RECENSÃO - SÉRIE DE TELEVISÃO

Rabo de Peixe

por Bernardo Almeida // Junho 4, 2023


Categoria: Cultura

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Título

Rabo de Peixe (2023)

Género

Drama: Thriller policial e comédia

País de origem

Portugal

Plataforma

Netflix

Criador

Augusto Fraga

Actores principais

João Condessa; Helena Caldeira; André Leitão; Rodrigo Tomás; Maria João Bastos; Salvador Martinha; Afonso Pimentel; Albano Jerónimo; Marcantonio Del Carlo; Kelly Bailley; Pêpê Rapazote

Nota

6/10

Recensão

Em Portugal, a Netflix abriu novos horizontes para a ficção portuguesa, e Rabo de Peixe, a série que estreou no final de Maio na plataforma de streaming, faz agora a sua travessia nos ecrãs mundiais. Baseada em (alguns factos) verídicos, criada e realizada por Augusto Fraga, produzida pela Ukbar Filmes, estamos perante uma série dramática com momentos de thriller e também alguma comédia à mistura.

Segunda série portuguesa a figurar na plataforma norte-americana, depois de Glória de Tiago Guedes, Rabo de Peixe conta a história de um grupo que vive na pacata aldeia de Rabo de Peixe, na açoriana ilha de São Miguel após o momento em que, subitamente, dá à costa uma tonelada de cocaína.

João Condessa é o protagonista e líder de um grupo de jovens neste enredo que interpreta o papel de Eduardo, um pescador que divide o seu tempo a cuidar do pai e a sonhar com uma vida melhor.

Helena Caldeira é, por sua vez, Sílvia, uma jovem que trabalha num videoclube e ambiciona sair da aldeia através dum concurso de beleza. André Leitão é Carlinhos, que tem uma relação homossexual transgressiva e, por isso vive, a angústia das relações no “escuro”. Por fim, Rodrigo Tomás é Rafael, uma ex-promessa de futebol tornado pescador que vive entre quem foi e quem quer ser.

Unidos pela amizade e a vontade de mudarem as suas circunstâncias, decidem traçar um plano para enriquecer e mudar a sua vida através do tráfego da droga que inopinadamente lhes seja dos mares.

A série conta ainda com várias participações de actores conhecidos da praça portuguesa: Maria João Bastos, no papel de inspectora trazida do Continente; Salvador Martinha, interpretando o polícia insular que funciona como uma espécie de comic relief; Albano Jerónimo, como chefe do elemento criminoso da aldeia; Afonso Pimentel como um fotógrafo excêntrico; Marcantonio Del Carlo como um correio de droga; e ainda Kelly Bailey como a filha rebelde do chefe da polícia local. A voz de narração fica a cargo de Pêpê Rapazote, que completa este elenco interpretando o papel de Uncle Joe, tio de Eduardo, um português que viveu muitos anos na América.

Todos são dirigidos por Augusto Fraga, nascido nos Açores em 1978, que pertence a uma nova geração de realizadores portugueses que estabelece um corte com o passado e com uma certa cultura de autor português. A influência anglo-saxónica é por demais evidente, quer nos diálogos quer na caracterização das personagens.

Na vertente técnica, essa influência está também presente nos filtros de cores, no fluxo das sequências e cortes de plano para plano. É uma rapidez pouco usual no meio português, mas já visto lá fora.

Ainda assim há que destacar a fotografia e o cuidado em mostrar, sobretudo em filmagens aéreas, a beleza dos Açores e em particular da ilha de São Miguel.

De resto, o fascínio pela América é algo que acompanha toda a série e, de certa, maneira mimetiza o desejo açoriano de emigrar para um imaginário paradisíaco que levou as gerações anteriores rumo ao país idealizado.

A opção tomada revela uma aposta pela ficção que vende e faz dinheiro onde nenhuma das personagens principais fala com o verdadeiro sotaque local, e o drama real da pobreza de Rabo de Peixe e das consequências que a droga trouxe, é substituída pela história de uns amigos que se aventuram em busca dos seus sonhos com o intuito de entreter a despeito da autenticidade.

Aliás, é essa a tónica desta série: os sonhos de jovens que são confrontados com as consequências das suas escolhas num jogo de rato e gato entre quatro amigos, a polícia e os barões da droga com alguma culpa católica à mistura.

De qualquer forma é uma fórmula que já demonstra o seu sucesso comercial, tendo já alcançado o sétimo lugar no top 10 global das séries distribuídas pela Netflix, e em Portugal é actualmente a série mais vista.

São, enfim, sete episódios de muita ficção, e baseada em poucos factos verídicos, e sobretudo muita “americanização”.

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