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Rubiales: entre o feminismo e a hostilidade aos homens

silver bell alarm clock

por Maria Afonso Peixoto // Setembro 1, 2023


Categoria: Opinião

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No auge do movimento MeToo, Marianne Williamson, uma escritora norte-americana e candidata presidencial pelo Partido Democrata nas últimas eleições, fez uma publicação na sua página de Facebook em que alertava para os excessos do clima persecutório instalado em relação aos homens, dizendo que, no que toca ao assédio, “existe uma diferença” entre um “criminoso” e um “idiota”.

Choveram críticas por parte dos seus seguidores. Dias depois, Williamson revelou ter sido vítima de violação na sua juventude. Aqueles que se apressaram a julga-la só podem ter engolido em seco ao saber que a autora tinha sido vítima, não de um mero “idiota” que lança um piropo indesejado ou se atreve numa investida um pouco mais arrojada, mas, efectivamente, de um crime horrendo e cobarde.

O beijo de Rubiales é uma situação que se encaixa na perfeição à advertência de Williamson. Não sei se Rubiales é um idiota – talvez! –, mas muito dificilmente se poderá, racional e honestamente, acusá-lo de ter cometido um crime.

 As feministas radicais, inebriadas como sempre pela sua misandria, sôfregas por qualquer pseudo-escândalo que sirva de oportunidade para gritar aos quatro ventos os chavões do “machismo tóxico” e “patriarcado opressor”, aproveitaram o caso Rubiales para se lançarem uma vez mais num apedrejamento público digno da Idade Média.

Com o respaldo da comunicação social, que sem despudor se posiciona sempre no mesmo lado da barricada – o do feminismo bacoco hegemónico –, e das verdades absolutas, enquanto finge ser imparcial e democrática, o assassinato de carácter de Luis Rubiales, sem qualquer direito a defesa no “tribunal” da opinião pública, é já irreversível.

Na CNN, há poucos dias, a directora da Visão, Mafalda Anjos, afirmava que são muitos e variados os exemplos de beijos e afectos públicos não consentidos, mas, para provar o seu argumento, precisou de ir buscar um caso ocorrido há 20 anos, entre Halle Berry e Adrien Brody numa cerimónia dos Óscares. De facto, nada mais demonstrativo de uma “pandemia” de assédio, do que ter de reportar-se a um episódio que se passou há duas décadas!

Ainda assim, mais confrangedor do que ver feministas militantes e jornalistas de órgãos de comunicação social falidos nas suas habituais pregações, tem sido assistir à quantidade de homens que se perfilam para arrasar Rubiales numa mesquinha sinalização de virtude. Será este fenómeno inverso da mítica “solidariedade masculina” um espelho da progressiva queda de testosterona entre os homens, nas últimas décadas?

É também de salientar a hipocrisia a que, de resto, este wokismo já nos tem habituado. Há menos de dois anos, a famosa cantora brasileira Anitta, afirmou que escolhera um bailarino apenas porque queria ter relações sexuais com ele, e não consta que tivesse havido na nossa praça qualquer manifestação de repúdio. Também aqui estava em causa uma relação de “subalternidade”. Imagine-se se Rubiales tivesse proferido semelhantes palavras – cairia o Carmo e a Trindade.

Mostra-se, pois, evidente, que os casos “espontâneos” de demonstração de desejo pelos homens por parte de mulheres não merecem a mesma pronta condenação dos arautos da “igualdade”. Quando muito, são aplaudidos e vistos como um sinal de empoderamento.

Devemos, por isso, perguntar-nos a que se deve esta duplicidade de critérios, quando o que se alega é defender a paridade de tratamento entre os sexos. Hoje, aliás, ao contrário do que o wokismo nos quer fazer crer, a masculinidade é vilipendiada, desdenhada, alvo de chacota, tanto em séries da Netflix, em livros, como na comunicação social e todos os espaços mainstream.

Para deitar mais achas para a fogueira, a propósito do vídeo que tem circulado de Jenni Hermoso, no autocarro, a rir-se do beijo juntamente com as colegas, a comunicação social tem-nos também brindado com supostas “análises” psicológicas. Dizem os “especialistas”, ouvidos pela CNN, que a amena cavaqueira, em que Hermoso participou, se enquadra num “mecanismo de defesa”. Não sendo de descartar essa hipótese, é pertinente questionar por que motivo a imprensa se presta a estas “cambalhotas” argumentativas para determinar que Hermoso é uma vítima indefesa?

Tendo em conta a “caça às bruxas” (ou aos homens), e os exageros que o movimento MeToo inaugurou, parece que, longe de uma preocupação genuína com as mulheres, esta gigantesca onda de indignação com o chocho de Rubiales brota, de facto, de uma hostilidade arreigada aos homens.

statue of angels

Mais: apelar à criminalização do beijo de Rubiales e Hermoso – o qual, aliás, inicialmente não suscitou qualquer queixa por parte da jogadora – é um desrespeito para com verdadeiras vítimas de abusos sexuais.

Qualificar este incidente, que, no máximo, foi um disparate imponderado, como um crime sexual, seria apenas absurdo, se não fosse também perigoso, por arruinar, quiçá injustamente (quem não se lembra do caso Johnny Depp – Amber Heard?), a vida e a carreira de um homem, sem apelo nem agravo.

Maria Afonso Peixoto é jornalista


N.D. Os textos de opinião expressam apenas as posições dos seus autores, e podem até estar, em alguns casos, nos antípodas das análises, pensamentos e avaliações do director do PÁGINA UM.

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