O Polígrafo – essa entidade obscura financiada pelo Facebook para combater a desinformação e censurar quem foge da narrativa – faz hoje, sob a pena do jornalista Gustavo Sampaio, uma das peças mais enviesadas do wokismo de que já assisti, para gáudio dos bons costumes. A partir de agora está decretado: caricaturar os lábios do Primeiro-Ministro é racismo. Daqui a nada, caricaturar só. Falar mal dele, também. Promulgue-se!
Para vitimizar o primeiro-ministro, fazendo eco do guru Luís Paixão Martins, de um suposto jornalista que faz serviços no Partido Socialista, e de uma directora de uma revista que adora parcerias com empresas estatais, que por sua vez terá aproveitado as palavras de António Costa a chamar “racista” a um dos manifestantes no passeio à Régua.
Escreveu Gustavo Sampaio que “sob uma caricatura do rosto de António Costa com nariz de porco, lápis espetados nos olhos e lábios sobredimensionados – ao estilo das personagens de “Tintim no Congo”, álbum de banda desenhada de Hergé publicado em 1931, notório estereótipo racista que era comum nos desenhos de pessoas africanas nessa época –, o primeiro-ministro enfrentou ontem um grupo de professores em protesto,”, para depois concluir ser “Verdadeira” a auto-pergunta: “Cartazes com caricatura racista de António Costa têm sido utilizados em manifestações de professores desde há meses?”
A caricatura – como forma de humor e sarcasmo, mesmo como crítica política – é assumidamente exagerada, jamais pode ser vista em sentido literal. Pode, no limite, uma caricatura ser de mau gosto, mesmo feia, falhar o alvo, mas jamais a expressão exagerada de uma característica física se deve classificar como racista. Enfim, tal como uma caricatura com lápis espetados nos olhos, não deve ser vista à letra. De contrário, comportamo-nos como os extremistas religiosos.
Mas aquilo que verdadeiramente se mostra surpreendente nesta tentativa de vitimização de António Costa – e na postura de um fact-checking enviesado – é a intencional falta de memória.
Fui rever a memória, pesquisando sobre caricaturas de António Costa, para saber como antes dos (agora racistas) professores lhe faziam os lábios, incluindo ao seu boneco no programa humorístico Contra-Informação.
Enfim, surpresa! Ó surpresa! Todas as caricaturas, sem excepção, o retratam com lábios exagerados. Eram preconceitos racistas e ninguém dizia nada? Foi preciso Luís Paixão Martins, Filipe Santos Costa, Mafalda Anjos e Gustavo ‘Polígrafo” Sampaio descobrirem racismo em lábios exagerados, tal como fazia esse malvado do Hergé nas aventuras do Tintim, não é?
Deixo aqui uma galeria “sacadas” da Internet, uma parte das quais publicada em órgãos de comunicação social. Escolhi as 20 primeiras que me apareceram.
Estas não eram racistas, portanto. Não, não eram. Só agora aquela que apareceu na Régua e em outras manifestações de professores são racistas, porque, enfim, começam a irritar o Primeiro-Ministro confrontando-o com erros de governação. Em que Mundo sisudo vivemos agora em que se pode desarmar um manifestante munido de uma caricatura chamando-lhe racista? E o Polígrafo foi criado mesmo para isto, não foi?