Dados estatísticos que fundamentem a decisão sobre o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e sua construção – e inclusive o seu aumento ou extensão para Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro (vulgo, Rovisco Pais) e ao Hospital de Cantanhede – são, por certo, de uma acuidade intocável. Fui ver!
Apresenta estudos bem-feitos de índices de saúde na Região Centro, mas terminam em 2015. Não devem ser estes que fundamentam a decisão.
O Instituto Nacional de Estatística em 2020 disseca diversos pontos, revelando, por exemplo, que a região do país com menos camas é a do Centro; nesta região os internamentos especializados são os mais longos (incluam aqui o Rovisco Pais), e as despesas de saúde têm aumentado, sendo agora 9,4% do PIB (o caminho traçado de alterações parece não ter qualquer sucesso), o valor da despesa privada está a diminuir e a pública a aumentar (o fim das PPP não foi avaliado). Nada sugere que a concentração seja um bom caminho.
Um trabalho importante – que todos os anos alguns insistem em escrever e os políticos gostam de esquecer – é o do Observatório Português do Sistemas de Saúde, de onde retiro uma frase que contraria a fusão em mega-estruturas: “E, diga-se também, que não valerá a pena insistir na inaceitável ideia das falsas urgências: se o recado pode ser aceitável para quem desenha os serviços e o acesso a eles – embora também por aí algo injusto, pois não se pode imaginar que é possível uma mudança radical num curto espaço de tempo – o que se exige é não culpar a vítima. Espera-se antes a evidência de um caminho que progressivamente racionalize o acesso aos cuidados e no qual as telecomunicações podem ter um papel essencial.”
Para a solução dos problemas não tem bastado construir mais e cada vez maior, excepção feita aos apocalípticos cruzeiros de agora, aos mega-aviões. Como sempre, eles condicionam problemas graves de ambiente que vão obrigar a repensar o conceito. Na saúde, o conceito do cruzeiro tem seus defensores em entidades privadas – como o Hospital da Beneficência do Brasil, ou o Hospital das Clínicas de São Paulo.
São estruturas orientadas para o lucro, financiadas por grandes grupos económicos onde os direitos não são iguais aos dos sindicatos da Função Pública portuguesa nem aos compadrios políticos desta alma pátria.
Outra ideia forte deste relatório é o da domiciliação de cuidados que ganha força no mundo e contraria totalmente estas concentrações apocalípticas.
Ou seja, a decisão de assaltar “Mariupol” (Rovisco Pais) ou “Donetsk” (Cantanhede), como já se fizera à “Crimeia” (Covões/ Maternidades) tem a mesma lógica do Putinismo mais primário: invadir sem plano e sem estratégia, abafar e apagar. Dos planos escritos não há nenhum que nos indique esta solução escolhida “superiormente”.
Os erros de Cantanhede e Rovisco Pais foram desenhados em estratégias obtusas do PS que os converteu em locais de emprego de militantes – que denunciei no seu tempo próprio –, gente que foi para destruir e empregar votos em vez de corrigir os defeitos e transportar soluções. Quando menos se trabalhava nessas casas era quando mais gente ficava funcionária delas. Votos comprados para o PS.
Diogo Cabrita é médico
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