Tinta de Bisturi

A invasão do Centro de Reabilitação Rovisco Pais

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por Diogo Cabrita // Dezembro 18, 2022


Categoria: Opinião

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Dados estatísticos que fundamentem a decisão sobre o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e sua construção – e inclusive o seu aumento ou extensão para Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro (vulgo, Rovisco Pais) e ao Hospital de Cantanhede – são, por certo, de uma acuidade intocável. Fui ver!

Apresenta estudos bem-feitos de índices de saúde na Região Centro, mas terminam em 2015. Não devem ser estes que fundamentam a decisão.

O Instituto Nacional de Estatística em 2020 disseca diversos pontos, revelando, por exemplo, que a região do país com menos camas é a do Centro; nesta região os internamentos especializados são os mais longos (incluam aqui o Rovisco Pais), e as despesas de saúde têm aumentado, sendo agora 9,4% do PIB (o caminho traçado de alterações parece não ter qualquer sucesso), o valor da despesa privada está a diminuir e a pública a aumentar (o fim das PPP não foi avaliado). Nada sugere que a concentração seja um bom caminho.

Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro é uma unidade especializada da rede de referenciação hospitalar de medicina física e de reabilitação do Serviço Nacional de Saúde.

Um trabalho importante – que todos os anos alguns insistem em escrever e os políticos gostam de esquecer – é o do Observatório Português do Sistemas de Saúde, de onde retiro uma frase que contraria a fusão em mega-estruturas: “E, diga-se também, que não valerá a pena insistir na inaceitável ideia das falsas urgências: se o recado pode ser aceitável para quem desenha os serviços e o acesso a eles – embora também por aí algo injusto, pois não se pode imaginar que é possível uma mudança radical num curto espaço de tempo – o que se exige é não culpar a vítima. Espera-se antes a evidência de um caminho que progressivamente racionalize o acesso aos cuidados e no qual as telecomunicações podem ter um papel essencial.”

Para a solução dos problemas não tem bastado construir mais e cada vez maior, excepção feita aos apocalípticos cruzeiros de agora, aos mega-aviões. Como sempre, eles condicionam problemas graves de ambiente que vão obrigar a repensar o conceito. Na saúde, o conceito do cruzeiro tem seus defensores em entidades privadas – como o Hospital da Beneficência do Brasil, ou o Hospital das Clínicas de São Paulo.

São estruturas orientadas para o lucro, financiadas por grandes grupos económicos onde os direitos não são iguais aos dos sindicatos da Função Pública portuguesa nem aos compadrios políticos desta alma pátria.

Centro de reabilitação funciona na Quinta da Fonte Quente, na freguesia da Tocha (concelho de Cantanhede), desde 1996.

Outra ideia forte deste relatório é o da domiciliação de cuidados que ganha força no mundo e contraria totalmente estas concentrações apocalípticas.

Ou seja, a decisão de assaltar “Mariupol” (Rovisco Pais) ou “Donetsk” (Cantanhede), como já se fizera à “Crimeia” (Covões/ Maternidades) tem a mesma lógica do Putinismo mais primário: invadir sem plano e sem estratégia, abafar e apagar. Dos planos escritos não há nenhum que nos indique esta solução escolhida “superiormente”.

Os erros de Cantanhede e Rovisco Pais foram desenhados em estratégias obtusas do PS que os converteu em locais de emprego de militantes – que denunciei no seu tempo próprio –, gente que foi para destruir e empregar votos em vez de corrigir os defeitos e transportar soluções. Quando menos se trabalhava nessas casas era quando mais gente ficava funcionária delas. Votos comprados para o PS.

Diogo Cabrita é médico


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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