É conhecida a história e a lenda de Charles “Pretty Boy” Floyd, um criminoso e ladrão de bancos que, segundo rumores, destruía durante os assaltos notas de hipotecas, libertando assim agricultores (e as suas famílias) do risco de bancarrota. Foi um vilão/herói, cujo destino se coseu, ponto a ponto, com o da Grande Depressão. Foram milhares os que choraram a sua morte, em 1934.
Nem sempre a linha que separa o ser-se um herói ou um vilão é clara. Para as forças policiais, Floyd era um assassino e um assaltante de bancos. Para muitas famílias, foi um Robin dos Bosques do seu tempo.
Os anos 20 do século XXI também estão a produzir castas de heróis que são vilões, e vilões que são heróis. Vivemos numa época de polaridade e divisão. Um Mundo que parece, desde 2020, estar partido ao meio, na política, nas famílias, na Ciência…
Não falo de vilões bandidos, criminosos, assaltantes de bancos, nem falo de heróis que são Robins dos Bosques. Falo de um outro tipo de heróis/vilões, que têm surgido como retrato desta época de polaridade que vivemos. Uma época tribal, em que os heróis de uma tribo são os vilões de outra, e em que a “religião” que é o wokismo veio trazer à tona muito do que de mau a Humanidade pode produzir: totalitarismo, censura, divisão, perseguição, cancelamento, dogmatismo.
Cristiano Ronaldo é um desses exemplos. Reúne todas as características para ser um herói e, contudo, alguns tratam-no como vilão. Para começar, reúne diversas características que enervam muitos dos que vivem na bolha “wokista” (numa versão pindérica lusa) da esfera mediática em Portugal: é rico, bem-sucedido, inteligente, bem-parecido, independente, venera a família – que é o seu pilar – e não anda em manada. Além disso, veio de um meio pobre, de uma família com dificuldades, e tem orgulho nas suas origens. Pior: pensa por si próprio. Pior ainda: ninguém o viu a vender máscaras nem vacinas contra a covid.
Cristiano Ronaldo é um vencedor. De menino pobre, ascendeu a estrela maior do futebol e da identidade de Portugal. Há muito que é um Astro do Mundo e já não só de Portugal. E um certo Portugal, adepto da nova religião wokista, e que se acha importante porque aparece nas TVs, ainda gosta do drama, do fado e do destino. É pequenino, vive num cantinho. Já Ronaldo, é do Mundo.
Outro exemplo de vilão e herói dos dias de hoje é Elon Musk, co-fundador e líder da Tesla e novo dono do Twitter. Desde que concluiu a compra da rede social em outubro passado, Musk tornou-se num grande herói – para uns – e num terrível vilão – para outros.
Para dar contexto: o Twitter era o Céu na Terra da tribo woke. Era de uma “beatice insuportável” – definição de wokismo do jornalista João Miguel Tavares. E este wokismo anda de mãos de dadas com fascismo e cultura de cancelamento. Assim, o Twitter era como um território gerido por uma tribo com mentalidade woke e tiques fascistas, onde visões diferentes tinham direito a castigo e até expulsão. Quem frequentava o Twitter e era beato, estava simplesmente no Paraíso. Era lá que se podia encontrar a tribo woke (versão pindérica lusa) portuguesa.
Ora, isso mudou com a chegada de Musk. O milionário pegou na vassoura e começou por limpar as contas e conteúdos pedófilos que por lá viviam em plena harmonia com a censura dos conservadores e cientistas de topo que discordaram das medidas covid-19. Está também a limpar bots.
Mas a limpeza “da casa” não ficou por aqui: Musk chamou uma equipa especial, composta de jornalistas independentes, a quem entregou documentos internos sobre as malfeitorias que os antigos funcionários e ex-executivos do Twitter faziam. Musk quer tudo em pratos limpos para fazer do Twitter uma rede social verdadeiramente global e onde o debate é real. E livre.
Ora, isso não agradou MESMO NADA a muitos. As revelações da roupa suja da censura que era aplicada na rede social chama-se #TwitterFiles, e vai já no quinto episódio de uma série hoje mais popular do que muitas no Netflix. [Pode ler aqui a cobertura que o PÁGINA UM está a fazer].
E promete aquecer ainda mais! Musk prometeu revelações sobre a censura em torno da covid-19. Como aperitivo, o magnata atacou ferozmente Anthony Fauci, conselheiro do presidente dos Estados Unidos e o rosto das medidas sem precedentes adoptadas na pandemia – como confinamentos, máscaras e vacinas obrigatórias.
O Twitter é, hoje, um espelho do Mundo, que está quebrado e ferido, após três anos de promoção da censura e incentivos ao ódio e à divisão e eliminação de direitos humanos e civis.
Hoje, Musk é herói para muitos. É um vilão para muitos também. Há quem peça que o nomeiem para Prémio Nobel da Paz. Há quem peça que ele seja processado na Justiça.
Aliás, é isso mesmo que Musk quer que aconteça a Fauci. “Os meus pronomes são processar/Fauci”, escreveu este fim-de-semana num tweet.
Fauci surge hoje como um outro vilão e herói, em simultâneo. Perante os ataques de Musk, muitos vieram em defesa de Fauci dizendo que “é um herói” e que “salvou vidas”. Para Musk, e muitos outros, no Mundo, Fauci é o pior dos vilões: acreditam que, disfarçado com capa de médico – e de bom –, Fauci levou à morte de milhares de humanos.
Musk foi directo numa resposta no Twitter, acusando Fauci de ter financiado uma pesquisa para tornar o coronavírus mais perigoso e mais transmissível para os humanos – “gain-of-function”. Fauci negou que a autoridade de saúde dos Estados Unidos tivesse financiado essa perigosa pesquisa, apesar do NIH ter admitido que uma entidade que financiou, e que colabora com o laboratório de Wuhan, quebrou as regras ao não relatar que conduziu investigação de coronavírus em morcegos.
Fauci, que está agora de saída do sector da saúde pública, arrisca mais investigações por parte dos republicanos por causa da sua eventual ligação, como diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infeciosas (NIAID), à origem da pandemia de covid-19.
Informação sobre financiamento deste tipo de pesquisa surgiu no Congresso norte-americano, sendo que se sabe que a autoridade de saúde dos Estados Unidos tem financiado pesquisa nesta área.
Fauci também defendeu os confinamentos, os quais foram fatais para muitos (é ver as mortes em excesso e por outras doenças, suicídios, etc.), além das sequelas que deixaram em crianças e a devastação que causaram na economia. Defendeu ainda a vacinação obrigatória contra a covid-19, mesmo sabendo-se que as vacinas não travam nem a infecção nem o contágio e podem causar reacções adversas. Por fim, defendeu ainda mecanismos de controlo e discriminação e o uso de máscaras – apesar de ter defendido o oposto no início da pandemia.
Musk e Fauci são hoje, em lados bem opostos, dois super-heróis para uns. E dois super-mega-vilões para outros. Será raro que ambos sejam vilões para uma mesma pessoa; ou ambos heróis para a mesma pessoa.
Uns desejam que Musk ou outro milionário compre o Facebook e promova o debate e a liberdade de imprensa e de expressão em mais redes sociais. Outros querem já o seu afastamento.
Uns querem endeusar Fauci – como em Portugal se endeusa o responsável pelo transporte e distribuição logística das vacinas, Gouveia e Melo – enquanto outros querem vê-lo na prisão por homicídio.
Sobre os três de que falei, pessoalmente, admiro Cristiano Ronaldo. Estou-lhe grata pela postura e excelente imagem que transmite do povo português. Admiro-o pela sua força e independência. Pela sua cabeça boa e forte apoio à família. Pelo caminho que trilhou com trabalho e talento. Por pensar por si próprio e não ir em manadas.
Elon: vejo-o como um homem de negócios puro. Diz que quer derrotar o wokismo e isso é bom – porque implica derrotar ideais fascistas, censura e cancelamento –, mas também penso que é porque pode lucrar muito com isso. O Twitter é hoje mais vibrante. Promove o debate. É uma rede social para “gente grande”, académicos, jornalistas, cientistas, malta sem medo de um bom debate de ideias. O oposto da mentalidade fascista e woke que por lá reinava na era pré-Musk.
Sobre Fauci, vejo-o como alguém que falhou. Não o vejo como herói. Nem como vilão. Falhou no combate à pandemia. Impingiu mecanismos fascistas e que violam direitos humanos. Vejo-o como alguém que sabe agradar e servir o poder político e, sobretudo, o económico. Alguém que jamais deveria estar num posto ligado a saúde pública, mas que teve a sorte de ser conselheiro de um presidente dos Estados Unidos numa pandemia global. Azar o nosso.
Já heróis, tenho muitos outros, que conheço, mas que não coloco os seus nomes por reserva da intimidade. “Herói” (ou “heroína”), para mim, nos dias de hoje, é aquela mulher, quatro vezes vacinada, que abraça o irmão e restantes familiares não-vacinados e com eles faz jantaradas em família (e, agora, os preparativos para o Natal). Ignora as chamadas nas TV e nos jornais para promover o ódio e a discriminação entre “os com vacina” e “os sem vacina”. Ignora os “especialistas” mediáticos que a seduzem para o ódio. Eles são os únicos que lucram com esta “guerra”, vendendo o ódio para se promoverem a si próprios e aparecerem mais e mais nos programas e nas revistas sedentos de sangue e terror.
“Herói” para mim é uma patriarca que, no alto dos seus 80 anos, se mantém sem nenhuma vacina contra a covid-19, soberana da sua saúde e do seu corpo, quando, à sua volta, filhos e noras vão na segunda e terceira doses. Uma “heroína” porque cuida de si e da sua saúde, tal e qual como acha que é melhor, como sempre o fez ao longo da vida. Não cede à propaganda das TVs, nem das caras lindas e hiper-maquilhadas das estrelas da música que aparecem em campanhas da Direcção-Geral da Saúde a promover as doses. E está saudável que nem um pêro. Vive como sempre viveu. E, como diz o filho, “está muito boa cabeça, mesmo”.
“Herói”, para mim, é o “puto” que, no meio da desgraça em que os seres humanos conseguiram transformar o mundo nos últimos três anos, aprendeu, de algum modo, a fazer-se a si próprio feliz, a continuar com a sua vida de escola, amigos e actividades.
“Herói”, é a “miúda” que saiu da depressão, ganhou coragem para seguir com um namoro com um rapaz amigo e agora já vislumbra o que quer fazer com a vida.
Esses são alguns dos meus “heróis”.
São aqueles e aquelas que continuam com as suas vidas, adaptando-se, decidindo por si, respeitando os demais. E amando. Amando, a si próprios. Amando, os seus. E amando aquilo que têm de bom e em comum. E isso é o mais valioso que há neste Mundo, por vezes, na aparência, tão perdido, mas que, afinal, só parece estar perdido nos jornais – e na sua desinformação, parcialidade e incentivo à divisão –, nas redes sociais – e na sua censura. Porque nas casas de muitos, nos corações de muitos, nas famílias de muitos, o Mundo está bem, bem encaminhado. Em muitos lugares, em muitos lares, o Mundo está num bom rumo.
E eu gosto desse rumo. Sem divisões nem ódios – celebrando a verdade, o amor e o que há em comum. Porque deve ser o nosso rumo. É o rumo certo. O único rumo que vale a pena seguir.