VISTO DE FORA

Montenegro e a chapada em Ventura

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por Tiago Franco // Abril 17, 2023


Categoria: Opinião

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Luís Montenegro foi à CNN fazer serviço público. Começo com um elogio para dizer, em seguida, que acho o presidente do PSD um fraquíssimo candidato e uma óptima notícia para António Costa.

Ainda assim, e finalmente, durante a entrevista a Maria João Avillez, respondeu ele à questão que há meses lhe faziam: “vai com o Chega?”

Não, não vai. Pela primeira vez desde a era Rui Rio, que, à mesma questão, ele respondia “nim”. Desta vez, Montenegro foi claro na demarcação dos limites da cerca sanitária imposta ao Chega.

Luís Montenegro

Não quer coligações com políticos xenófobos, racistas e populistas. Seja no Governo ou no apoio parlamentar como acontece, por exemplo, na solução de governo encontrada na Suécia – onde os nacionalistas viabilizaram o Executivo de direita, a troco de várias medidas impostas no programa de Governo.

A atitude de Montenegro segue a tendência que, se a memória não me atraiçoa, os Liberais, na altura pela voz de Cotrim Figueiredo, já tinham iniciado nas últimas legislativas: recusa de qualquer coligação com o Chega.

Esta é uma excelente notícia para quase todos os partidos. Desde logo para o PS e para a esquerda que ganham novo fôlego. Uma coligação com o Chega valeria ao PSD, com as sondagens de hoje, um Governo de direita garantido. Os Liberais também poderão aproveitar a boleia de Montenegro e cativarem alguns votos à direita, de forma a “substituírem” o Chega nessa suposta aliança. Montenegro, como é óbvio, não fechou a porta a outras coligações porque sabe que, sozinho, terá dificuldades em vencer.

André Ventura reagiu como se esperaria a esta declaração de interesses, ou seja, com mais um disparate: vai avançar com a candidatura para primeiro-ministro sozinho e disputar a vitória com o PS. É esta a estratégia. Pessoalmente, acho bem. E se fosse líder da IL estaria agora a esfregar as mãos de contente, pelo maná que me estaria a cair no colo.

André Ventura

Voltemos à entrevista. Maria João Avillez cortou a palavra de cada vez que Montenegro falou no PS e obrigou-o a comprometer-se com a posição do Chega. Essa parte da entrevista foi engraçada, uma vez que ele, tal como Rui Rio, começou por fugir ao tema dizendo que era cedo, que ia lutar por maioria absoluta e que ninguém questionava o PS a propósito das alianças com a “extrema-esquerda” – um conceito muito próprio. Até disse que alguma esquerda portuguesa apoiava a invasão da Ucrânia por um Governo de extrema-direita (Montenegro também está baralhado como outros).

Avillez, como quem estava a tourear, só descansou quando o deixou de joelhos, e o homem lá disse que racistas e xenófobos não, e que, nesse perfil, nem CDS ou IL encaixavam. Por esta altura do campeonato, se para ver o Chega longe tivermos que aturar o Nuno Melo, até se pode considerar um mal menor.

Fico agora curioso para ver se Luís Montenegro manterá a palavra quando as sondagens forem mais a sério, e, já agora, para perceber que eleitorado mais conseguirá o Chega convencer.

Terão atingido o pico nas últimas legislativas?

António Costa

Eu acho que não. Até considero que as trapalhadas da maioria socialista estão a fazer, essencialmente, campanha eleitoral a favor de André Ventura. Ainda assim, não acredito que sozinho o Chega tenha capacidade de ameaçar a governação. Criada a cerca sanitária, se não for quebrada por ninguém, talvez seja possível viver e reduzir a quantidades de racistas e xenófobos na Assembleia da República.

A esperança da esquerda reside agora, e curiosamente, nos Liberais. As voltas que a vida dá.

Também não é um cenário animador, mas entre as trapalhadas do PS, uma coligação entre PSD/IL e qualquer coisa que meta o Chega, apesar de tudo, o cheiro não é o mesmo.

Tiago Franco é engenheiro de desenvolvimento na EcarX (Suécia)


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