Vamos estar sucumbidos pelo relato preliminar da comissão de inquérito parlamentar ao caso TAP e sobretudo às indemnizações milionárias. Vamos estar a conjecturar sobre a honorabilidade, a ética republicana, e sobretudo a dívida de gratidão.
Serventuários do poder, com baixa literacia, com falta de experiência de vida, vão ascendendo à nata dos partidos. Gente que sozinha não se guindou a lugar nenhum consegue o apoio dos chefes da matilha e sobe. Sobe, sobe balão sobe.
Deste modo tivemos a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o inquérito que poupava Vara e tantos outros. Ilibados! Já vão décadas socialistas, mas entretanto a justiça parece ter cumprido a sua missão independente, e levou-os ao presídio.
Lembram-se da comissão sobre os submarinos? Sem culpa! O mesmo que a comissão sobre a ponte de Entre-Os-Rios e sobretudo a dos Carvalhos no Funchal? Ilibados! O Carvalho matou 13 pessoas enquanto dançava, sem incúria e sem maldade.
Houve também uma comissão sobre Pedrógão que assacou culpas aos raios da tempestade seca. Não limparam, não cuidaram, não preveniram, mas o raio que o parta! Ilibação.
Lembram Tancos? O culpado era do mexilhão. Houve uma Comissão sobre o BES onde se riu o Berardo, onde não se lembrava de nada o melhor CEO português – o Bava. O Bava até foi condecorado pelo Estado, enquanto roubava milhões, se premiava pelos maus negócios e destruía a PT. Recordo Comissões onde o Alzheimer era petulante – com Victor Constâncio fomos ao rigor de como esquecer a catapulta jornada milionária em Bruxelas. Agora está cheio de demência o Salgado. Também na TAP havia muita dificuldade na memória. Ilibados! Como não?
O caso mais interessante é que foi rápida a indemnização do emigrante morto às mãos do SEF, mas não há indemnizações a quem morre à guarda do Estado nas cadeias, não há indemnizações céleres em Pedrógão, Oliveira do Hospital, vítimas do desvario da PT e BES, vítimas de iatrogenia no SNS, vítimas de atropelamento por carros do Estado com ministros dentro. Ilibados!
O problema não são as comissões, mas o modo como elegemos estas pessoas. Temos de pensar nos círculos uninominais, temos de impedir o aconchego dos líderes aos medíocres, temos de criar círculos nacionais onde votamos as pessoas, onde escolhemos mérito e carreira.
Esta é uma democracia doente que serve os interesses da geração que agora está no poder após substituir a geração de Abril.
Carregados ao colo pelo sampaísmo, por uma esquerda trauliteira, uma agenda ideológica só de palavras, um complot de domínio do aparelho de estado, impediram reformas profundas, criaram constrangimentos ao mérito, impulsionaram a gestão por normas e regras em vez de liderança competente.
Criando normativos e certificações, qualquer um pode chegar ao poder de modo protegido e balizado, não tomar decisões fora do protocolo e, desse modo, pára o normal funcionamento do Estado. Um líder decide, assume responsabilidades, tem memória, cumpre as suas funções, exige e deve ser vigiado por quem o escolheu com lucidez e transparência. Os outros serão sempre ilibados!
Diogo Cabrita é médico
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