Correio Trivial

Os incêndios são um negócio?

black and white abstract painting

minuto/s restantes


Esta é a pergunta que os portugueses fazem amiúde.

Na realidade, como se pode justificar o número de incêndios em Portugal.

Claro que o fogo pode deflagrar, em qualquer local, pelas mais diversas razões, e sabemos ser praticamente impossível evitar todas as ignições ao longo do país.

Mas quando, durante a noite, vários focos acontecem numa mesma mata, dificilmente se aceitará que não haja intervenção de mão criminosa.

Quando os especialistas analisam a situação conseguem apontar alguns problemas graves e de relativamente fácil solução.

Fire Fighters

Segundo um trabalho, do “Blogger” Francisco Lampreia, publicado em Agosto de 2022, “nas últimas duas décadas, de acordo com o relatório “O Mediterrâneo Arde”, de 2019, a média de área ardida do nosso país mais do que duplicou em comparação com a época de 1980 a 1989.

Será esse o resultado do surgimento de uma onda de piromaníacos em Portugal? Talvez.

Ou estará Portugal cada vez mais vulnerável a incêndios?

Se olharmos para o FWI (um índice de perigo de incêndio rural que quantifica o efeito da humidade do combustível e do vento no comportamento do fogo) de Portugal, disponível no site do IPMA, é possível ver que praticamente todo o país apresenta um índice de FWI muito elevado.”

A Polícia Judiciária, todavia, não descartava a hipótese de fogo posto.

O diretor nacional adjunto da Polícia Judiciária, igualmente em Agosto de 2022 (dia 18) revelava que, “este ano, está a registar-se um aumento das ignições” e informava que “com a época de incêndios ainda a meio, Portugal é, nesta altura, o terceiro país da União Europeia com a maior área ardida. Crimes muitas vezes cometidos por pessoas de idades diferentes, mas com um perfil semelhante.”

Aproveitou para, contrariando as notícias mais frequentes, garantir que “quando os alegados incendiários são presentes às autoridades, as medidas de coação aplicadas costumam levar a mais detenções do que noutros tipos de crimes.”

Por sua vez a TSF emitiu, a 4 de Março do corrente ano de 2023, uma reportagem intitulada “Metade dos incêndios florestais em Portugal tiveram origem criminosa”.

Outdoor Fireplace during Nighttime

O que deixava sobressaltado qualquer cidadão atento.

Segundo os jornalistas, “os dados revelados pela Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIFR) mostram que houve 4892 fogos com origem criminosa e foram detidas 51 pessoas pelo crime de incêndio florestal.

A AGIFR apresentou o relatório de balanço do ano onde adianta que se registaram em 2020, 6.257 autos, 4.892 crimes e 51 detidos por crime de incêndio florestal, num ano que existiram 9.690 incêndios rurais, dos “quais resultaram 67 mil hectares de área ardida”.

A questão que importava esclarecer era se o número de pirómanos, em Portugal, era mais elevado do que nos restantes países ou se, pelo contrário, os incêndios podiam ser “encomendados” a delinquentes e, nesse caso, por quem?

É que, se tal acontecesse, a prisão dos incendiários não resolveria, por si só, o problema já que seriam facilmente substituídos.

A solução seria, também aqui, seguir o rasto do dinheiro.

Tentar saber quem ganha com os incêndios.

A “vox populi” acusa, sempre, os madeireiros.

Qual a realidade?

bare trees on rocky hill under white sky during daytime

É verdade que, por exemplo, depois dos fogos em Pedrogão, o preço da madeira queimada baixou de modo acentuado (de 36 para 27 euros a tonelada, menos de 25%) mas com as Associações destes empresários, que a compram aos produtores, a garantir que os preços eram impostos pela indústria.

O Presidente da Associação de Produtores Florestais de Vila de Reis garantia que “É um mito que apareceu e ainda não morreu. Para os madeireiros isto não é nada interessante. Podem fazer um bom negócio agora, mas são precisos anos para que a floresta volte a crescer. Para quê aproveitar agora para comprar madeira queimada mais barata se isso acaba e se ficam anos sem nada, nada para ninguém?”

A notícia que, acreditava eu, iria ser um grande choque, mas que depressa foi esquecida, veio de Espanha, em 2017.

O Jornal “El Mundo” publicou, então, um artigo sobre os concursos para aquisição de meios de combate ao fogo em Portugal com o título “Quem ganha dinheiro quando arde Portugal?”.

Aí escrevia, preto no branco, que “Portugal recorre ao sector privado para ter apoio aéreo no combate aos fogos, mas que o problema, conhecido da Polícia Judiciária Portuguesa, está em que as empresas manipulam os concursos públicos o que, nos últimos 12 anos, teria rendido 821 milhões de euros.”

a red plane is flying over a mountain

Continuando sem se saber quem ganha muito com os fogos, podemos dizer, todavia, e com toda a segurança, quem ganha pouco: os Bombeiros.

Um Bombeiro Sapador aufere menos de mil euros por mês.

Um Bombeiro Voluntário recebe 2,5 euros por hora ou 61 euros por dia, mas desde que trabalhe as 24 horas!

Para além disso, claro, todos os elogios dos políticos que enchem a boca de extraordinários adjectivos sempre que qualificam o trabalho dos “Soldados da Paz”.

Vítor Ilharco é secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso


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