Tinta de Bisturi

O himalaia da estupidez

stainless steel scissor

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A covid-19, doença chegada de um mercado chinês sob transmissor ainda pouco claro, apesar de se terem massacrado milhões de visons, e acusado pangolins e morcegos, acabou por decreto.

Já não há doença! Ontem havia, mas agora não!

Destruídos milhões de negócios e empresas, desequilibrado o padrão mundial de comércio e chegado à mortalidade cataclísmica de 4,1 milhões de pessoas em três anos de desgraça. Os valores são crus e frios, não têm família, não gozam de emoções, e por isso, em 2019 só de doença cardiovascular morreram 9 milhões de pessoas no Mundo, mais do dobro de toda a crise covid-19. Estes números crescem a cada ano, e por isso, nos anos sob a ditadura pandémica, morreram 21 milhões de pessoas de doenças cardiovasculares e Doença Pulmonar Obstrutiva. Muitos milhões morreram de cancro e vários milhões de fome e outras infecções.

woman peeping at window

O que aprendemos da covid-19? Primeiro, que matava muitos idosos, e sobretudo aqueles que frequentavam residências, lares e cuidados continuados. Os idosos nas suas residências, autónomos, em seus lugares ficaram para contar a história do tempo em que ninguém os visitava, em que os plastificaram, em que lhes falavam com acrílicos de permeio.

Os lares, os lugares onde a concentração de idosos era maior, tiveram grandes dificuldades em conter o vírus. Nem as medidas mais fascistas, o desrespeito constitucional do direito à liberdade, a presença de escafandros, as desinfecções de mãos, pés e boca, contiveram o SARS-CoV-2. 

Então, países como a Suécia, a Dinamarca, introduziram uma discussão sobre os lares, as medidas de envelhecimento saudável, a opção autónoma, independente, o reforço do pensamento de que a nossa casa é um castelo defensivo.

a blurry photo of a man walking down a street

Os idosos amontoados são uma bênção das epidemias, são uma selva seca onde nasce a chama. A opção pode ser investir nos domicílios, subsidiar a colocação de polibans, a colocação de suportes de mobilidade, a educação e formação para exercício, o apoio aos familiares que cuidam.

Portugal foi numa via diferente. Portugal, através das suas cabeças extraordinárias, vai lançar mais cinco mil camas de cuidados continuados. Portugal vai ajudar a concentração, para preparar o cenário da próxima gripe, da próxima legionela, do SARS-CoV-3.

Por vezes, vou ao espelho e digo dez vezes que sou eu que não entendo, sou eu que sou estúpido, sou eu que ignoro os factos.

Depois, vejo os jornais, pesquiso e encontro números que demonstram como esta solução tem sido uma tragédia e uma indignidade. São imperdoáveis os dois anos de cárcere a que se votaram os idosos. O resultado foi que neles se deram as maiores taxas de mortalidade da covid-19 – aqui e noutros países.

Envelhecer é uma programação, tem uma logística própria, tem uma previsibilidade – não podes envelhecer e ficar sem acesso à tua casa. Não podes deixar-te num prédio sem elevador até à perda da locomoção.

two men playing chess

A nossa existência pode ser pensada com antecedência e o nosso envelhecimento deve ser equacionado e preparado. Claro que há instituições pensadas com sofisticação, com elevação, onde se encontram momentos muito agradáveis, actividades importantes para o bem-estar e a manutenção de tarefas.

Claro que há famílias limitadas nas opções, porque a vida é um tractor sem sentimentos, que nos lavra as vontades e desejos. Estúpido mesmo é optar por mais este serviço político de distribuir umas camas de cuidados continuados que vão ter custos de manutenção a ultrapassar os mil milhões. O investimento nos votos continua até que uma bancarrota regresse.  

Diogo Cabrita é médico


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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