Perante a gravidade das revelações que têm sido feitas pelo caso “Twitter Files”, sobre as antigas práticas de censura da rede social, o ex-CEO da tecnológica, Jack Dorsey, veio assumir a culpa e dar algumas explicações. Dorsey defendeu que uma empresa como o Twitter deve ser resiliente contra a tentativa de controlo por parte de governos ou de empresas. Mas revelou que desistiu de tentar impor essa regra depois da entrada de um investidor activista no Twitter, no início de 2020, que pretendia afastá-lo do cargo. E alertou: “as empresas tornaram-se demasiado poderosas, e isso tornou-se completamente claro para mim com a nossa suspensão da conta de Trump”. E assume que o Twitter fez “a coisa errada para a Internet e para a sociedade”. Contudo, afastou que houvesse alguma agenda escondida ou planos ocultos por detrás das vastas práticas de censura, apesar de, na suspensão de Trump, a decisão ter sido claramente do foro ideológico e as mensagens internas apontarem para uma concertação entre executivos da rede social. Entretanto, o novo dono do Twitter, Elon Musk, sinalizou que poderão estar a caminho revelações sobre a censura que a rede social fez em torno do tema da pandemia de covid-19, com eventual envolvimento do governo norte-americano.
Jack Dorsey, o antigo presidente-executivo do Twitter, assumiu a responsabilidade pelas práticas de censura praticadas pela rede social sob a sua liderança, que incluíram a suspensão permanente da conta do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sem que tivesse havido violação de regras da empresa.
A reação de Dorsey foi feita no Twitter, onde remeteu para um texto publicado num blog. Esta resposta de Dorsey surge na sequência do caso “Twitter Files”, que trouxe à luz do dia documentos internos do Twitter que revelam a forma como antigos executivos da rede social censuraram contas de vozes conservadoras por motivos ideológicos, protegeram o então candidato presidencial democrata Joe Biden, e silenciaram cientistas de topo que se mostraram contra as medidas de combate à covid-19.
Também se ficou a saber que o Twitter reunia com o FBI e outras agências de informação norte-americanas na tomada de decisões. [Pode ler aqui a cobertura do PÁGINA UM aos “Twitter Files”.]
“Se quiserem culpar [alguém], culpem-me a mim e às minhas decisões ou falta delas”, asseverou Dorsey no seu texto. Explicando quais os princípios em que passou a acreditar, em relação ao funcionamento de redes sociais, após a sua experiência como co-fundador e líder do Twitter, Dorsey confessou que a rede social que dirigia “não atendia a nenhum” deles.
O empresário assumiu ainda ter desistido da sua visão para a plataforma após a entrada de um accionista activista nas acções da empresa em 2020, momento a partir do qual diz ter começado a planear a sua saída.
Dorsey não mencionou o nome do investidor mas tratar-se-á do fundo de investimento Elliot Management, de Paul Singer – um conhecido apoiante do Partido Republicano – que comprou, em Fevereiro de 2020, uma fatia de 4% do Twitter e movimentou-se para afastar o então CEO. Um acordo anunciado pelo Twitter, no início de Março, veio acentuar a perspectiva de saída de Dorsey e o reforço do poder do fundo na companhia.
No seu texto, Dorsey começou por dizer que as redes sociais não se devem vergar ao “controlo corporativo e governamental”; a remoção de conteúdos deve ser reservada ao seu autor original, e a “moderação” deve ficar a cargo dos algoritmos.
O empresário disse ser evidente que “os governos querem moldar e controlar o debate público” e que “usarão todos os métodos à sua disposição para o fazer, incluindo os media“. Para resistir a esse controlo, defende ser fundamental que as pessoas disponham de meios, e que esses meios sejam, em última análise, “detidos pelas pessoas”.
Para Dorsey, no entanto, a suspensão da conta de Trump, tornou “completamente claro que as empresas tornaram-se poderosas demais”. O co-fundador do Twitter vê como uma ameaça que governos ou corporações possam dominar o debate público, uma vez que abre portas a um “controlo centralizado”.
As informações expostas pelos “Twitter Files” evidenciaram um plano concertado pelos altos executivos da empresa para banir Donald Trump. Contudo, o antigo CEO da rede social disse continuar a acreditar que não existiram “más intenções ou planos ocultos”, e afirmou que a equipa agiu em concordância com “as melhores informações” que tinham na altura.
Dorsey admitiu ainda que um dos seus maiores erros foi ter criado ferramentas para que fosse o Twitter a moderar o discurso, ao invés de ferramentas para que os próprios utilizadores o fizessem. “Acredito fortemente que qualquer conteúdo produzido por alguém para a internet deve ser permanente até que o autor original decida excluí-lo”, afirmou, acrescentando que “remoções e suspensões de conteúdo não deviam ser possíveis”.
O empresário, que abandonou o cargo de presidente-executivo da gigante tecnológica em Novembro do ano passado, disse ser ainda seu desejo que “o Twitter e todas as empresas se tornem desconfortavelmente transparentes em todas as suas ações”. E confessou: “gostava de ter forçado mais [isso]”.
Segundo Dorsey, a solução para um excessivo controlo corporativo e governamental do debate público passa obrigatoriamente por um “protocolo livre e aberto para as redes sociais”, que não esteja sob a alçada de uma única empresa ou grupo empresarial. E fornece alguns exemplos de projectos que, na sua opinião, estão a fazê-lo, como a Bluesky – que Dorsey fundou – e a Mastodon. O antigo CEO do Twitter comparou o seu modelo ideal a aplicar às redes sociais com a bitcoin e as redes descentralizadas, sendo que Dorsey é um adepto da criptomoeda mais valiosa do mundo.
Um assumido defensor da libertação de Julian Assange, Jack Dorsey revelou, por outro lado, que gostava que os polémicos “Twitter Files” tivessem sido divulgados ao “estilo Wikileaks”, com “muito mais olhos e interpretações a serem considerados”.
Elon Musk preferiu dar os documentos internos a jornalistas independentes, que os estão a analisar e a fazer as revelações, após ouvir também testemunhos de funcionários da rede social. Musk deixou completamente de lado os media mainstream, os quais critica frequentemente, acusando-os de parcialidade e falta de isenção. Aliás, poucos têm sido os grandes grupos de media a noticiar os “Twitter Files”, apesar da gravidade das revelações que têm emergido, e os que noticiam fazem-no sem dar destaque.
Dorsey deixou também uma palavra relativamente aos antigos executivos do Twitter que, com as suas conversas privadas reveladas, estão entre os principais visados com a divulgação dos documentos internos da empresa. “Os ataques actuais aos meus ex-colegas podem ser perigosos e não resolvem nada”, argumentou.
Saliente-se que Yoel Roth, o antigo chefe do departamento de Confiança e Segurança da rede social, tem sido alvo de ameaças, que se intensificaram durante o fim-de-semana, após rumores de que apoiava a pedofilia terem emergido. Na passada segunda-feira, a CNN noticiou, aliás, que o ex-funcionário do Twitter se viu mesmo obrigado a fugir de casa face a uma “tempestade de ataques”.
Quanto ao futuro, Jack Dorsey mostrou-se otimista e confiante de que a rede social que liderou está a caminhar em direcção a compromissos de “transparência”. “Não há nada a esconder… apenas muito a aprender”, reiterou.
Entretanto, aguardam-se novas revelações dos “Twitter Files”, antecipando-se que também surjam informações e documentos internos do Twitter sobre a censura que a rede social praticou em torno do tema da pandemia de covid-19.
Depois de ter publicado, recentemente, um conjunto de tweets em que atacou ferozmente Anthony Fauci, conselheiro para a saúde do presidente dos Estados Unidos, Musk respondeu hoje a uma questão sobre a censura que o Twitter aplicou em torno do tema da covid-19.
“Deixe-me adivinhar, descobriu mensagens entre executivos do Twitter e o nosso govt. [governo] (Fauci e equipa) a pressionar para a censura de alguém que não acompanhou a sua narrativa na covid?” questionou um utilizador no Twitter. Musk respondeu simplesmente com a imagem de um troféu.
Antes, já tinha sido revelado que um dos criadores da Declaração de Great Brarrington, que defende uma gestão da pandemia concentrada na “protecção focada”, Jay Bhattacharaya, foi alvo de diversas ferramentas de censura pelos antigos executivos do Twitters. Outros cientistas de topo foram mesmo suspensos, como foi o caso do inventor da tecnologia de mRNA, Robert Malone, tendo agora Elon Musk levantado essa suspensão.
Não foi só o Twitter que censurou cientistas e médicos durante a pandemia, tendo outras redes sociais executado acções similares, tal como grande parte dos maiores grupos de media, tendo chegado mesmo a permitir a divulgação de desinformação e artigos difamatórios sobre os “dissidentes”.