Serviços de informação norte-americanos davam indicações para censurar

#TwitterFiles: Como a CIA influenciou a censura de conteúdos no Twitter durante anos

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por Maria Afonso Peixoto // Dezembro 27, 2022


Categoria: Imprensa

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Depois de se saber que o Twitter serviu durante anos como uma espécie de subsidiária do FBI, colaborou com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e que foi uma “arma” usada pelo Pentágono, foi agora revelado que também a norte-americana CIA reunia regularmente com antigos executivos daquela rede social. Está agora comprovado que os serviços de informação e segurança dos Estados Unidos indicavam ao Twitter o que censurar e quem perseguir na rede social. E que o Twitter foi usado, ao longo de anos, pelos serviços de informação e de defesa para fazer política, propaganda e como arma contra “adversários” e vozes incómodas. Em vários documentos internos do Twitter que têm estado a ser divulgados por iniciativa do novo dono da rede social, Elon Musk, ficou claro que os serviços de informação e segurança norte-americanos não “trabalhavam” apenas com o Twitter mas também com outras grandes tecnológicas e redes sociais.


Nas últimas séries dos chamados “Twitter Files”, já tinha sido revelado o “compadrio” que, ao longo de anos, existiu entre a plataforma tecnológica, agências de inteligência norte-americanas como o FBI, e o Departamento de Defesa, para a implementação de práticas de censura e amplas campanhas de desinformação no Twitter.

Agora, com a divulgação de novos documentos internos da empresa, no passado sábado, o jornalista independente Matt Taibbi assegurou que a CIA [Central Intelligence Agency] também fazia parte da ‘equação’.  

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Além de revelar que um antigo executivo do Twitter já havia trabalhado para a CIA, Taibbi divulgou comunicações internas que remontam a Julho de 2020 e que mostram Stacia Cardille, uma funcionária da rede social, a informar Jim Baker, antigo advogado do FBI e, na altura, recém-contratado pelo Twitter, de que a CIA também deveria “juntar-se virtualmente” a uma conferência onde participariam os quadros da gigante tecnológica e o FBI.  

Noutra mensagem, um agente do FBI, Elvis Chan, pergunta a dois executivos do Twitter se pode reencaminhar um “convite” a outra “OGA” (Other Government Organization), [em português, “Outra Organização Governamental”].

Matt Taibbi explicou que, de acordo com vários ex-agentes de serviços de informação norte-americanos, “OGA” é um “eufemismo” utilizado para designar a CIA. O jornalista referiu que um denunciante e antigo agente da CIA, John Kiriakou, “reconhece o formato” das comunicações que agora vieram a público, e que acredita que vêm mesmo daquela entidade governamental. 

Facto é que as reuniões entre executivos do Twitter, a Foreign Influence Task Force [FITF], membros do FBI e “um ou dois” participantes da dita “OGA” eram frequentes. Na “ordem de trabalhos” anexada nas convocatórias para as reuniões, um dos pontos a abordar era quase sempre um briefing da OGA”, que normalmente versava sobre assuntos estrangeiros.

Mas não eram apenas matérias ‘supranacionais’ que preocupavam e ocupavam as agências governamentais e a famosa rede social. A FITF e o departamento do FBI de São Francisco transmitiam também ao Twitter pedidos de “moderação” de outras entidades, nomeadamente de polícias locais, sobre assuntos “domésticos”. Ou seja, nacionais. Estas solicitações eram, com frequência, enviadas através do canal unidirecional Teleporter, e com um ‘temporizador’ para a sua autodestruição.

Saliente-se ainda que, segundo Taibbi, a “OGA” partilhava informações com plataformas com várias plataformas, incluindo o Yahoo!, a Twitch e o LinkedIn.

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Matt Taibbi afirmou que, sobretudo na véspera das eleições presidenciais de Novembro de 2020, as agências ‘inundaram’ o Twitter com pedidos respeitantes a centenas de “contas problemáticas”. Na verdade, pouco tempo antes das eleições, o abundante influxo de solicitações por parte do governo ‘obrigou’ mesmo a rede social a ter de criar um sistema de triagem de modo a ‘priorizar’ as mais urgentes.

A diligente monitorização de violações aos termos de uso do Twitter por parte das agências governamentais chegou a causar alguma perplexidade entre os executivos da rede social. Numa troca de mensagens, Jim Baker comentou com Stacia Cardille: “estranho que eles estejam à procura de violações das nossas políticas”.

Como já tinha vindo à luz noutras séries de “Twitter Files”, a insistente procura de provas de interferência estrangeira pelas agências de inteligência norte-americana – que pareciam sempre escassas – levava os funcionários da rede social a ser “criativos” nas suas respostas, no sentido de ir ao encontro dos pedidos dos agentes governamentais.

Em Agosto passado, após ter ‘passado a pente fino’ uma série de contas, um analista chegou a responder que não encontrara “ligações à Rússia” mas podia “tentar encontrar uma conexão mais forte [à Rússia]” fazendo “brainstorm”.

Aos relatórios que os serviços de informação enviavam ao Twitter, que eram geralmente curtos, seguiam-se longas listas de contas ‘rotuladas’, por exemplo, como “pró-Maduro”, “pró-Cuba”, “pró-Rússia”.  Por vezes, eram mais de mil as contas a ser “digitalmente executadas”.

Os conteúdos dos relatórios iam desde a sinalização de contas com suposta “propaganda ucraniana neo-nazi” a alegações de que “as contas que acusam a administração de Joe Biden de corrupção na distribuição de vacinas fazem parte de uma campanha de influência russa” ou, ainda, de que um site que relatava violações de direitos humanos cometidas por ucranianos desde 2014 era “dirigido por agentes russos”.

De facto, as narrativas “anti-Ucrânia” estavam entre as mais perseguidas: em vários relatórios das agências governamentais, constavam precisamente as publicações em jornais, no Twitter ou no Youtube que disseminavam esse tipo de discurso.

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A divulgação de documentos internos do Twitter, sobre as antigas práticas de censura praticadas naquela rede social, partiu de uma iniciativa de Elon Musk, novo dono do Twitter. Musk tem estado a entregar documentação interna a jornalistas independentes e autores que fazem investigação, os quais têm estado a analisar e a publicar as suas descobertas.

Ontem, foram feitas novas revelações, as quais vieram comprovar que o Twitter censurou informação verdadeira sobre a pandemia de covid-19.

Antigos funcionários e executivos do Twitter também censuraram contas de médicos e especialistas com visões e soluções diferentes das adoptadas pelo governo norte-americano na gestão da pandemia. Segundo as novas revelações, até contas de utilizadores comuns foram alvo de censura, sendo suprimida informação com dados oficiais verdadeiros da CDC (Centers for Disease Control and Prevention).

[Pode ler aqui toda a cobertura dos “Twitter Files” feita pelo PÁGINA UM.]

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