Estou a virar à direita? Talvez, com a idade.
Talvez pela mudança do lugar da esquerda woke.
Não porque seja racista – o meu sangue está carregado de mistura e diáspora sobretudo indiano e chinês;
ou fascista – sou pelos direitos humanos, gastei muito do que ganhei a apoiar quem precisava, a potenciar talentos, a defender causas, a montar associações de cidadania;
não porque seja machista – envio ao Ministério Público todas as suspeições de violência doméstica, agressores envergonhados que acompanham vítimas que são atendidas numa urgência onde tenha estado;
não porque não goste de animais – já dei comigo a enviar dinheiro ao IRA em dias em que me revolto com maus tratos;
não porque seja ignorante – apesar da noção que tenho da imensidão do que não sei!;
mas porque estou farto da idolatria esquerdista, da estúpida ideia de que a direita é sempre má, que não há violência inútil na esquerda, que os terroristas vermelhos são melhores que os da ultra-direita, que os ciganos têm mais direitos que deveres, que aos comportamentos gravemente danosos possa permitir-se prescrição, que a lei não se aplique a todos de modo coerente, que a legalização de imigrantes esteja fora de qualquer controlo, e Portugal se esteja a tornar uma plataforma de entrar na Europa, sejamos uma maternidade de converter o Mundo em europeus, que os impostos sejam os maiores de que há memória e os subservientes da esquerda não falem nisso, que o controlo da linguagem se esteja a fazer como uma medida progressista, que a impunidade comodamente se instale em Portugal, que a autoridade tenha perdido sentido com a colocação de uma manada de incompetentes em todos os cargos do estado.
Sim, por estas razões estou a endireitar.
Sim, por perceber como o PSD tem vergonha do seu lugar político no centro direita, a sua colocação clara na oposição a esta tomada de assalto ao estado democrático, estou a endireitar.
Com pena, mas com sentido revolucionário de perceber que essas esquerdas e direitas já acabaram, e hoje há novas fronteiras que nos separam!
Não esqueço como o PSD permitiu esta maioria absoluta ao deitar fora 100 mil votos do CDS para não manter a coligação.
Não esqueço como gastam mais cartuchos uns com os outros, que a fazer luta política, os do CDS, PSD e até Chega e IL.
Situado entre algumas liberalidades e uma imensa noção da importância do estado no equilíbrio da distribuição e da equidade, sou completamente contra águas privadas, EDP privada, educação e conhecimento oferecido para cumprir Estatísticas, Saúde e Justiça que não funcionam. Também sou a favor de colocar taxas sobre o enriquecimento escandaloso ou o inexplicável.
Não tenho tabus sobre a utilização privada para o bem comum. A garantia pública de segurança e justiça veloz e eficiente, medida em resultados incontestados. Sou anti-woke. Leio atento Peter Singer, José Carlos Ruiz, Daniel Innerarity, Giorgio Agamben e muitos outros, vivos que se debatem na intensidade do que é o pensamento contemporâneo, à espera de outros rumos, longe dos estereótipos do passado. A sociedade aberta luta contra os velhos inimigos!
Enfim, onde fico? Ando perdido entre estribilhos de esquerda e alguns gritos da direita.
Diogo Cabrita é médico
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.