Woke vem do inglês stay woke e para nós é um “acorda” intenso. Talvez um Acordai do Lopes Graça. Hoje todos temos uma concepção mais desperta para os problemas do Mundo, todos fomos catequizados pelo politicamente correcto e todos seguimos, revoltados, os maus tratos a animais e a pessoas. No entanto, a sensibilidade é escalável.
Os woke querem despertar a nossa revolta para os problemas ancestrais de escravatura, a segregação racial, sexual, identitária, etc. Há uma ocupação do espaço político pelo movimento woke. Parece que o uso da expressão se generalizou em 2014 com o movimento Black Lives Matter.
Os migrantes incluem-se nesta sopa woke. A sopa inflamatória dos woke, conjuga dezenas de temas e congrega a rede social num espaço vigiado, muito escrutinado que possuem línguas afiadas e viperinas. Um woke discorda de nós e imediatamente nos cataloga de fascista, retrógrado, racista, criminoso.
A gritaria recorda-me o Haka, gritado e encenado pelos neozelandeses e pelas neozelandesas antes dos jogos de rugby. O Haka woke é uma barbaridade sobre os que insistem nas touradas, sobre os que não seguem a cartilha da responsabilidade humana como principal causa de aquecimento global, sobre os que defendem que o excesso de gatos é uma praga para o ecossistema, sobre os que defendem prostituição legal e clara, sobre os que discordam da política das migrações europeia, sobre os que em nome da redução de consumo e de pegada ecológica acham que deve haver balizas aos pets, sobre os que não concordam com a humanização animal, sobre os que acham errado indemnizar a História, devolver patrimónios conquistados.
A Haka woke é uma igreja ululante e insultante que cai sobre quem ousar divergir dos seus paradigmas. A pandemia foi um exemplo da força descontrolada do eu opinativo sobre o respeito dos outros.
O eu opinado não necessita ser sábio, não carece de dúvidas; é um novo texto religioso que leva a mudar a escrita, obriga a alterar a linguagem, penaliza discursos. O grande problema é que nada é imutável e todo o conhecimento científico tem por pressuposto a incerteza, porque uma ínfima descoberta pode mudar todo um raciocínio bem construído.
Mas hoje há milhões de eus gabarolas, de pessoas que não estudando concluíram certezas: são os “cidaDeus” que não entendem que há outros. Os cidaDeus falam haka, ligam o telemóvel alto em restaurantes, colocam colunas de música na praia, estacionam frente a garagens, furam pneus para castigar compradores, pressionam condutores mais lentos.
Claro que a maioria destes eus é internauta e ulula despido, ou insulta sem travões. Há cidaDeus woke e há os que o não são. Pegam-se num fanatismo cansativo que está a desmerecer as redes sociais. O inaceitável para cada um baixou de limiar, e agora basta um sussurro, um vislumbre, uma vírgula mal colocada para choverem perfis falsos e perfis verdadeiros carregados de ódio, língua de fora, palavrões, perfídia.
Os trolls fabricam-se a pedido dos partidos. Um troll só tem direitos e sensibilidade; para os outros é toca a lavrar. Vêm desestabilizar, enfurecer, provocar os incautos que ousaram deixar a opinião. Desde 2014 com a cultura woke este fascismo tem tomado a governação da Europa que agora está a viver o ateísmo aos cidaDeus. Uma onda de direita já conquistou a Dinamarca, a Finlândia, a Itália, a Suécia, e é uma força crescente em França, Portugal, Espanha, Alemanha.
A vitória dos novos ateus existe há vários anos na Hungria e Polónia. Comedimento é a palavra-chave para este problema, bom senso é essencial para alterar este percurso, mas o que não serve mesmo é o cinzentismo do PSD, a falta de posicionamento daqueles que estão exaustos dos cidaDeus que falam haka e tem por ideologia o woke.
Diogo Cabrita é médico
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