O sedentarismo bulímico convoca para a saciedade de uma inexistência – comer por estar sentado – e está a conduzir a Humanidade à obesidade, e à epidemia maior do século.
O vírus gordo é a maior causa de morte, arrastando consigo a hipertensão, a diabetes, a obstipação, as doenças de sobrecarga das articulações e ossos, as doenças pulmonares, a doença do sono.
Este síndrome metabólico mata muito mais gente que o HIV, que o H1N1, que o SARS-CoV-2 –, aliás, mais que os três vírus juntos.
Numa governação para a saúde, a aposta dos Ministérios devia ser no combate ao sedentarismo e na defesa de estilos de vida saudáveis e por uma prevenção eficaz. Devemos perceber que há também o consumo de álcool como um multiplicador de gordura e uma permissividade social à sua utilização desenfreada.
Por outro lado, as Queimas das Fitas nas universidades, que se aproximam, são uma alarvidade etílica paternalmente consentida que envergonharia sociedades mais conservadoras.
Não é menos verdade que o inimigo público principal são os cartéis que influenciam a alimentação – e depois o tratamento das doenças derivadas da construção da obesidade.
Os clusters dos medicamentos influenciadores da cor, do gosto, do tamanho, da durabilidade dos alimentos estão já em todos os produtos processados e colocados à venda nos hipermercados.
O poder destas empresas estende-se ao que colocamos na terra, às rações dos animais, e aos ciclos de vida de espécies verdes e animais, nascendo mais depressa, crescendo mais rápido e reproduzindo-se mais vezes. ~
Este é o ponto de ordem para uma nova política, uma nova dimensão organizativa das sociedades. Aquilo que comemos e a forma como comemos é lugar de uma reestruturação do pensamento.
As consequências desta reflexão são ideológicas e definem outro posicionamento que já não será de esquerda ou de direita, nem conservador ou modernista.
O cidadão gordo, que se alimenta sem cuidar do trato que damos aos animais, sem pensar no sal que utiliza, nos açúcares que ingere, é um padrão em fim de ciclo.
Os cidadãos do amanhã saudável exigem uma mortandade menor, não querem as vacas que pastam onde esteve a Amazónia, escolhem menos produtos, praticam exercício, retiram os sofás da sala de estar, e colocam passadeiras para caminharem frente a uma televisão, que tentarão controlar nos seus conteúdos.
Estamos à porta de um confronto ideológico brutal onde tudo se modifica.
A comida cartelizada pelo leite e o açúcar é amiga dos grandes produtores do vinho e cerveja. Todos produzem e utilizam de modo liberal os adjuvantes que terão efeitos secundários perversos no corpo.
Os mesmos cartéis garantem que não morremos destas pequenas maleitas, pois são eles que detêm o poder da grande farmacêutica que está lá para nos manter um pouco doentes, mas duradouros, com ajuda de medicamentos.
O sedentário vai estar em confronto com o obstinado saudável. Ele também acredita nos suplementos da Big Pharma – mas agora são outros nomes, outras indicações e, sobretudo, servem para dar saúde. Os dois carregam telemóveis e ambos consomem aplicações que ajudam ao sedentarismo. Não vás, pede na app.
Diogo Cabrita é médico
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