Tinta de Bisturi

As duas TAPs que nos custou o fecho da Central do Pego

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por Diogo Cabrita // Julho 17, 2023


Categoria: Opinião

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No dia 30 de novembro de 2021 fechou a Central Termoelétrica do Pego. Estava a funcionar há 28 anos, sendo uma das mais modernas e menos poluentes da Península Ibérica e da Europa.

Apesar do desemprego, da redução de actividade social, e mais fuga de gente daquela região, o encerramento não contou com a firme oposição do presidente da Câmara de Abrantes, Manuel Jorge Valamatos que cumpriu com o seu papel de membro do partido do Governo: concordou, compreendeu, e lavou-se de esperanças no futuro!

Central do Pego. Foto: Medio Tejo

Apesar de renovada tecnologicamente há poucos anos para ser menos poluente, e mesmo com a subida galopante dos preços da energia (no mercado ibérico subiu, em menos de um ano, de 30 euros por MWh para 281 euros), o Governo manteve a sua decisão política. Uma escolha ideológica que não teve em conta custos nem consequências. Havia que cumprir a meta de Bruxelas no Plano Nacional para as Alterações Climáticas.

A central a carvão do Pego, que era responsável por 4% das emissões do país, foi a instalação com o segundo maior peso nas emissões de dióxido de carbono em Portugal na última década, a seguir à Central Termoelétrica de Sines, cujo encerramento ocorreu em Janeiro de 2021. Em termos absolutos, a média anual de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) pela central do Pego entre 2008 e 2019 foi de 4,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono.

Os impostos com relevância ambiental em Portugal corresponderam em 2021, a 5,0 mil milhões de euros. São os impostos cobrados pelo consumo de energia que tem vindo a regressar aos valores pré pandemia e com tendência a aumentar. Em Portugal, o turismo que aporta em navios colossais (os paquetes) é já responsável por mais GEE do que todo o parque automóvel de Lisboa, Porto, Braga e margem Sul do Tejo juntas (mais poluentes que o Pego a trabalhar).

Manuel Jorge Valamatos, presidente da autarquia de Abrantes. Foto: Médio Tejo

José Grácio, presidente executivo da Trust Energy, accionista maioritário da Tejo Energia, que detém a concessão da Central do Pego está em conflito com o Estado, quer por ter perdido o concurso público para o futuro da Central, quer por entender que o encerramento foi um erro estratégico. Esperam-se batalhas legais antes da Endesa tomar posse.

Portugal pagou, em 2022, mais seis mil milhões de euros pela energia importada do que em 2012, sendo muita dela originária de centrais de carvão espanholas, francesas ou alemãs. O importante era reduzir a produção aqui nem que o custo fossem duas TAPs, o valor pelo qual a China Three Gorges nos comprou a electricidade, as tranches que fomos pondo no BES.

Somos um país pobre e com um povo taciturno e miserável que paga seis mil milhões por uma bandeira ideológica quando as emissões de GEE aumentaram em toda a Europa e inclusive em Portugal em 2023.

Quanto ao futuro da Central, o concurso deu como primeiro lugar a Endesa e segundo a GreenVolt. A Endesa tem como base o funcionamento a hidrogénio verde e afirma ir investir seiscentos milhões no Pego, mas com começo sem data. A GreenVolt garante que iria ter um projecto funcional ainda este ano e a evoluir ao longo dos anos para energia sustentável. 

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“O gás com efeito de estufa é um gás na atmosfera que actua de forma parecido ao vidro numa estufa: absorve a energia e o calor do Sol que são irradiados pela superfície da Terra, conserva-os na atmosfera e evitando que escapem para o espaço. Muitos GEE, são libertados de forma natural na atmosfera, mas a actividade humana acrescenta enormes quantidades, aumentando assim o efeito de estufa que contribui para o aquecimento global.”

De facto, temos de ir vasculhar fundo para encontrar os valores que justifiquem o discurso ambientalista cheio de hipérboles e de frases feitas sobre o impacto humano no aumento das temperaturas. Usam, frequentemente sem quantificar ou comprovar as palavras “acrescenta”, “aumenta”, “contribui de modo importante”, mas sempre omitindo os efeitos nefastos da própria Natureza – vulcões, fogos (o sector LULUCF – Land Use, Land Use Change and Forests que tem transitado entre emissor e redutor de dióxido de carbono) questões de rotação da Terra em maior ou menor proximidade do Sol (recordar o Afélio e o Periélio), o eixo de rotação da Terra, o efeito do dióxido de carbono no clima, “mesmo sabendo que o dióxido de carbono foi, provavelmente, muito alto no Ordoviciano Superior. No entanto, a subsequente queda do dióxido de carbono foi breve o suficiente para não ser registada no modelo GEOCARB, mas ainda assim baixa o suficiente (com a ajuda de um Sol mais fraco) para desencadear formações de gelo permanentes. Em outras palavras, foi uma era quente com um breve mergulho em um período frio, devido a uma coincidência de fatores.”

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Claro que me serve igualmente qualquer das teses em discussão, e fascino com a lição de Geologia Histórica de Richard Alley. Há um aparente aquecimento global e devemos ter o nosso contributo, sobretudo individual, reduzindo, comprando menos, gastando menos, viajando menos, tendo menos pets, diminuindo a pegada global. 

Preocupados com a ideologia mais do que com as contas públicas, somos conduzidos nestas penitências de baixos salários, cobranças abusivas de impostos sobre o trabalho, multas ambientais num mundo globalizado onde não castigamos os que competem connosco usando preços almofadados em zero cumprimentos, em total desrespeito de direitos humanos, animais e de Natureza.

Enfim, para que percebam o peso da ideologia nestas decisões onerosas para o contribuinte: em termos absolutos, a média anual de emissões de GEE pela central do Pego entre 2008 e 2019 foi de 4,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Um pequeno nada nas emissões nacionais ao longo desse tempo. Mas pagámos duas TAPs e o PSD não falou.

Diogo Cabrita é médico


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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