histórias que eu sei

Perguntei à minha bola de cristal

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A NATO anda à procura do sucessor do actual Secretário-Geral, que deverá sair do cargo em Outubro. Quem poderá ocupar o seu lugar? Será que há um português a ser preparado para o cargo? Ouça também esta crónica no P1 PODCAST.


Há coisas que preferia nem saber. Mas, como jornalista, vou recebendo informações de um lado e do outro. Podem ser simples confidências de amigos e fontes, misturadas com acontecimentos públicos aos quais se somam as habituais conversas que escuto nos transportes públicos ou nos balcões de café. Esqueçam as redes sociais, pois aí já aprendi que não se aprende nada.

As redes sociais ou são para desabafos pessoais, insultos e queixas egocêntricas ou simples desinformação. Não foi há dias que disseram que o primeiro-ministro tem 15 pessoas numa central de comunicação para espalhar “boa informação” pelas redes sociais? Sei que 15 é um número pequeno para um país de 10 milhões – onde metade, cerca de cinco milhões, votou nas últimas eleições –, mas são eles que, ao responderem aos ataques contra o governo, fornecem depois argumentos de defesa aos chamados influencers, mais ainda a conhecidas figuras mediáticas com um poder de formar opinião com alcance público de milhares de seguidores.

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No milagre da multiplicação de funcionários, sem necessidade de lhes pagar salários, a partir dos 15, constrói-se opinião de modo a garantir a vitória em próximas eleições – dos 10 milhões, 820 mil e 337 eleitores inscritos nas eleições de há um ano, o PS “só” precisou do voto de 2 milhões, 301 mil e 887 eleitores para ter a maioria absoluta. Há, portanto, 8 milhões, 518 mil e 450 portugueses com capacidade de voto que não se importariam de ver António Costa pelas costas.

E Costa sabe disso. Como qualquer ser humano, com filhos criados, já sem nada para provar, com um bom apartamento montado e, a nível interno, o cargo maior que ainda poderá ambicionar alcançar é o de Presidente da República, só lhe restam então duas alternativas: ou tenta ir para Belém, ou consegue um cargo internacional, de preferência, em Bruxelas. Será pouco provável que venha a ser Secretário-Geral das Nações Unidas, pois o seu camarada socialista, António Guterres, já esgotou a quota de nacionalidade portuguesa para os próximos 100 anos.

Perguntei então à minha bola de cristal, face a todos os tiros no pé deste Governo que, como disse o Presidente Marcelo à RTP, teve há um ano uma “maioria requentada” – que, para o meu gosto, até é boa nas tripas à moda do Porto –, o que poderá fazer António Costa? Será que vai manter-se em funções por mais três anos? É que, à minha volta, ouço muitas vozes que dizem que esta legislatura não vai ser para chegar até ao fim. Que será a primeira vez que um Governo com maioria absoluta poderá cair.

António Costa, primeiro-ministro.

Quem me conhece, sabe que não tenho bola de cristal.

Isto da pergunta era uma espécie de metáfora. No entanto, tenho estado atento a vários factos que vão ter desenvolvimentos no futuro e que nos poderão ajudar a encontrar algumas respostas. Por exemplo, há um emprego importante que vai ter uma vaga em breve em Bruxelas: Secretário-Geral da NATO.

Sim, o actual líder da organização do tratado militar do Atlântico Norte, Jens Stoltenberg – antigo primeiro-ministro norueguês –, já anunciou que pretende deixar o cargo em Outubro deste ano. E não faltam candidatos ao posto, vindos de todo os lados, pelo que a hipótese de António Costa poder trocar São Bento pela cadeira da NATO é até bastante remota.

Só que a hipótese existe. Tal como uma outra hipótese, ainda mais rebuscada, admito, que é a do lugar acabar por ser entregue à actual presidente da Comissão Europeia, a senhora Ursula van der Leyen, que teria o condão de agradar àqueles que gostariam de ver o cargo a ser ocupado por uma mulher e que, aponte-se, já com experiência a lidar com militares, pois era ministra da Defesa da Alemanha quando foi substituir Durão Barroso em Bruxelas.

Será que a saída antes do termo do seu mandato iria ser possível? E seria possível um primeiro-ministro português, chamado de emergência a Bruxelas, voltar a ser o líder da Europa?

São meras especulações, aviso. Mas digo-vos que nunca as estaria a fazer aqui, em aberto, se não tivesse já falado sobre o assunto com mais gente e se não soubesse que, em Maio, vai haver uma reunião em Lisboa, num hotel na Ajuda, para falar destas e outras coisas.

O resultado até poderá ser bastante diferente dos cenários para aqui avançados, mas que vão andar a falar sobre isso entre eles, isso vão. Basta estar atento depois ao que vai acontecer no mundo e não seremos apanhados de surpresa. E não preciso de nenhuma bola de cristal para saber isso.

Frederico Duarte Carvalho é jornalista e escritor


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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