Recensão: Contos Arrepiantes da História de Portugal

Isto não são histórias de embalar

por Pedro Almeida Vieira // Dezembro 15, 2022


Categoria: Cultura

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Título

Contos arrepiantes da História de Portugal

Autores

RUI CORREIA e ANTÓNIO F. NABAIS (texto) e HÉLIO FALCÃO (ilustração)

Editora (Edição)

Nuvem de Tinta (1º vol., Junho de 2020; 2º vol., Outubro de 2020; 3º vol., Agosto de 2021; 4º vol., Setembro de 2022)

Cotação

16/20

Recensão

Por mais que a ficção, por vezes de forma anacrónica, pinte um quadro romântico da História dos nossos antepassados, sabe-se que a violência, a crua violência, era uma realidade constante do quotidiano, e, por mais voltas que se possam dar, os eventos e feitos mais marcantes, que ainda hoje repercutem, estão marcados a sangue, traições e outras infâmias. Fadas e princesas são, assim, meras fantasias para embalar crianças.

Embora não seja propriamente para embalar crianças, os quatro volumes de Contos arrepiantes da História de Portugal têm como destinatário preferencial um público juvenil, não apenas por recorrer à ilustração, para acompanhar cada uma das narrativas, mas sobretudo pelo tom humorístico e, talvez demasiado descontraído, como se relatam os mais escabrosos episódios históricos de Portugal.

Iniciada em 2020, com o volume dedicado à Idade Média, a que se seguiu o volume sobre os descobrimentos, Contos arrepiantes da História de Portugal continuou com um volume publicado no ano passado, tendo em Setembro sido editado o mais recente volume dedicado às revoluções.

O trabalho de “simplificação” e síntese dos eventos históricos de Rui Correia e António F. Nabais é extremamente meritório, não apenas pela extensão dos eventos que retratam nos quatro volumes – 35 em cada um –, mas muito também pelo rigor que mostram nos diversos eventos, mesmo se, aqui e ali, exageram na forma delicodoce como transmitem estes verdadeiros “contos arrepiantes”, que chegam a ser demasiado infantilizados. Em todo o caso, convenhamos que não deve ser fácil acertar no tom apropriado em função da idade do público, e, nessa medida, dá-se o benefício da dúvida aos autores, que saberão, por certo, e melhor do que o crítico, quem são os seus públicos.

Aliás, convém salientar que um dos autores, Rui Correia, além de leccionar História numa escola secundária das Caldas da Rainha, foi galardoado em 2019 com o Global Teacher Prize Portugal.

As ilustrações, com um humor muito peculiar – e que merecem ser vistas também nos detalhes –, da autoria de Hélio Falcão, têm apenas um “pequeno óbice”: duas irrequietas personagens (Teresa e Manuel), que vão comentando os eventos, que acabam por criar um desnecessário, e por vezes irritante, ruído nas narrativas. E os seus comentários estão pejados de estereótipos. Na verdade, estão ali a mais. Não valem a “pena”, porque nada acrescentam às excelentes ilustrações, que viveriam até melhor sem estes dois "jovens"; e nada acrescentam aos textos.

Para a época natalícia, esta colecção da Nuvem de Tinta, uma chancela da Penguin Random House, parece-nos uma muito boa opção de oferta para um público juvenil que necessita, por um lado, de uma introdução à nossa complexa História e, por outro, de não perder o contacto com os livros físicos, esses intemporais objectos de conhecimento.

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