa ao longo dos últimos anos, e que teve como alvos desde um especialista de topo que era contra o confinamento na pandemia, como vozes do espectro político mais conservador.

Nas informações mais recentes, tornadas públicas hoje, ficou a saber-se que os antigos executivos do Twitter criaram uma nova “política” com vista a poderem suspender permanentemente a conta do então presidente norte-americano Donald Trump, no rescaldo da invasão ao Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021, apesar da decisão ir contra os próprios termos da rede social.

Estas são as principais informações que constituem a quarta parte da investigação denominada “Twitter Files”, publicada durante este sábado, e que expõe as reacções dos funcionários ao ataque ao Capitólio e subsequente escrutínio por parte de Trump e dos seus apoiantes, que foram acusados de difundir “teorias da conspiração” sobre uma alegada fraude eleitoral. Por “incitamento à violência”, o Twitter viria a expulsar o antigo presidente da plataforma em 8 de Janeiro do ano passado.

Elon Musk tem vindo a delegar em jornalistas independentes, fora do mainstream, a tarefa de investigar e divulgar os documentos internos do Twitter. Os jornalistas têm também entrevistado funcionários da rede social. A divulgação da informação tem sido feita por partes, sempre através do Twitter, a única condição acordada entre os jornalistas independentes e Musk.

[O PÁGINA UM tem acompanhado e divulgado as revelações tendo já publicado três notícias: sobre a primeira parte; a descoberta-surpresa que levou ao adiamento da publicação da segunda parte da informação; e sobre a segunda e terceira partes do caso.]

A exposição de mais uma parte dos “arquivos do Twitter” ficou, desta vez, a cargo de Michael Shellenberger, activista climático e antigo candidato pelo Partido Democrata, depois dos documentos já revelados pelos jornalistas Matt Taibbi e Bari Weiss.

A braços com pressões internas para banir Donald Trump da plataforma, o antigo CEO do Twitter, Jack Dorsey – que estava de férias na Polinésia Francesa na semana em que ocorreu o ataque ao Capitólio –, disse à sua equipa que a empresa “tinha de se manter consistente com as suas políticas, incluindo o direito dos utilizadores de regressarem ao Twitter após uma suspensão temporária”. No entanto, Dorsey acabaria por relegar grande parte das decisões a altos executivos, com destaque para Yoel Roth, antigo chefe do departamento de “Confiança e Segurança” da rede social.  

As conversas agora divulgadas entre Yoel Roth e um funcionário cuja identidade não foi revelada, mostram o seu contentamento quando Jack Dorsey finalmente dá o seu aval para a criação do estatuto de “repeat offender”, que determinaria a suspensão permanente de um utilizador do Twitter após cinco “strikes” “[violações]” das normas, e que viria a ser aplicado para suspender a conta de Trump.

Donald Trump era ainda presidente dos Estados Unidos quando foi alvo de políticas de censura por parte de ex-executivos do Twitter. A censura foi aplicada inclusive durante a campanha para as eleições presidenciais que acabaram por dar a vitória ao candidato do Partido Democrata, Joe Biden. O Twitter admitiu, no âmbito dos “Twitter Files”, que protegeu Biden, ao impedir a partilha de informação sobre o escândalo em torno do portátil de Hunter Biden, do filho do atual presidente dos Estados Unidos. O Twitter também censurou contas de utilizadores do espectro político conservador.

No entanto, esta decisão foi tomada em “contra-mão” com as normas desta rede social. Como explica Shellenberger, havia uma “política de excepção” que permitia que os governantes se mantivessem na plataforma, mesmo se as suas publicações violassem as regras, pois estaria em causa matéria de interesse para o público.

As mensagens reveladas mostram que Roth queria suspender também a conta de Matt Gaetz, um político conservador. Mas faltava-lhe um motivo. Assim, decidiu utilizar a mesma justificação que usou para expulsar Trump: “conspiração que incita à violência”.

Além destes aspectos, a quarta parte dos “Twitter Files” revelou o pedido de Yoel Roth a um colega para que acrescentasse “stopthesteal” [“páremoroubo”] e “kraken” às “listas negras” de hashtags a serem censuradas. “Stopthesteal” aludia à manipulação das eleições que Trump e os seus apoiantes diziam ter ocorrido, e os funcionários do Twitter consideravam “notícias falsas”. Por seu turno, “kraken” foi um termo usado por proponentes da famigerada conspiração intitulada “QAnon”. 

Shellenberger afirmou que os funcionários do Twitter utilizavam muitas vezes o termo “one-off”, e explicou que “O seu uso frequente revela discrição significativa dos funcionários sobre quando e se aplicar rótulos de advertência em tweets e ‘strikes‘ aos utilizadores.”

Elon Musk comprou o Twitter em Outubro passado por 44 mil milhões de dólares e prometeu revelar antigas práticas de censura desta rede social.

O “plano” encetado para suspender o antigo presidente da rede social mereceu, na altura, a reprovação de apenas um membro júnior da equipa, que declarou: “Pode ser uma opinião pouco popular, mas decisões ad hoc como esta, que não estão sustentadas na nossa política, são areias movediças (…) e reflectem um problema alternativo igualmente ditatorial (…)”. No passado, várias figuras públicas, incluindo a antiga primeira-dama, Michelle Obama, já tinham apelado a que as grandes tecnológicas de “Sillicon Valley” banissem Donald Trump das suas plataformas.

Para contextualizar esta actuação contra Trump por parte dos executivos do Twitter, Michael Shellenberger lembrou que a cúpula da empresa é maioritariamente “progressista” [termo frequentemente utilizado para designar a esquerda radical] e que mais de 95% dos donativos políticos feitos pelos funcionários em 2018, 2020 e 2022 foram para democratas.

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