Título
Atlas mundial da água
Autor
DAVID BLANCHON (tradução: Maria Ana Matta)
Editora (Edição)
Guerra & Paz (Setembro de 2022)
Cotação
16/20
Recensão
Depois da pandemia, tem sido a questão energética a estar, actualmente, na ordem do dia. Não apenas pelo mediatismo (para além do drama humano) da invasão russa à Ucrânia e das consequências no fornecimento de gás à Europa, como também pela “emergência” das alterações climáticas, independentemente de se concordar ou não com as causas – e também atendíveis as hipocrisias dos políticos e das grandes empresas quanto às responsabilidades para a sua minimização.
Porém, não há nenhum outro “elemento” mais relevante para a vida humana, e mais perene como pomo de discórdia, do que a água. Ao longo dos milénios da civilização humana, a água desempenhou um papel fundamental, não apenas na fixação das populações, como no desenvolvimento de actividades económicas. Era água – ou a falta dela – que obrigava primitivas comunidades humanas a serem nómadas; foi o controlo sobre os recursos hídricos que permitiu que nos tornássemos sedentários. É certo que foi a agricultura, mas sem água não há agricultura.
Por maior que seja capacidade tecnológica humana, apenas de uma forma limitada se consegue alterar o “curso natural” das disponibilidades hídricas da chamada “água doce” – ou, mais concretamente, da água potável. A sua distribuição irregular do ponto de vista espacial e temporal é, infelizmente, uma questão incontornável; os efeitos daquilo que os vizinhos (a montante) fazem ou deixam de fazer é crucial.
Não poucas vezes, por isso mesmo, tem sido a água a estar na origem de imensos conflitos, alguns bélicos, outros mais discretos (diplomáticos), outros mais locais, mas não menos sangrentos. Muito mais até do que os recursos energéticos.
Ora, a obra Atlas mundial da água, da autoria do francês David Blanchon, geógrafo e professor da Universidade de Paris Nanterre, mostra de uma forma extremamente didáctica como esse bem renovável mas irregular se distribui pelo Mundo, revelando em simultâneo os seus benefícios e problemas, as suas ameaças e potencialidades, além dos desafios que se se colocam às sociedades para uma desejável gestão futura sustentável.
Este livro – que surge integrado numa colecção da editora Guerra & Paz sob o título comum Atlas Mundial (tendo sido já publicadas obras similares sobre África, Império Romano, Médio Oriente, Estados Unidos da América, Holocausto, Antigo Egipto, Guerra Fria e, recentemente, Mediterrâneo) – não tem pretensões académicas (pelo menos aprofundadas) nem de substituir muita informação mais detalhada que se pode “adquirir” em sites especializados em recursos hídricos.
No entanto, a forma cuidada e rigorosa como se encontra estruturado (e relativamente actualizado) este Atlas mundial da água é uma mais-valia para aguçar o apetite, ou saciar a sede de saber, de qualquer principiante ou mesmo um estudante na área do ambiente.
Além disso, o aprumo gráfico dos esquemas e mapas que acompanham os vários assuntos “devolvem" também o prazer de fazer a aprendizagem através de um livro – o que é fantástico nos tempos que correm, onde os jovens (que me parecem ser os principais destinatários) aparentam só querer aprender através dos smartphones.
Na verdade, tenho pena de ter feito a minha aprendizagem básica sobre recursos hídricos, na minha formação académica inicial, há mais de três décadas, sem ter um livro assim…