A comunicação social refere-se aos “Almoços do Isaltino”. Por respeito institucional não posso utilizar a mesma expressão.
Obviamente que não fiquei indiferente à notícia da “Sábado”, e se até ao momento me mantive publicamente em silêncio, tal facto se deve à necessidade de as coisas esfriarem e qualquer declaração da minha parte ou da Comissão de Trabalhadores da Câmara Municipal de Oeiras dever ser feita de forma serena.
E se o quebro agora é porque não poderia ficar indiferente ao artigo de opinião publicado [no PÁGINA UM] por Vítor Ilharco, secretário-geral da APAR – Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso, prenhe de lambe-botismo.
E como é que Vítor Ilharco branqueia os “Almoços do Isaltino”?
“Oeiras é um pequeno concelho com um tão grande sucesso…”
“Em quatro décadas passou de um dormitório de Lisboa, repleto de bairros de barracas sem saneamento básico (que desapareceram por completo), para o segundo concelho cujas empresas financeiras mais facturam (vinte e cinco mil milhões de euros, ano).”
“É o segundo concelho mais exportador de Portugal.”
“A Câmara de Oeiras é visitada, semanalmente, por políticos dos quatro cantos do Mundo, incluindo Presidentes, Primeiros-Ministros, Ministros, Embaixadores, Autarcas.”
Mais poderia transcrever; contudo, quem estiver verdadeiramente interessado que faça o favor de ler o artigo do secretário-geral da APAR.
Pena é que Vítor Ilharco não tenha feito uma “declaração de interesses”, nomeadamente qual o seu relacionamento pessoal e institucional com o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Oeiras e com o cidadão Isaltino Morais.
É verdade que o Senhor Presidente Isaltino Morais fez tudo o que é referido no artigo de Vítor Ilharco, que regularmente vêm a Oeiras diversas personalidades; porém, o que está em causa não são as refeições que possam ser classificadas como “despesas de representação” e/ou “ajudas de custo”, mas sim refeições do Senhor Presidente, dos Senhores Vereadores (alguns), de adjuntos, de assessores, de dirigentes e entre si.
O que Vítor Ilharco não refere, e para ser opiniosamente honesto deveria tê-lo feito, é que o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Oeiras recebe mensalmente Despesas de Representação no valor de 1.124,33 euros e cada vereador com pelouro aufere 599,65 euros (Remuneração dos Eleitos Locais 2022), o mesmo sucedendo com o Senhor Diretor Municipal referido na notícia, que aufere mais de 700,00 euros mensais em ajudas de custo!
Mesmo tendo liderado o Município de Oeiras com o sucesso conhecido, o Senhor Presidente Isaltino Morais não pode continuar a ser endeusado, a quem tudo se permite, a quem tudo se tolera.
As despesas divulgadas e não desmentidas, e algumas das ementas e acompanhamentos são um insulto a quem desesperadamente procura uma habitação, um lugar para dormir, porque se é verdade que o Presidente Isaltino Morais aproveitou os dinheiros vindos da então CEE para terminar com as “barracas”, não é menos verdade que a última construção habitacional social foi em 2002, na Portela de Carnaxide.
Ou seja, durante mais de 20 anos não se construiu, apesar das promessas feitas nos anos seguintes.
E agora “corre-se atrás do prejuízo”.
Poderia o secretário-geral da APAR ter falado dos investimentos ruinosos do SATU – Sistema Automático de Transporte Urbano de Oeiras, do LEMO – Laboratório de Ensaios de Materiais de Obras, EIM, SA (que alguns “iluminados” tiveram a ousadia de pretender que fosse um LNEC 2) e na HABITÁGUA – Serviços Domiciliários e Técnicos, EM, liquidadas já no mandato de Paulo Vistas (2013-2017).
Se o secretário-geral da APAR conhecesse minimamente o Município de Oeiras, saberia o que se passa na MUNICÍPIA, E.M. e na OEIRAS VIVA, E.M., artificialmente mantidas com as transferências financeiras do acionista Município de Oeiras.
Foram e são milhões de euros deitados à rua!
Vítor Ilharco inicia a sua prosa com a expressão “Está difícil a vida para alguma comunicação social”.
Eu remataria “Isaltino pôs-se a jeito”!
E por aqui me fico.
Helder Sá é coordenador da Comissão de Trabalhadores da Câmara Municipal de Oeiras
N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.