Título
História do riso
Autor
Abílio Almeida
Editora (Edição)
Guerra & Paz (Outubro de 2022)
Cotação
10/20
Recensão
Há livros que, antes de serem lidos, são muito desejados, tal a expectativa que determinado título ou temática suscita junto dos leitores. Foi o caso desta História do Riso, título demasiado abrangente para o resumo que dela se aproveita, escrito por Abílio Almeida (n. 1991), doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho e investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade.
Composto por duas partes, em que na primeira, intitulada “O Riso no Pensamento: O conflito dos rostos do poder”, o autor pretendeu “entender a origem do conflito de perspectivas acerca do riso”, bem como a sua evolução até aos dias de hoje. Na Parte II, com o título “O Riso na Sociedade: Uma análise de fora para dentro”, o autor incidiu o foco “essencialmente nas muitas causas externas capazes de afectar as diferentes significações do riso”.
Para Margaret Mead (1901-1978), o riso era a expressão emocional mais distintiva do homem, aquilo que caracteriza e distingue o ser humano. Contudo, para Platão (428-348 a. C.), o riso pertencia “ao mundo dos ignorantes, dos que se alimentam apenas dos sentidos e que, de forma ignorante, riem da realidade.” No seu entender, “o sábio, o filósofo, aquele que jamais encontra motivo para rir, não olha com bons olhos para aqueles que riem, pois esses são não só ignorantes, mas também perigosos”. De acordo com Platão, o riso “pertence, por isso, àqueles que, por não serem capazes de entender a realidade, riem dela, e que, por não a entenderem, estão dispostos a acabar com ela.”
Através de vários exemplos, o autor tenta demonstrar como a interpretação do riso, “algo tão amplo e complexo quanto distinto e contraditório”, foi variando, “não só de época para época como de autor para autor.”
De entre os pais da Igreja, o mais ferrenho adversário do riso foi João Crisóstomo (347-407), arcebispo de Constantinopla, argumentando que, de acordo com as escrituras, Jesus Cristo nunca riu. Esta ideia criada por João Crisóstomo levou a que as pessoas acreditassem que Cristo nunca manifestara o seu riso, como também nenhum dos apóstolos ou santos alguma vez o fizera.
Não obstante, na Bíblia, o primeiro a rir é Abraão, com 99 anos, ao saber que sua mulher, Sara, com 90 anos, iria dar à luz um filho seu. Perante a novidade, Abraão pôs-se a rir. Curiosamente, esse inesperado filho chamar-se-á Isaac, nome que em hebraico significa “riso”.
Este livro é o resultado da tese doutoral de Abílio Almeida e assim chega aos escaparates. Infelizmente, é disso mesmo que o livro padece, quedando-se a presente edição espartilhada por coloquialismos académicos, a desfiar conceitos e argumentos, com citações extensas, umas em inglês, outras em alemão — como se os leitores comuns fossem poliglotas —, preocupando-se em demasia com a forma e as normas de referenciação, mas olvidando o ritmo do texto e, principalmente, da leitura, que deveria ser fluída como um sorriso. Algo que a temática em apreço, seguramente, mereceria.
Em bom rigor, esta História do Riso, em termos de conteúdo científico, certamente cumpre com honra a sua função de entreter a academia; todavia, devido à forma académica como se apresenta, pouco entusiasma o humilde leitor.