Correio Trivial

Finalmente, uma oposição a funcionar?

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por Vítor Ilharco // Janeiro 3, 2023


Categoria: Opinião

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Mesmo os mais aguerridos adversários de António Costa reconhecem-lhe talento político.

Mesmo os mais próximos dos companheiros do primeiro-ministro assumem que deve muito do seu sucesso à sorte.

Um talento especial que tem, na base, anos de observação atenta dos bastidores da política, onde conviveu com alguns dos mais experientes políticos portugueses e, facilmente, apreendido as técnicas, a arte e as manhas que o transformaram em vencedor.

Muitas das vezes esquecendo escrúpulos e amizades (lembro o caso Seguro, por exemplo) que pudessem fazer perigar, ou adiar, a chegada ao topo.

Determinado, confiante, frio, tenta disfarçar, em público, todo o seu autoritarismo com um ar de descontração e optimismo que se percebe ser inexistente em privado.  

António Costa é o exemplo acabado do político português com sucesso.

A sorte que o bafeja, há que reconhecer, tem muito de preparada e trabalhada.

Mas o inesperado joga, frequentemente, a seu favor.

Chega à liderança do seu partido por ter convencido os militantes que o seu antecessor, que tinha ganho as últimas eleições, se devia demitir por o ter conseguido por margem pequena.

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Perde as eleições seguintes, mas chega à liderança de um Governo democrático por ter beneficiado, numa situação irrepetível, do apoio das lideranças do Bloco de Esquerda e, principalmente, do Partido Comunista, que apostaram em lhe dar, no Parlamento, a maioria que precisava para governar.

Finalmente, conta com as guerras intestinas dos partidos de direita, que levaram ao afastamento de nomes fortes, passando a ser geridos por rematados incompetentes, o que leva a que ninguém tome a sério as poucas críticas feitas à sua gestão.

Com a esquerda a apoiar, ou a não contestar, as suas decisões e uma direita mais preocupada com a sua sobrevivência (que não conseguiu), todas as muitas falhas, suficientes para, em termos normais, fazer cair 10 Governos, foram sendo desculpadas e, até aceites.

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Por outro lado, um sem número de situações de extrema gravidade (a covid-19, a guerra da Ucrânia, etc.) fazem com que os problemas do país passem para segundo plano.

Tudo isto, há que reconhecer, com o apoio de uma fantástica e eficaz máquina promocional apoiada numa comunicação social dependente de patrocínios de vária ordem.

Com a aproximação de novas eleições, numa jogada política inteligentíssima, aposta numa “guerra intestina” no principal partido da oposição com um apoio mal disfarçado, mas cirúrgico, ao partido populista de direita que podia tornar aquele ainda mais frágil.  

E António Costa, mais do que o PS, consegue uma maioria absoluta.

Mérito extraordinário, há que reconhecer, só comparável à completa cegueira política do Povo português.

Para se manter em “estado de graça”, António Costa tenta rodear-se de todos os que lhe querem suceder, seguindo a velha máxima “ter os amigos perto e os inimigos ainda mais perto”.

Só que, esta regra tem, sempre, como perigo acoplado, a possibilidade de lutas internas com o despertar da “vontade de ir ao pote” sem aguardar pelo tempo certo.

Erros de cálculo, por precoces, de Marta Temido, Fernando Medina e principalmente Pedro Nuno Santos, unicamente por se quererem antecipar aos seus “rivais”, colocaram holofotes nas inúmeras fragilidades do Governo PS.

Inúmeros erros, constantes trapalhadas, ilegalidades sem conta, favorecimentos diários aos membros da família socialista, promessas incumpridas, começaram a ser relatadas diariamente.

O que, numa primeira fase, destrói os putativos sucessores acaba por fazer perder a confiança no líder já que ninguém acreditará que todos os erros denunciados foram cometidos à sua revelia e sem o seu conhecimento e concordância.

Pode aparecer, finalmente, uma oposição a António Costa.

De onde ele menos esperaria.

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De dentro do seu próprio partido.

O que nem sequer é original, como ele próprio concordará se analisar o seu percurso.

A história repete-se, dirão alguns.

O “karma” não falha, garantirão outros.

Eu, mais pessimista e menos dado à metafísica, limito-me a aguardar por mais um golpe de sorte que vai salvar António Costa de todos estes problemas.

Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


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